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Cronicas-->A jabuticaba do vizinho -- 22/12/2003 - 14:18 (Leonardo de Oliveira Teixeira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A jabuticaba do vizinho (publicada dia 10/12/03)
Leonardo Teixeira

escritorleo@ibest.com.br



Para descansar a visão curta e limitada das paredes do apartamento, nos fins de semana costumo frequentar o quintal da minha sogra. Todo quintal conecta o homem ao solo, possibilita a visão do céu, ainda que cinzento de fumaça dos escapamentos, e a visão de algo verde, ainda que tenha concreto em demasia. Essa é a lei.

Outra lei arraigada aos nossos costumes, de origem romànica, refere-se à divisão dos muros vizinhos, já que segue uma linha vertical imaginária, ou seja, a árvore do vizinho que "invade" o território do outro, pertence a este outro, podendo usufruir os frutos ou até mesmo podar esse excesso.

Outubro, em pleno mês da primavera, as jabuticabeiras mais apressadas já estão produzindo as doces circunferências negras. Há quase um mês venho acompanhando as flores e o desenvolvimento dos pequenos frutos verdes. Uma imagem deixou-me inquieto: uma jabuticaba crescia mais que as outras, e foi a primeira a amadurecer.

A primogênita causou-me uma estranha movimentação no estómago, os olhos aguçaram faíscas cintilantes, a boca começou a salivar a vontade doce, e, por fim, o cérebro ficou anestesiado com a esperança do sabor. A paciência realmente é um teste arrojado. Somente na próxima semana ela estaria pronta. Única, circular, perfeita, do tamanho de uma bola de pingue-pongue.

Os afazeres da semana cuidaram para distrair-me. Na madrugada de sábado sonhei que estava numa piscina de bolas de jabuticaba, dessas que as crianças brincam; mas confesso que nunca entrei, mesmo na idade mais pueril.

Domingo é dia tranquilo, o trànsito mais calmo, era o dia da colheita. A jabuticaba estava apetitosa, com riscos vermelhos, quase se arrebentando. Eu já não aguentava mais. Vantagem: ela estava no tronco que passava sobre o muro, invadindo o solo em que eu pisava, com toda a soberania.

Pensei: não há ninguém aqui, o sol já está baixando, semipenumbra. Não se trata de furto famélico, já que a fruta invadiu o lote; pertencia, por direito, ao meu domínio. Cheguei mais próximo e estiquei o braço para alcançá-la com sucesso. Entretanto, uma mão vizinha ordinária, que surgiu do nada, surrupiou-me abruptamente a fruta, nem se dando conta do despautério. Minha mão voltou murcha e atrofiada, não acreditando na coincidência terrível que vitimara um sonho, uma expectativa, um desejo e um sabor ainda ausente. Minhas pernas voltaram amuadas, sem a menor graça. Perdi a vontade e voltei ao apartamento isento de verde, salvo um vaso de violetas e uma gérbera que pende curiosa para o lado de fora da janela.

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