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Contos-->ERÓTICO DIÁRIO DE ADOLESCENTE -- 02/05/2005 - 08:37 (ADELMARIO SAMPAIO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
DIÁRIO DE ADOLESCENTE

Anteontem a Teca esteve aqui. E eu fico com o coração disparado, só de saber que ela está por perto. Ainda mais que ouvia de longe a sua voz enquanto falava com a minha mãe.
E eu que sempre fui muito lógico, achei estranho que as duas estivessem conversando tanto tempo. Mas não consigo pensar por muito tempo com lógica quando se trata daquela menina. Fiquei logo pensando que a minha mãe estivesse arranjando alguma coisa pra mim, porque espreitei um pouco, e ouvi meu nome... E pior é que as minha suspeitas se confirmaram, quando a musa os meus sonhos, parou bem ali na minha porta, falando alegremente comigo, como se jamais tivesse me tratado com tanta... Digamos, indiferença.
Eu fiquei sem fala.
_ Tudo legal, cara?!... – ela perguntou alegremente.
Eu só balancei a cabeça, embaraçado.
_ Tem algum papo pra amanhã?
Eu não entendi, mas não consegui perguntar nada. E ela continuou:
_ Dá um chego lá em casa amanhã, cara!...
Meu coração disparou mais ainda. Não conseguia dizer nada. Na verdade, eu pensava que estivesse zombando, mas o meu outro lado acreditava. Ainda mais que ela tinha acabado de falar com a minha mãe, e estava na minha casa.
_ Não é festa não, cara!... – continuou. - Eu sei que você não é "a fim". Vou fazer uma surpresa para você, cara!... Topa? Não convidei mais ninguém... Sabe que meus pais estão viajando?...
De repente, ela entrou, e passou a mão pelos meus cabelos, como se tivesse a maior intimidade comigo, e com a naturalidade de quem estivesse acostumada a fazer isso. Eu gelei por dentro. Parecia voar... (Se você fosse humano diário, saberia entender que a mão da Teca nos cabelos acaba com toda lógica)...
E foi assim que passei aquela noite... Nas nuvens. Nem dormi direito, pensando no que estava acontecendo comigo. Sonhava acordado. E o que antes era um pesadelo pra mim, se transformou num sonho bom... Eu me rindo com ela. Pensei em mudar o meu jeito por causa dela, para que nunca mais me chamasse de "careta".
Senti uma dor no coração. "Palhaço careta! Babaca!..." Não queria pensar mais nisso. Era coisa do passado. Agora ela agia diferente. Agora passava a mão pelos meus cabelos, e me convidava para ir à sua casa. E "não é festa", disse. Sabia que eu não gostava. E não gosto mesmo de ver aquele monte de palhaços rindo com ela ou passando a mão... Até me arrepia de pensar...
Ontem, dia do meu aniversário, acordei cedo, mesmo tendo dormido pouco, e estando de férias. Pensei em ligar pra ela, mas achei que fosse muito cedo, e que não deveria estar acordada. Será que ela pensava em mim?... Claro que pensava. E tinha certeza. E não como das outras vezes, quando precisava que a ajudasse em uma ou outra tarefa de química ou matemática.
Passei quase a manhã toda, trancado no quarto. Mas não conseguia concentrar em nada. Nem ler, eu conseguia. Afastei a possibilidade de continuar lendo o "Memórias de Adriano". O meu pensamento era um só: Teca.
Bateram à porta, e me chamaram pro almoço. Eu demorei mais um pouco, e quando desci, todos já tinham almoçado e saído. Soube que a minha irmã tinha ido á casa da Teca. Meus pais deixaram recados que não puderam me esperar. Estranho, que ninguém falasse do meu aniversário. Achei estranho também que não houvesse nenhuma movimentação no sentido de fazer qualquer festinha como costumamos fazer nos aniversários de todos da família. Mas nem liguei pra isso... O que importava, é que eu iria receber ou já estava recebendo o maior presente de aniversário da minha vida.
Quando eu estava terminando de almoçar, a Teca ligou:
_ Olá gato, estou te esperando, tá bom?!... Vou te dar parabéns pelo aniversário, mas só aqui em casa!... Aliás, vou te dar um presente, cara!... Daqueles que não vai esquecer jamais, cara!...
E realmente. O que aconteceu naquela noite, eu não vou me esquecer pelo resto da minha vida, por mais que eu queira.
Pensei que a minha irmã estava com ela. Reuni coragem e perguntei:
_ A Tina está aí com você:
_ Não gato!... Estou só...
_ Posso ir aí agora? – eu perguntei, me surpreendendo com minha ousadia.
_ Não gato, eu tenho que dar uma saída... Venha as sete em ponto, tá legal?
_ Combinado...
Tive mais uma vez a impressão que a pirralha da minha irmã estava na extensão. Mas o meu lado ilógico me fez acreditar que a Teca não estava me mentido. Mesmo porque eu queria de vez, deixar essa implicância que sempre tive com aquela pestinha. Como minha mãe dizia, tinha de deixar essa mania de dizer que ela metia o bedelho em tudo na minha vida. E afinal de contas, ela não me fazia tão mal assim. É tanto, que se estivesse mesmo com a Teca, estava me ajudando, e não o contrário como eu sempre teimava em pensar.
Depois do telefonema confirmando o horário, comecei a agir: Preparei a roupa que tinha comprado há muito tempo. Lembro muito bem que a comprei na intenção de parecer mais com a turma, mas nunca usei, porque me sinto ridículo nela.
Foi então que tive a idéia de me vingar de todo mundo.
Liguei primeiro pro Joca. A ligação caiu na secretária eletrônica, e eu achei muito melhor, e deixei recado tentando usar a linguagem dele:
"Olá, cara! Sabe o careta, o babaca, pinel?... É justamente esse que a sua mina, ou melhor, ex-mina tá afim! Você vai saber direitinho o que é que tá acontecendo. Vai saber direitinho quem ó o babaca de nós dois!..."
Quando desliguei, me deu um medo enorme de que não fosse verdade tudo o que estava acontecendo, e liguei pra Teca. Precisava que ela me dissesse novamente, que estava me esperando ansiosa... O telefone tocou algumas vezes, e logo ouvi a sua voz maravilhosa, mas era uma gravação também na secretária eletrônica. Por certo ela teve que sair um pouco, porque o telefone dela tinha identificador de chamadas. Se estivesse, me atenderia. Só então me lembrei que ela me disse que tinha que dar uma saída.
Aquela voz me fazia esquecer de toda a razão, e me inspirava a dizer coisas que jamais diria a outra pessoa. Então deixei uma mensagem:
"Olá Teca!... Hoje, estou vivendo o melhor dia da minha vida!... Você sabe o quanto sou apaixonado por você... Eu sabia que um dia iria olhar melhor para mim, e rever seus sentimentos. Eu sempre suspeitei que o seu jeito de me tratar era fingido, e que na verdade também gastava de mim... Até à noite... Te amo como ninguém te amou!..."
É verdade que essas palavras me fizeram suar frio. Mesmo pelo telefone, e para uma secretária eletrônica, eu tinha dificuldade.
Lembrei de ligar pra Lia. Queria provocar ciúmes nela. Mesmo tendo me dado o fora, sabia que no fundo, gostava um pouco de mim.
_Você?... Que aconteceu?
_ Nada... Só estou ligando pra conversar um pouco...
_ Não temos nada pra falar, cara!... Sabe que é o maior "xarope" que conheço?!... Me poupe, cara!... Não suporto ouvir sua voz!...
_ Não é o que você está pensando... Eu até estou namorando a Teca...
_ A Teca?!... Não me faça rir, cara!... Cê acha que uma menina "up" como ela vai suportar um chato tão "down" como você?!... – Era o jeito dela falar depois que tinha entrado na aula de inglês.
_ Ela até me convidou pra ir à casa dela hoje a noite! Pode conferir!...
_ Eu sei que ela te convidou, mas pode ter certeza que por outro motivo!...
Achei esquisito ela saber:
_ Você sabe?...
_ Você não disse?!... Dá licença cara, preciso desligar."
Devia estar com ciúmes, eu pensei.
Lembrei do Japa. Liguei, e ele até apostou comigo que a Teca não tinha me convidado. Mas eu senti que ele sabia que sim.
Uma coisa me intrigava: Era estranho que no dia do meu aniversário, ninguém se lembrasse dele.
Fui ao supermercado, e comprei uma caixa de chocolates pra levar pra Teca. À tarde, tomei aquele banho, caprichei no perfume, e vesti aquela roupa "transada" que eu tinha. Inclusive o casaco, embora não estivesse frio. Fiquei com vergonha de sair assim. Eu me sentia um espantalho dentro da roupa.
Na ida, passei pela farmácia, para me prevenir, porque como a minha irmã (e a Teca mesma) diz, nunca sabemos "que clima vai rolar" num encontro desses...
As sete em ponto, eu estava na porta da casa dela. Meu coração estava disparado, e batia tão forte, que eu parecia ouvi-lo. E a minha emoção foi aumentada, quando vi o bilhete pregado na porta, escrito com a própria letra dela, dizendo para que eu entrasse sem bater, que ela estava me esperando.
Eu estava surpreso com tamanha manifestação de carinho, e não conseguia suportar tanta felicidade. Mas eu me controlei, pensando que era a hora de desfrutar desse "momento mágico que o amor oferece", como disse um escritor que eu li, que penso ser o Gibran.
Olhei-me no espelho da porta, e me arrependi um pouco de ter ido nesses trajes. Ainda bem que só a Teca me veria assim, eu pensei.
Coloquei os pacotes dos chocolates e da farmácia em uma das mãos, assumi uma postura de "bad boy", e abri a porta. Estava tudo escuro. Meu coração disparou mais ainda. E quando eu ia procurar o interruptor, acenderam a luz por mim, e ficou tudo claro...
Tudo, menos meu pensamento, que demorou um pouco para entender o que estava acontecendo. Estavam todos esperando com um bolo enorme com o meu nome, e umas velas com os números da minha idade. Eles tinham combinado tudo...
Num gesto instintivo, tentei esconder os pacotes que trazia. E vi como que em câmera lenta, todos diante de mim. Os primeiros que vi foram meus pais. Depois, minha irmã. Só então, foi que notei que a Teca estava abraçada com o Joca. E por fim, vi o Japa, e a Lia... Todos me olhando como se eu fosse um bicho de outro mundo.
Era essa a surpresa: a festa do meu aniversário... Não, não era festa, e sim um pesadelo. Minhas pernas bambearam. E vi os rostos distorcidos, e depois, felizmente, não vi mais nada. Acordei horas depois, no hospital...

Amigo diário (já somos amigos...). Se você fosse uma pessoa, por certo teria uma lista de imbecis que escrevem em você. E eu encabeçaria essa lista, como o maior deles todos. E se fosse quem muitos dizem que você é, eu perguntaria esperando uma resposta: Com que cara eu saio desse quarto?...

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Adelmario Sampaio
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