Há tantas crianças por aí
ao raiar da manhã,
ao nascer do sol
e ao Deus d Aran
que as criou delicadamente,
largando-as quais borboletas
perdidas no espaço
sem fim...
Todavia esqueceu-se
de lhes dar asas e,
o que foi ainda pior,
nada fez para que elas
pudessem voar...
Assim, de pés presos
à terra pardacenta,
de onde derivam,
por ali vegetam
até se transformarem
feitas humus.
Há crianças
de pés descalços,
sem mãos e sem braços.;
há crianças desnudas
e sem uma côdea
para triturar.;
há crianças feitas de negro
sem luz e sem espaço
onde possam partilhar
o ar da sua própria
sombra.;
há crianças sem pernas
e com esqueleto descarnado
pronto a desfazer-se.;
há crianças sem boca
e sem paladar,
onde nem a água
tem força para correr.;
há crianças sem pulmão
nem coração
e, mais que isso,
sem alma e sem razão!
Dia da Criança, p ra quê?
Será que aqueles
que deixaram de ser crianças -
sem se aperceberem
de que ainda não são homens -
não precisariam, esses sim,
de que fosse celebrado
o "Dia do Adulto"
para que as crianças
descobrissem por si mesmas
a sublime felicidade
de ainda serem Crianças ?
Frassino Machado
In ODISSEIA DA ALMA |