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Contos-->A viuva virgem -- 11/05/2005 - 22:57 (Mauro de Oliveira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A viúva virgem



Sentado no banco à beira mar, Orígenes relembrava os últimos quinze anos de sua vida. Hoje era aniversário da morte de sua querida Almerinda. Era um mês de junho chuvoso além do normal. O enterro saíra debaixo de chuva do velório até a sepultura. Uma centena de amigos acompanhou o féretro de Merinda, pois era assim que todos a chamavam.A chuva era lágrima do céu, dizia Brasilino, seu melhor amigo desde que chegara a Pernambuco. Orígenes não tinha parente. Fora criado por uma tia avó em Teresina já com idade avançada, e logo que ele conseguira passar no concurso do Banco do Brasil ela faleceu. Merinda era filha da vizinha e fora seu consolo logo que ficara só. Ela era filha adotada por um casal de idosos. Como Orígenes seus pais logo se foram. O pai era funcionário público aposentado e vivia de umas economias que receberam de herança e a parca aposentadoria.
Com o falecimento da sua tia, Orígenes fez pouso na casa de Almerinda. Sua vida se resumia de casa para o Banco, do banco para casa e a noite ia conversar com os velhos e Merinda. Na época Merinda tinha vinte anos e Orígenes vinte e cinco.Era uma moça morena, bonita de cabelos longos e feições delicada.Aos poucos a amizade foi se transformando em amor e logo estavam namorando. D. Terezinha e Seu Afonso faziam gosto do namoro da filha. A felicidade dos namorados e o apoio dos pais faziam dos quatro uma só família. Felicidade dura pouco e temos que aproveitar dizia Seu Afonso, prevendo que não teria mais tanto tempo de vida. O casal já ultrapassara os oitenta anos e ambos tinham a saúde debilitada. Por conta disso, Seu Alfonso que fora escrivão de cartório, resolveu passar os poucos bens que possuía para o nome de Almerinda, a fim de evitar transtornos após a sua morte. Duas casas, sendo que uma era a sua moradia, e alguns cruzeiros numa caderneta na Caixa Econômica. Por sua vez, Orígenes tinha a casa da Tia e o belo emprego no Banco do Brasil.
Um dia Seu Afonso chamou Orígenes em particular e propôs que ele se casasse com sua filha já que se gostavam e ele queria antes de morrer ver sua filha encaminhada na vida.Parecia que o velho estava adivinhando. Um mês depois Orígenes pediu oficialmente Merinda em casamento e marcaram o casamento para dali a seis meses. Casou-se no mês de dezembro e foram passar lua de mel na praia de Gaibu em Pernambuco. Ficaram radiantes com a praia e com a cidade do Recife. Como na época o dinheiro estava curto, em quinze dias voltaram para Teresina para morar vizinho aos pais na casa que herdara da sua tia.
Conforme os presságios de seu Afonso, ao chegarem encontraram Dona Terezinha muito doente. D. Terezinha teve um AVC e estava paralítica do lado direito. Perdera a fala e só reconhecia o Seu Afonso. Um mês depois a velhinha faleceu. Merinda e Afonso passaram pelo mesmo sofrimento de dois anos atraz com a perda de sua tia. Seu Afonso entrou em depressão, não sentia vontade comer e aos poucos foi definhando. Ficou tão fraco que teve ser internado para tomar soro. O médico alertou ao casal que a situação era grave, já que ele não respondia com nenhuma melhora apesar dos remédios. Merinda ficava o dia todo com o pai e a noite Orígenes a substituía no plantão.Com um mês de hospital Seu Afonso faleceu.
Ao voltarem do cemitério resolveram que não ficariam mais em Teresina. Orígenes começou a cavar uma transferência para Pernambuco. Por sorte fora promovido a Gerente e em menos de um ano já estavam em Recife. No princípio alugaram um apartamento em Boa Viagem, já que a praia em sua terra ficava a 400 quilômetros de distancia.
Logo que chegou ao enquanto ainda estavam no hotel, conheceram Brasilino Pátria Amada, Tabelião Substituto de um cartório na Rua do Imperador. A simpatia de Brasilino, solteirão inveterado, prestativo e bom papo, fez com florescesse uma grande amizade. Brasilino providenciou as assinaturas no cartório e até ajudou ao casal na procura do apartamento. Como era um homem muito prestativo, culto e engraçado, quando o casal terminou a mudança passou a freqüentar o lar de Orígenes. Levou o casal para conhecer a cidade e as praias mais bonitas do estado.
O Brasil vivia a ditadura de 64 e Brasilino tinha que manter o bico calado no cartório para não perder o emprego. Embora o casal fosse neófito em política aos poucos Brasilino com suas pregações fez uma lavagem cerebral esquerdista nos seus amigos. No apartamento podia falar a vontade hora em que destratava o governo e podia desabafar a sua revolta. Formara-se em Direito com a idéia de um dia ser o dono do cartório, já que a “redentora” acabara com a vitaliciedade dos Tabelionatos. No cartório, no entanto, assumia uma personalidade diferente concordando com os puxa-sacos do governo. Por conta disso era conhecido como Brasilino Pátria Amada. Fora do cartório fazia seu terrorismo de produção independente, pichando muros, soltando panfletos pela madrugada em nome do Partido Comunista. Pessoalmente não tinha partido nem nenhuma inclinação política. Queria sim derrubar o governo. Nas eleições sempre conseguia um jeito de que a urna em que votava fosse anulada. Ora colocando cédulas falsas, ora colocando bichos esmagados na fresta das urnas. Morava em um apartamento próprio de dois cômodos muito bem equipado visinho a Vila Militar no Bairro da Boa Vista. Aqui e ali se amancebava com uma vagabunda e depois promovia a ação de despejo amorosa. No prédio apresentava como noiva, o que deixava os condôminos puritanos com as barbas de molho. Na época tal atitude era muito suspeita e diferente dos dias atuais. Tinha uma boa biblioteca e comprava muitos livros já que era sua diversão principal.
Depois de dois anos no Recife, Orígenes e Merinda resolveram ter o primeiro filho.Aparentemente os dois não tinham problemas, no entanto quando foram ao médico tiveram uma triste notícia. Depois de fazer todos exames ficou constatado que Orígenes era estéril por conta de uma caxumba mal cuidada na adolescência. Por orientação de Brasilino resolveu criar uma menina de um ano, filha de uma faxineira do Banco do Brasil que tivera uma gravidez indesejável. Brasilino aconselhou a não fazer a adoção até que a mãe tivesse a consciência perfeita de seu ato e a menina se adaptasse com o casal. Marinalva era seu nome de batismo. Até os quinze anos a menina foi educada nos melhor colégio e era a alegria do casal.
Na festa dos quinze anos Marinalva modificou-se. No dia da festa apresentou o seu namorado aos pais adotivos. Uma figura pra lá de estranha. Cabeludo, barbudo e com aparência de sujo, falava em gírias e ainda na festa tirou o maior sarro na sua namorada a vista dos pais e convidados. Por duas vezes Merinda chamou-a em particular advertindo-a e afirmando que o que ela estava fazendo e deixando fazer era uma pouca vergonha. Aos poucos os convidados foram se retirando e Orígenes e Merinda envergonhados terminaram por fim a festa antes do prazo.
A partir daquele dia o casal viveu um inferno até o dia em que Marinalva desapareceu aos dezoito anos e nunca mais foi encontrada, apesar das diversas pessoas influentes que os ajudaram na busca.
O desaparecimento de Marinalva afetou a saúde de Merinda. Emagreceu, muito e seus cabelos branquearam da noite para o dia. O médico recomendou que seria bom o ar das montanhas ou uma praia distante para diminuir o impacto emocional. Orígenes resolveu então comprar um sítio em Camucim de São Félix que pertencia a um colega do banco. Logo que tomou posse, tirou três meses de licença premio e se mudou para o sítio. Nos fins de semana Brasilino comparecia e eles conversavam muito. Aos poucos Merinda foi melhorando o astral, cultivando plantas ornamentais, enquanto Orígenes plantava algumas fruteiras e um canteiro de hortaliças. Embora se queixasse de dores físicas em quase todo o corpo, o ar puro e a vida diferente terminaram pondo fim à depressão. Terminada a licença o casal voltou para Boa Viagem, para um apartamento próprio na Praia de Piedade. Tudo foi tramado e resolvido através de Brasilino que encarregou até da decoração. A surpresa de Merinda fez remoçar uns dois anos. Foi tanta a felicidade que passou vários dias cantarolando e praticamente esqueceu das dores que tinha no corpo. Orígenes era agnóstico embora Merinda fosse uma católica praticante. Durante os piores momentos do desaparecimento de Marinalva e durante a depressão de Merinda, Brasilino aconselhou Orígenes a ir a Igreja com ela, pois assim poderia ao tempo em que fazia um gosto para mulher ele também tomasse para si algum sentimento religioso. Orígenes comparecia as missas, mas conversava com Brasilino que estava apenas conseguindo agradar a mulher, porque ele, pessoalmente continuava não acreditando em nada. Brasilino por várias vezes lhe disse: Sou um católico vagabundo, mas acredito em Deus e sei que pagarei caro quando for despejado desse mundo. Nas minhas horas de dificuldade é no Criador que me apoio. Quando passa a tempestade volto para esbórnia e me esqueço que ele existe.
Em pouco tempo os médicos descobriram que Merinda tinha uma doença incurável e que sua vida estava por um fio. Pouco a pouco ela foi perdendo as forças até ser hospitalizada.
Em menos de quinze dias entrou em coma e faleceu dois dias depois.
Brasilino como seu fiel escudeiro, foi aquele amigo de todas as horas. Tentava levantar por todos os meios levantar a moral do cabisbaixo amigo. Ouvia suas lamúrias e blasfêmias pacientemente. Deixava-o desabafar, contar sua vida infeliz contanto que isso permitisse que Orígenes voltasse a viver. Certa feita quando voltaram do trabalho Orígenes teve um acesso de desespero e disse: Onde está o teu Deus que me colocou nesse mundo sem pai? Onde está teu Deus que me tirou o direito de ter um filho que era a coisa que mais desejava? Onde está teu Deus que levou a única mulher que amei na vida, que me deu uma família pequena e mesmo assim levou um a um sem nunca tivesse o prazer de conviver? – Pára! Gritou Brasilino. – você não é o primeiro nem será o último que perde toda família. Você se acha um desgraçado, mas existe gente muito pior. Sofrendo nos hospitais, morrendo nas guerras, e principalmente sendo injustiçado pelos homens e não por Deus. Quantos presos políticos estão agora a amargar a tortura e a distancia de suas famílias? Por que estão presos? Por discordarem dessa ditadura imunda, repleta de milicos sádicos e políticos covardes e adesistas! Qual é o pior é não ter uma família ou ter, mas ser privado dela injustamente? Seu sofrimento é muito grande, irreparável, mas não é um sofrimento moral, perda de liberdade sem cometer crime. Se não acreditas em Deus, então nada podes cobrar dele. Deixe Deus em paz que um dia quando o tempo passar verás que não fostes o homem mais infeliz dessa terra. Procura outro caminho, volta a tua vida, vai para o teu sítio plantar tuas árvores. Lê, vai ao cinema, procura novas amizades. A felicidade tem um preço, e o preço é o sofrimento. Depois da tempestade vem a bonança. Se achares que tua vida sempre foi uma tempestade, podes crer que dias melhores virão. – Orígenes ficou estupefato com o grito de Brasilino e a verborréia seguinte. Pela primeira vez seu fiel amigo gritou com ele e discordou da maneira agressiva das suas palavras. Foi como um choque térmico em seus sentimentos. Ao chegarem no apartamento, Orígenes desabou um choro convulsivo até secar as últimas gotas de lágrimas. Sentiu-se melhor, mais leve e menos desesperado.
O tempo fez com que Orígenes fosse aos se conformando. Um dia confessou a Brasilino que se casara virgem do mesmo modo que Merinda. Fora influencia da tia que o criara e sempre dizia que tudo com respeito a sexo era pecado. Como homem normal sentia falta de mulher, mas para agradar a tia, se manteve invicto até o dia do casamento. Confessou ainda que enquanto esteve casado, nunca lhe passou pela cabeça trair a sua mulher. Agora estava sem mulher e muito precisado dela. Não tinha coragem de fazer o que Brasilino fazia e não achara nenhuma mulher interessante nos seus seis meses de viuvez.
Os anos passaram, veio à aposentadoria e Orígenes continuava solteiro e puro. Por diversas vezes Brasilino o levou para as farras de comemoração da aposentadoria que ele também conseguira. Brasilino arranjou um emprego de vendedor de alimentos só para encher a vida nos intervalos das noitadas. Enquanto isso Orígenes se dedicava ao sítio com suas fruteiras e umas cabrinhas de estimação que ele mesmo cuidava. O pé de meia que conquistara nos anos de trabalho servia folgadamente para mantê-lo com suas experiências no sítio. Além disso, comprara dois apartamentos na Praia de Muro Alto. Um ficava a sua disposição e o outro era alugado no pool do Hotel. O que ganhava com um pagava a despesa do outro. De vez em quando acompanhado de Brasilino e suas “amigas” passavam o fim de semana na praia. Como sempre as “meninas” não conseguiam atrair a simpatia de Orígenes.
Certo dia quando os dois conversavam no apartamento de Brasilino, Orígenes declarou que estava preocupado com o futuro. Estava ficando velho, não encontrara uma companheira para casar e tinha que pensar para quem deixaria o seu patrimônio. Brasilino logo perguntou porque ele nunca se engraçara de nenhuma mulher que ele lhe apresentara. – Brasilino, eu quero casar com uma mulher virgem entre trinta e cinco e quarenta anos, que seja engraçada, simpática e que tenha um comportamento como a minha Merinda. Não aceito essa coisa de namorar, e ir para o motel e depois casar. Quero uma pessoa pura, não uma garotinha que está afim de sexo e festa. Não é do meu temperamento suportar essa nova tecnologia sexual.
Certo Orígenes entendi o seu recado. Você quer uma mulher meia vida, que nunca foi bolinada e que esteja a espera do príncipe encantado. Só tem um lugar para você encontrar esse espécime em extinção. Sabe onde é? – Nas Igrejas Evangélicas. Lá você encontrará muitas vestidas do pescoço ao joelho, que não freqüentam festas nem bares, e as noites só vão ao culto. O problema é que você só vai poder escolher a cara, porque o material abaixo do pescoço fica oculto. Normalmente elas não usam uma calça cumprida apertada, ou uma saia curta, o que dificulta você saber a rigidez e a qualidade do material, principalmente quando se trata de uma criatura de meia vida. – Estou falando sério Brasilino! Não me venha com suas ironias e safadezas. – Nunca falei tão serio em minha vida! Respondeu Brasilino. – Não me diga que você quer casar com mulher sem conhecer as curvas e o teor das carnes. Você precisa de uma mulher para companhia, mas também precisa de sexo. Faz quinze anos que você não experimenta do que é bom. Às vezes eu penso até que você virou boiola. Nem na guerra a turma agüentava tanto jejum. Você pode entrar no gness por se manter casto e puro por tanto tempo. Acho que você podia até ser padre porque esse é o maior problema deles. Vá a uma Igreja Evangélica, faça uma vistoria que estará no caminho certo. Ali você talvez até comesse a acreditar em Deus, que é seu maior problema. Es um homem rico, tens tudo que precisas, mas te falta o principal. A fé, o sobrenatural, aquilo que só aquele que entendem Deus podem sentir. Nunca viu na televisão os sertanejos que passam fome, vivem na miséria, moram em casa de taipa, e para conseguir a água de beber andam cinco, dez e até vinte quilômetros para arranjar uma lata de água barrenta! – Nunca viu o que eles dizem aos repórteres catadores de miséria? – Se Deus quiser, para ano vai chover e vai ser um ano de fartura. – È a fé meu irmão! Isso que você nunca teve e que sua tia Leontina não conseguiu colar na tua cabeça.
Jacicleide contou a mãe que um novo vendedor muito falastrão havia conversado com as suas colegas a respeito dela. Segundo as meninas ele procurava uma moça virgem mais ou menos da idade dela que fosse recatada e disposta a casar. O dito vendedor tinha uma cara de safado, era solteiro, mas muito simpático. Ele falou que o amigo era viúvo, rico e muito correto. O nome dele é que era uma lástima. Orígenes. O tal do Seu Brasilino, disse que ela seria a mulher ideal para o tal do Orígenes.
Jacicleide nunca tivera um namorado, apesar de ter aparecido muitos pretendentes. Na adolescência passara por um trauma de uma irmã que havia engravidado com o namorado e este nunca dera a mínima pela sua sobrinha, que ela, Jacicleide, criava como se fosse seu filho. A morte de seu pai logo após o ocorrido, criou um cadeado em Jacicleide com relação aos homens. Entrou para igreja Evangélica e não quis mais conversa com homem. Para ela todos só queriam se aproveitar o bastante e depois cair fora. Por conta disso o tempo foi passando até passar dos trinta e cinco, idade em que as virgens começam a sentir um calor insuportável mesmo nas noites de inverno. Preocupada com o problema, caiu na besteira de confessar o problema para as colegas de trabalho, a maioria casadas ou juntadas, mas com um cobertor de orelha para as noites frias e quentes. Suas colegas começaram a gozação chamando-a de donzela, queijuda e outros adjetivos menos recomendáveis e dando a entender que a virgindade fosse crime ou doença. Depois de algum tempo passou a investir na paquera, mas nunca mudou seu vestuário para mostrar o material viçoso que as roupas antiquadas escondia. Por conta disso os pretendentes que apareciam eram da pior qualidade. Achavam que estavam fazendo um favor e queriam ir diretamente para os finalmente sem perder tempo nos, entretanto. O desespero levou-a a falar publicamente dos seus problemas. A cada dia se desesperava mais e inconscientemente deixava a vista de qualquer pessoa o seu problema. Brasilino, macaco velho em virgens militante juramentada, percebeu claramente o que Jacicleide precisava. Passou a observa-la da cabeça aos pés e viu que aquele rosto triste, mas bonito, escondia um corpo sensual e um fogo pra lá de ardente. Noites de insônia e delírios por um homem inimaginável. Houve alguns dias que se posicionava na cadeira para tentar um pequeno lance dos joelhos que seguiam aquela perna bem torneada, que se obscurecia pelo vestido inadequado. Acima dali admitia que houvesse cochas roliças e um violão de cintura que bem manejado poderia ser o ponto G de uma noite de orgias e entretenimento. Subindo um pouco mais, procurou com seus olhos safados dimensionar o tamanho dos seios e sua rigidez. Ao cabo de alguns dias depois de inspecionar vários vestidos, chegou a conclusão que aquelas glândulas mamárias serviriam não só para uma boa prole como também para uma infinita noite de amor. Pensou até em se candidatar ao belo troféu. Depois ficou com medo de perder a sua liberdade e resolveu que aquela irmã era a pessoa ideal para o Orígenes.
Do outro lado o desesperado Origines pegou o conselho de Brasilino e escondido dele e de alguns amigos procurou uma Igreja Evangélica em Jaboatão para freqüentar o culto.Por aquelas bandas seus amigos não apareceriam e não serviria de gozação para ninguém. Logo no primeiro domingo descobriu uma moça na idade que desejava. Ficou um tanto atarantado em face de todos na Igreja se conhecerem e logo ele foi percebido como um alienígena daquela comunidade. Primeiro pelo vistoso carro que estacionara no outro lado da Igreja e depois por suas roupas ricas em relação aos freqüentadores. A curiosidade da irmandade se aguçou quando o despreparado Orígenes sem saber o que fizesse, na hora da contribuição sacou duas notas cem reais e colocou na sacolinha. Ao término do culto retirou-se imediatamente para não ser alvo da atenção dos curiosos. Se o incomodo de sentir-se isolado lhe fez tremer nas bases, a imagem da morena de cabelos compridos lhe deu uma sensação de volta aos bons tempos do passado.Na volta para Boa Viagem ficou relembrando com cuidado todos os detalhes da moça, inclusive o principal e mais importante. Não usava aliança em nenhuma das mãos. Em momento algum seus olhares se cruzaram, mas ele tinha certeza que fora visto por ela, já que todos daquela pequena Igreja haviam olhado para ele.
Durante a semana achou que deveria comprar uma Bíblia para não entrar de mão abanando seguindo assim o princípio de todos Evangélicos da Assembléia de Deus. N a segunda feira foi a uma livraria especializada e comprou uma bem simples para não chamar atenção. Depois resolveu ler alguma coisa, pois caso fosse inquirido pelo Pastor Jazon não saberia o que falar. Durante toda semana evitou encontros com Brasilino e resolveu estudar a fundo os ensinamentos do livro mais antigo do mundo. Aos poucos foi se interessando e durante a semana por duas vezes varou a madrugada na leitura. Na sexta feira, Brasilino preocupado com o sumiço de seu amigo, resolveu dar um pulo em Boa Viagem. Em lá chegando foi avisado pelo porteiro do prédio de sua chegada. Orígenes não se lembrou de esconder a Bíblia tal a preocupação que seu amigo descobrisse o que estava fazendo. Quando Brasilino chegou viu a Bíblia no sofá, foi logo dizendo: É muito bom que você comesse a ler o livro sagrado, porque em breve vou lhe apresentar uma mulher dentro daquilo que você me encomendou.- Nunca lhe encomendei mulher nenhuma! – Bradou Orígenes. – Apenas conversei com você que só casaria com uma mulher dentro moldes que lhe falei. Não pedi para me arranjar mulher nem servir de cupido. Tenho vergonha na cara, sou velho, mas me faço respeitar. – Que é isso meu amigo, está me estranhando! Sou seu amigo incondicional e apenas estava querendo lhe ajudar. Se você não quiser conhecer a moça, já não está mais aqui quem falou. – Desculpe Brasilino, estou meio nervoso esta semana e você foi o primeiro amigo que apareceu. – O que foi que ouve? Está doente ou coisa parecida? Diga seu problema que seu amigo fará o possível para arranjar uma solução.- Finalizou Brasilino.
Não ia nem lhe contar, mas como você chegou aqui de surpresa e viu a Bíblia, quero lhe comunicar que seguindo seu conselho fui a uma Igreja Evangélica para ver se o que me disse era verdade. Não vou lhe contar onde fui e não vou lhe dizer o que achei. Não quero servir de galhofa amanhã se por acaso você quiser fazer mais uma de suas brincadeiras. – Orígenes, eu jamais faria uma brincadeira com um negócio tão sério. Além de sermos amigos há mais de trinta anos, não podemos brincar com um assunto que você me confidenciou e que diz respeito a seu futuro. Pode ficar tranqüilo que não vou tocar mais no assunto. Apenas e pela última vez vou lhe dizer que encontrei uma moça nos padrões que você deseja. Não sei nem se ela deseja lhe conhecer, mas pelo que ouvi falar na empresa ela se encaixa exatamente nas suas pretensões. É bonita, morena, se veste com muita compostura, muito cerimoniosa e solteira.Deve beirar uns trinta e sete anos, mora com a mãe e não tem namorado. Alias nunca teve um namorado. Por essa razão serve de galhofa para as demais colegas. Sem querer fazer propaganda do produto, acho que seria exatamente aquilo que você está procurando. – Ela é evangélica? – Perguntou Orígenes – Não sei, ainda não consegui pesquisar, mas tudo leva crer que é. - Está bem Brasilino, eu agradeço muito seu empenho, mas prefiro eu mesmo procurar.
Naquela semana as meninas da empresa não deixaram Jacicleide sossegar. A toda hora falavam do Brasilino que havia prometido apresenta-la a um pretendente. De noite Jaci, rebolava entre os lençóis imaginando o homem que poderia ser a sua tábua de salvação. Sonhos eróticos que nunca tivera, começaram a fazer parte das suas noites inquietas. O fogo subia-lhe o corpo e a obrigava a beber água várias vezes durante a noite. No dia seguinte acordava cansada e nervosa como se tivesse passado a noite trabalhando. Tudo isso não foi só pelas conversas do trabalho, mas também por conta daquele homem estranho, mas bonito e bem apanhado que aparecera no culto no domingo. Toda igreja ficou perturbada com o aparecimento do homem, que além de dá uma boa contribuição desapareceu imediatamente após o culto.Nos seus sonhos e na sua imaginação usava aquela figura como referencial do homem que o safado do Brasilino dizia as meninas que ia lhe apresentar. Por cautela e para evitar maiores problemas, guardou para si o acontecimento do domingo.
Na semana seguinte, muito nervoso, Orígenes voltou para Igreja. Desta vez procurou chegar mais cedo e sentou-se no último banco pensando ele em se passar mais despercebido.Tinha apenas três pessoas quando chegou a Igreja. Alguns minutos depois, chegou o Pastor Jazon e dirigiu-se diretamente a ele fazendo uma série de perguntas. De nada adiantou a sua leitura durante a semana. Quando o Pastor Jazon perguntou qual a Igreja que ele freqüentava, ficou gago e foi logo confessando que não tinha religião estava ali para ver se o ensinamento poderia faze-lo mais feliz. Homem inteligente tentou fazer uma lavagem cerebral no agnóstico Orígenes. Sem meia conversa, Orígenes disse que preferia apenas ouvir e ver o culto sem dele participar ativamente. Perguntou se ele deixaria que ele freqüentasse a Igreja dessa maneira. De logo o Pastor Jazon recuou e disse que casa de Deus estava aberta para todos e que não voltaria a falar no assunto até que ele ouvindo as pregações por si próprio assim o desejasse. Retirou-se em seguida e foi para púlpito preparar o culto. Orígenes agora se sentindo mais confortável começou a observar a entrada dos fieis. A Igreja foi enchendo e a morena não chegava. Quando culto já havia começado a morena que ele sonhara a semana toda entrou apressada e sentou-se exatamente na sua frente. Jaci conheceu pelos cabelos grisalhos que o homem misterioso estava ali. Ao sentar-se olhou de relance para Orígenes. Seu coração tremeu e começou a suar. Ele era um homem lindo, apesar de aparentar ser uns vinte anos mais velhos que ela.
Findo o culto, Orígenes com uma coragem fora do seu estilo, bate levemente no ombro de Jacicleide diz: Irmã gostaria de conversar com você fora da Igreja. Posso acompanha-la?
Pode irmão – disse Jaci tremendo nas bases. Atravessaram a rua e ficaram embaixo de poste de iluminação bem próximo ao carro de Orígenes.
Como é o seu nome irmão? – Meu nome é Orígenes, sou do Piauí e estou em Pernambuco há mais trinta anos. Sou viúvo, não tenho família, filhos, nem religião. Como minha vida é um vazio, um amigo de longas datas me aconselhou a freqüentar uma igreja para ver se assim eu possa ter algum gosto pela vida. Sou católico de nascimento, mas nunca acreditei em nada, embora a tia que me criou tivesse feito possível para que seguisse o caminho da Igreja. – O meu nome foi dado por meu pai que não conheci, e que morreu juntamente com minha mãe em um desastre de automóvel. Acho me colocou esse nome porque era muito católico. Orígenes foi um filósofo proclamado santo após ser martirizado por Décio. Ele nasceu em Alexandria no ano 186 de nossa era. Depois que seu pai foi morto por perseguição religiosa, fugiu para Palestina onde criou na Cesárea a primeira Escola Teológica do Cristianismo. Como você vê, deveria ser um bom cristão e acreditar em Deus.Infelizmente para mim nada que me foi dito ou ensinado faz mover um sentimento religioso. Essa é minha ficha e você como se chama irmã? – Jacicleide Seu Orige, como seu nome é difícil. O R I- G E- N E S soletrou sorrindo o próprio.- Me chame de irmão até ficar mais fácil entender. – Bem, nasci em Jaboatão bem aqui perto, também não tenho pai e moro com uma irmã e um sobrinho. Trabalho numa empresa de Supermercado e freqüento essa Igreja. Seu amigo é um bom homem, foi ele que o encaminhou para Jesus. – Realmente ele é um bom homem, é católico, mas também só vai a Igreja segundo ele quando precisa de Deus.
Algum dia se nossa amizade persistir eu lhe contarei toda a historia. Estou precisando de uma pessoa para conversar que não seja moderninha e tenha alguma coisa da minha finada esposa.É muito difícil nos dias de hoje encontrar uma moça de princípios fora da casa de Deus. Normalmente todas só pensam em diversão, barzinho etc. Por essa razão escolhi essa Igreja aqui em Jaboatão. Moro em Boa Viagem e sou aposentado do Banco do Brasil. Materialmente não me falta nada, sentimentalmente me falta tudo, inclusive uma razão para viver. – Calma Irmão! – O choro, o desespero, as dificuldades, os sofrimentos é parte da vida de todos os homens.Se não existisse, que graça teria a vida? Jesus morreu por nós para nossa salvação. Se não existisse sofrimento ninguém freqüentaria a casa de Deus e a felicidade se tornaria tão chata que ninguém a suportaria. A vida não teria sentido se houvesse luta e sentimento de irmandade, onde todos procuram um a ajudar os outros nas horas difíceis. – Belo sermão irmã! Quase que me convenceu.Já é tarde, vou lhe acompanhar até tua casa e espero que consintas que vem lhe procurar outras vezes durante a semana. Pode ser assim? -Pode irmão, quando quiser me ver, basta telefonar para meu celular. Está aqui o número –disse mostrando o número no visor do aparelho. Após anotar no seu celular, Orígenes entregou um cartão de visita com seu endereço e os dois telefones.- Boa noite irmã, muito obrigado por ter me aturado. – Boa noite, irmão até outro dia.
Orígenes sentiu pela primeira vez aquela o gosto da felicidade depois de tantos anos. Achara Jacicleide uma mulher linda, bom papo, discreta e nos moldes que desejava. Ligou o radio do carro e saiu ouvindo a Radio Universitária até chegar em casa.
Jacicleide entrou em casa que era só sorriso. Sua mãe que a observava do portão viu logo a razão de tanta alegria. Ao entrarem contou toda a conversa e disse que ele era um anjo enviado de Deus para lhe trazer felicidade. A noite orou muito e teve seu primeiro sono tranqüilo depois de tantos anos.
Os encontros entre Jacicleide e Orígenes tornaram-se mais freqüentes indo além dos domingos no culto. Todas as quartas feiras ele comparecia em Jaboatão e aos poucos foi pegando intimidade com a família. Até que um dia depois de dois longos meses, Orígenes pegou a mão de Jacicleide e trêmulo confessou o seu amor. Ela por sua vez já estava impaciente, visto que suas amigas de Jaboatão já no primeiro dia se desmanchavam em beijos cinematográficos como se fosse a coisa mais natural do mundo. A reciprocidade foi de Jacicleide foi imediata. Estando tudo acertado, Orígenes combinou que no domingo iria pedir consentimento a mãe de Jacicleide. Ela muito acanhada, disse que não havia necessidade, pois sua mãe já sabia e fazia muito gosto do relacionamento. Mesmo assim ele insistiu e cumpriu o ritual dos tempos antigos. Embora o maior sarro entre os dois não passasse de um beijo na face na chegada e na saída a cada dia o desejo entre os dois foi aumentando geometricamente. Jacicleide propôs de chamá-lo de Óri, e pediu que ele a chamasse de Jáci. Falou que Óri era um nome mais fácil e ao mesmo tempo lembrava a ele para orar pela felicidade dos dois.
Aos poucos Óri foi se integrando nos cultos, e a irmandade juntamente com o Pastor Jazon estavam se convencendo que haviam recuperado mais uma ovelha perdida do seu rebanho. O Pastor Jazon em tom de brincadeira disse um dia ao terminar o culto que fazia questão de celebrar aquele casamento. Elogiando muito Orígenes e a Jacicleide. Na verdade a convivência mexeu com os sentimentos religiosos de Orígenes. Não era um homem de fé, mas gostava dos cultos e aos poucos começou a entender a Bíblia. Como era um homem de boa cultura não foi difícil entender os mistérios da fé. Passou a orar a noite em casa e pedir a Deus que lhe desse fé, já que começava a se sentir um homem feliz e com razão de viver. Ficava em dúvida se era por Jaci ou porque estava começando a crer no Evangelho.
Na empresa Jaci tinha um sorriso maior do que a boca. Não ligava mais para as brincadeiras pesadas das colegas e seu olhar triste desapareceu por completo. A modificação chamou a tenção de Brasilino. Logo ele comentou com as colegas dela que ela deveria ter encontrado alguém para suprir suas deficiências carnais. Pediu que as colegas investigassem o que ela andava fazendo porque o brilho de seus olhos não lhe enganava. Ela estava de caso com alguém e o negócio era sério. Jáci continuava de boca fechada apesar do insistente pedido das colegas que contasse o que estava acontecendo. Por sua vez Brasilino entristeceu porque não poderia mais apresentar Orígenes a virgem do Supermercado.
Um dia não se conteve mais e quebrou o juramento que havia feito a Orígenes. Contou que a pretendente que havia arranjado para ele provavelmente já teria arranjado algum compromisso embora não tivesse revelado a ninguém na empresa. Orígenes por sua vez disse que como antes não queria mulher encomendada e revelou que já estava namorando uma moça dentro dos padrões morais que ele desejava e em breve iria casar. Disse que tão logo noivasse apresentaria a ele, já na qualidade de padrinho de casamento. Brasilino ficou emocionado e perguntou se era aquela que ele havia falado há seis meses atrás. Orígenes confirmou e agradeceu a idéia dele de procurar nas Igrejas Evangélicas a moça dos seus sonhos.
Para o noivado, cerimônia que Brasilino achava desnecessária, antiga e cafona, foi assim mesmo convidado, com a exigência de que comparecesse de paletó e gravata e fizesse o pedido representando a inexistente família de Orígenes. Para cerimônia também foram convidadas a s colegas de trabalho a pedido do próprio Orígenes. Há esse tempo o casal já havia descoberto a coincidência, e quis fazer a surpresa à troupe de Brasilino. Na hora marcada chegaram todos e se depararam com o inconcebível. Brasilino estava tão nervoso que tomou duas lapadas de cachaça antes de chegar, pois sabia que lá só sairia suco de frutas e ele estava tremendo como se o enforcado fosse ele. Jaci recebeu de presente um vestido um pouco avançado para ela, mas que destacava o seu corpo de mulher bonita e sensual. Colocara uma maquiagem leve e um batom discreto, transformando-a numa mulher sensual e altamente desejável. O próprio Orígenes ficou espantado com tanta beleza. Brasilino no meio da festa chamou uma colega mais sapeca e disse: O que um polimento e uma lubrificação não faz numa máquina antiga, mas de pouco uso! A irmã remoçou mais de dez anos, parece um carro zero cheirando a novo. Orígenes é um cara de sorte, difícil vai ser ele controlar essa máquina na lua de mel. Será que ele vai ter fôlego depois de passar tantos anos sem dirigir esse tipo de veiculo? O velho que se cuide, sem um treinamento antes com uma máquina amaciada ele vai ter muito trabalho para ele deixar esse carro contando cilindro.
O casamento foi marcado para dali a dois meses. Os noivos acompanhados da sogra conheceram o apartamento, o sítio e o apartamento em Muro Alto. Para Jaci aquilo parecia um sonho das mil e uma noites. Somente na semana que antecedeu o casamento Jáci recebeu o primeiro beijo. Foi no apartamento em Boa Viagem a única vez que ficou a sós desde o dia em que se conheceram. O beijo foi prolongado com um abraço de corpo inteiro e por muito pouco os dois não partiram para os finalmente.Na verdade ambos estavam desgovernados, apenas o instinto animal prevalecia naquele momento. Quando ela vencida já se deixava ser explorada pelas mãos atrevidas de Óri, a campa da portaria tocou, avisando que um portador queria entregar um presente. Foi o toque do gongo. O intervalo fez com que Óri repensasse, e afastou a tentação assumindo o controle. Jáci, no entanto continuou com o mesmo fogo, beijando-o e abraçando-o até que Óri a controlou com carinhos menos agressivos e com conversa esperou que com paciência até a parada total dos motores. Depois desse dia até o dia do casamento, combinaram que não ficariam mais a sós para evitar a antecipação do lanche antes do recreio.
O casamento foi celebrado pelo Pastor Jazon e houve uma recepção simples e rápida na casa de Jáci, porque os noivos iriam viajar no dia seguinte para Gramado. Brasilino deu de presente a primeira noite num hotel cinco estrelas do Recife e fez questão de leva-los pessoalmente até lá. Depois de se despedir na porta do elevador, Brasilino sentou no bar e foi tomar uns drinks para comemorar a sua maneira o casamento do amigo. Na sua imaginação percorria o apartamento com as flores que havia encomendado e a garrafa de champanhe no gelo bem perto da porta. No banheiro a camisola de seda transparente que o próprio Orígenes pedira que colocasse. Na sua mente deteriorada, imaginava Orígenes carregando nos braços a sua amada adentrando no apartamento. Pensava também na fúria dos quinze anos de jejum sexual do seu amigo que há essas horas deveria está dando vazão a toda sua fúria animal.
Como o amigo pensara, Óri carregou Jáci nos braços e levo-a até a cama beijando-a ardentemente e explorando aquele corpo viçoso e sedento de um amor carnal engavetado por toda uma vida. Ao cabo de alguns minutos, levantou-se e foi abrir o champanhe. Preparou duas taças e voltou até a cama e ofereceu a Jáci. A princípio ela ficou entalada, porque nunca tomara bebida alcoólica, mas depois do segundo gole uma sensação de torpor e calma se apossou de seu corpo. Em seguida Óri pediu que ele fosse mudar a vestimenta no banheiro enquanto ele trocaria na sala. Queria que todo ritual de trinta anos fosse cumprido inteiramente. Enquanto aguardava Jáci, bebeu mais uma taça de champanhe sentado numa poltrona ao tempo em que recordava o principio de sua vida de menino órfão. As passagens da vida de adolescente rodavam como um filme em sua mente. O casamento com Merinda, Marinalva, até o dia em que conheceu Jáci na Assembléia de Deus. De repente sentiu uma pontada no coração, mas logo passou. Jáci finalmente apareceu com a camisola de seda, enquanto a sombra do abajur nas suas costas fazia aparecer aquele corpo desnudo e sedutor que agora seria todo seu. Levantou-se e deu três passos até Jáci. Ao sentir o calor daquele corpo que se entrelaçava no seu, gritou: Ai! Jáci, Ai! – Com a mão no peito, gritou mais alto ainda: Jáci! Que dor! – Aos poucos foi caindo na cama com as duas mãos apertando o peito, já sem forças, e murmurava baixinho: Jáci estou morrendo, chame um médico... Acabou Jáci...Ai meu Deus, acabou Jáci, estou morrendo. – Depois não falou mais. Seu corpo foi esfriando, seus músculos foram relaxando e sua respiração sumiu. – Jáci feito uma louca abriu a porta do apartamento e saiu gritando: Socorro! Acuda-me, meu marido está morrendo. – Os hóspedes dos outros apartamentos abriram as portas e correram em sua ajuda. Um deles ligou para portaria e pediu uma ambulância. Quando os médicos chegaram o corredor do hotel estava repleto. Colocaram Óri em uma cadeira e desceram pelo elevador. Embaixo uma maca já o esperava. Jáci, depois de ver seu Òri pálido e inerte perdeu os sentidos.
Brasilino que ainda estava no bar observou o movimento da ambulância e dos médicos. Foi até a recepção e perguntou o que estava havendo. A recepcionista nervosa lhe disse que um hóspede estava passando mal e os médicos vieram para socorre-lo. Quando o elevador abriu, Brasilino reconheceu imediatamente Orígenes. Acercou-se da maca, pegou a mão de Orígenes e disse para os médicos: Ele está morto. Meu amigo está morto. Foi muito amor que acabou com ele. Os médicos pediram para que ele o acompanhasse na ambulância. A caminho do hospital os médicos disseram que quando chegaram ele já estava morto. Tentaram ainda no elevador reanima-lo com desfibrilador portátil, mas não adiantou. Foi um enfarte fulminante, destruiu o coração de uma só vez. No hospital o corpo foi direto para o velório. Brasilino acompanhou o corpo do amigo soluçando. Pela primeira vez na sua vida perdera totalmente o controle. Meia hora depois chegava Jáci já medicada, chorando baixinho. Junto ao corpo sussurrava: Por que você se foi meu amor? Por que? Íamos ser tão felizes.
No domingo à tarde Orígenes foi sepultado. Somente os parentes de Jáci e alguns amigos compareceram. Não houve tempo para anunciar o Jornal já havia saído na hora em que ele morrera. Somente alguns amigos que Brasilino conseguiu avisar por telefone.
Ao sair do cemitério Jáci observou o sol se escondendo no poente apagando o dia e a sua vida. Esperara tanto por um amor e ele se fora tão rápido quanto chegara. Não era mais uma solteirona pobre. Era uma viúva, rica, virgem e triste.

Mauro de Oliveira








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