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cronicas-->A ESTRELA DE NATAL -- 12/12/2003 - 00:50 (Lia-Rosa Reuse) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A casa era uma estrela abrindo-se para a noite !
A porta de duas folhas dava para o pátio e era convite à surpresa. Pelas janelas do quarto e da sala transbordava a harmonia. A cor clara das paredes de madeira resplandeciam de uma luminosidade azulada que envolvia os poucos móveis e se multiplicava nos espelhos e transparências da cristaleira com suas peças antigas, desde lembranças da infància da mamãe, da primeira caneta do papai, até as porcelanas chinesas e casca-de ovo com que ele a surpreendera em seu aniversário, lá no início do namoro oficial que, somado ao noivado, durara treze anos. A modesta sala , o balcão, a mesa e as cadeiras sob a làmpada sem lustre, as duas colunas de madeira sobre as quais repousavam pesadas bolas de cristal , tudo emitia sonoridades de Natal !
A árvore era verdadeira e alcançava o teto ! Coberta de flocos de algodão, exibia garbosamente ornamentos de todas as formas e tons, protegendo com seus galhos, no presépio, lagos feitos de espelhinhos, cisnes, marrequinhas, caminhos de areia, casinhas, reis magos, pastores, ovelhinhas e, sob a luz da pequena Lunita trazida do quarto, o cantinho especial do Jesus Menino com sua doce Mãe, José, o Burrico e a Vaca, tudo de ceràmica, além de cavaleiros, cães e representantes de toda a criação aqui e ali ! A criançada da vizinhança reunida, em alvoroço cantava, ria. " Viva Papai Donel " dizia minha amiguinha , sem bem saber de que se tratava, exceto que seria maravilhoso !
Enquanto morria o pinheiro para animar nossa festa, triste realidade constatada ao vê-lo ser retirado, já em janeiro, nós esperávamos Papai Noel. De repente, ei-lo que chega ! Nossas almas arrebatadas por suas roupas vermelhas, sua barba, dirigiam nossos olhares ao ilustre visitante. Instalado em sua cadeira, foi chamando a meninada para receber pacotes enfeitados, a maior parte antecipadamente entregues pelos meus próprios pais para que ninguém saísse sem presente.
Nas horas em que os embrulhos foram surgindo da pesada sacola, meu ser detinha-se inteiro na emoção daquele convívio ! De repente, meu nome foi chamado ! Papai Noel tomou-me nos braços, sentou-me em seus joelhos. Com muito carinho, fez algumas perguntas sobre mim e meu comportamento. Contei-lhe que traçara meu nome a lápis na parede, bem entre o balcão e a cristaleira, com o L e os R como os do papai ! Sacudindo a cabeça, fez as recomendações de praxe e, ao final de nosso longo diálogo, entregou-me uma caixa enorme que continha uma boneca de porcelana do meu tamanho, que chamei Rosana. Ela tinha tranças, franjinha, brincos, um rosto de anjo com mimosos dentinhos entre os delicados lábios , vestido branco estampado de florzinhas vermelhas, aventalzinho também vermelho, sapatinhos de couro branco e carpins de seda ! Como era linda a minha Rosana , com longos cílios, olhos que fechavam docemente e choro para comunicar-se !
E mais : caminhava ! Sim , era a "Boneca que Caminha " ! Vê-la aproximar-se de mim passo a passo, sobre a mesa redonda, apoiada apenas pela mão da mamãe, foi algo muito maior que todos os sonhos de minha alma : fiquei imobilizada no milagre até que Rosana chegou tão perto que meus braços se abriram para unir nossos corações !
Acompanhada de Luva, minha cadelinha fox, e de meus amiguinhos, passei a noite apresentando-a a todos os vizinhos, à Tchentcha, minha boneca de borracha (que fazia xixi), à Mariazinha, também de borracha, com vestidinho que mamãe pintara de esmalte vermelho, a meu urso; a Nero, o perdigueiro do porão da outra casa do pátio; a Barão, o grande cão escuro que morava sob a janela do quartinho em que meu pai instalara sua biblioteca, aos gatinhos e gatinhas, como Mimosa, Diná, Manquinho, enfim aos participantes do meu universo quotidiano da rua Visconde de Pelotas, 893.
Rosana seria minha boneca de fins de semana como o grande Bóbi de porcelana , para não ser destruída pelos camaradas menos calmos... Minha companheira de todos os minutos seria Nêga, feita por minha própria mãe com meias de algodão, numa tarde de domingo na casa de nossa madrinha. Mas em todos os sábados, domingos e datas especiais, Rosana descia do alto do armário para enriquecer minhas felizes brincadeiras. Nêga tornou-se muito mais do que uma boneca em minha vida : era minha confidente! Rosana foi a ESTRELA DO NATAL e é para ela e todas as outras que se seguiram que dedico esta crónica : Eliana, Sérgio, Susana, Susete, Nancy, Dirceu, meu urso de astracã azul-marinho, Percy, Camila, Rosa Maria, Maria Helena, Estrelas de Páscoa como Pascoal, Coelho Branco com fitas vermelhas, a coelha de aventalzinho verde (todos obra da mamãe) e tantos outros, passando das bonecas de pano e de borracha às de porcelana e biscuí.
Quanto ao Papai Noel, chegava de uma cidade próxima para o evento e era irmão de uma vizinha. Informada por meu pai de tal detalhe, em resposta à questão sobre a diferença de presentes entre minha mãe, que trabalhara o ano todo nos Correios e recebera um vestido enquanto uma conhecida, que vivia ricamente e sem trabalhar, recebera um automóvel, continuei no meu mundo encantado: mesmo que o verdadeiro Papai Noel fosse meu próprio pai, PAPAI NOEL EXISTIA e fizera bilhar minha ESTRELA DE NATAL !

Lia-Rosa Reuse 11.12.2003

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