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Artigos-->Satiricom: a face libidinosa da cultura Grego-Romana -- 08/09/2002 - 16:15 (Rodrigo Nogueira da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Satiricom: a face libidinosa da cultura Greco-Romana.



Numa brilhante tentativa de historiografar os costumes sociais da sociedade romana, Satiricon, de Petrônio, obra literária escrita provavelmente nos primeiros anos de nossa era, traz um enredo totalmente libidinoso, em que enfatiza-se a homossexualidade e a libertinagem como costumes helênicos à influência da cultura latina. O texto é sustendado pelas aventuras libertinas de três personagens - Encólpio, Ascilto e Gitão-, onde o primeiro, o protagonista, vai ser também o narrador da história, na companhia de seu amigo, o segundo, e o escravo (sexual), Gitão, o terceiro.

E dessa forma, a partir das ações desses personagens, interpretaremos esta obra a partir de sua função historiógrafa da cultura grego-romana, enfatizando-se a questão da homossexualidade, enquanto prática comum, alheia as imprecações sociais. E por assim dizer, como temos em registros históricos, legados da antiga Grécia, em pinturas e representações em vasos, a sociedade helenica era francamente favorável ao relacionamento entre dois homens. Bem como a sociedade romana, que, por sua vez, era separada rígidamente entre escravos e cidadãos, permitia as relações entre escravos e seus senhores, podendo estes terem seus rapazes preferidos. E a esse exemplo, temos na obra de Petrônio, as relações homossexuais entre Encólpio e seu escravo Gitão:

Depois de tê-lo procurado por todos os quarteirões da cidade, retornei à casa e consolei-me nos braços de Gitão. Enlacei-me com os mais entusiásticos abraços. Minha felicidade, igual a meus anseios, era com certeza digna de inveja. Já preludiávamos novos prazeres quando Ascilto, movendo-se nas pontas dos pés, nos surpreendeu em meio ás mais picantes carícias. Logo enchendo nosso diminuto cômodo com suas gargalhadas e aplausos, ergueu o lençol que nos envolvia.

— Ah! Mas que estais fazendo, homens de bem? Como? Metidos os dois debaixo da mesma coberta?(PETRONIO, p. 22)

O homossexualismo do mundo greco-romano, obedecia a uma dada regra de relacionamento - o homem adulto é quem deveria perseguir os mais jovens, sendo que sexo entre homens de mesma idade tratava-se de algo escandaloso e desaprovado. E nesse relacionamento homossexual, o adulto era quem devia ser o ativo, ao passo que o mais jovem deveria manter uma atitude passiva. Da mesma forma que nas relações entre senhores e escravos, onde os primeiros deveriam somente tomar um papel ativo do coito, perpetuando, quem sabe, o preconceito da passividade. E por assim dizer, o texto de Satiricon vem mostrar, entre outros aspectos, essas predileções homossexuais concernentes à idade, como a seguir

:

— Em uma viagem que fiz à Ásia, na guarnição de um questor, fiquei hospedado na casa de um habitante de Pérgamo. Escolhi-a para alojar-me não tanto pela comodidade das acomodações, mas sim pela maravilhosa beleza do filho do dono. Recorri a essa artimanha para que o bom pai não suspeitase da viva paixão que o garoto me inspirava (PETRÔNIO, p. 99)



Registros históricos da antiga Roma, ralatam que o próprio Nero casou-se com um menino de nome Pitágoras, com direito a vestido de noiva e noite de núpcias. E em se tratando do governate de Roma, este fato revela a pura normalidade e autoridade do homossexualismo na época. Demostrando que a pederastia não era um costume descentralizado da moral, mas que se dava ao explícito. Diz-se da abrangência desses hábitos, o fato de quase todos os grande nomes daquela época, sejam filósofos, políticos, soldados ou poetas terem mantido relações homossexuais ou tratado de destas em suas obras de maneira receptiva. A exemplo dessa característica cultural grega, em Esparta a pederastia fazia parte da educação, sendo recomendado aos jovens da aristocracia que tivessem amantes do mesmo sexo. O hábito mais usual referente à homossexualidade era o de senhores terem jovens rapazes, aos quais deviam ensinar os métodos do sexo. Tais jovens eram muitas vezes indicados pela própria família para tal função.

Entre outras razões, alguns historiadores afirmam que a decadência do Império romano se deu a partir de decadência moral consequente das formas de realcionamento homossexuais, agravadas pelo contexto político-administrativo da época de Tibério, Calígula, Cláudio e Nero. E nesse meio, Petrônio, que provavelmente fazia parte da corte de Nero, vai utilizar sua proximidade e participação desse momento conturbado do império romano, para inspirar sua fantática e documental obra - Satiricon.



Referências Bibliográficas:



CARDOSO, Zélia de Almeida. A literatura latina. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1989.

D’ONOFRIO, Salvatore. Literatura Ocidental: autores e obras fundamentais. São Paulo: Ática, 1997.

PETRÔNIO. Satiricon. São Paulo: Martin Claret, 2002.

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