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Cronicas-->Hoje A Saudade Bateu -- 07/12/2003 - 22:43 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

SAUYDADES DA ESQUINA DA USINA
(Por Domingos Oliveira Medeiros)

Cheguei por estas bandas por acaso. Sem qualquer objetivo ou intenção premeditada. Como qualquer andante ou vagamundo. Cansado, deixei as malas no hotel - cheias de SONHOS E UTOPIAS - e fui tomar banho. Troquei de roupa e saí para dar um passeio pelas redondezas e conhecer melhor o lugar.

Buscava um local para publicar meus artigos, meus ensaios, meus textos jurídicos. Parei numa banca de jornal e dei uma olhada no roteiro dos filmes e das novelas que estavam em cartaz. Mais adiante, fiquei admirando a turma Do cordel e de outros poetas que divulgavam suas poesias. Ouvi piadas do bom humor. E fiquei atento aos discursos que muitos faziam, tratando de vários assuntos, de vários temas. Todos interessantes.

Passei pelo parque de diversões e pude ver, na parte de fantasias e leituras infantis, muitas crianças brincando de sonhar e sonhando de brincar. E aproveitei para dar um pulo na parte de adultos, cheia de erotismo para todos os gostos. E comecei a ficar encantado com o lugar.

Mas estava sentido falta de uma coisa. Que na minha cidade era muito comum. A esquina. Aquele lugar situado em um canto qualquer, formado por duas ou mais ruas que se cruzam. E continuei minha caminhada. Até que me deparei com ela. Estava logo à frente. E era muito parecida com todas as esquinas que conheço. Chamavam-na de "Quadro de Avisos". Talvez no sentido de que todas as informações e boatos corriam, primeiro, por ali. E só depois, quando fosse o caso, as simpatias, antipatias, os namoros, as opiniões, as discussões e os esclarecimentos ali gerados, passavam a ser tratados por correspondência, encaminhadas para o endereço, bastante sugestivo, de CARTAS.

A esquina sempre tinha muita gente passando. Gente indo e vindo de todos os lugares; e em todas as direções. Gente que sumia e que depois aparecia. Gente de toda a espécie. Advogado, alpinista, jornalista, professor. Gente com currículo e sem currículo. Anarquistas e comunistas. Economistas e administradores. Engenheiros e Tradutores. Nazista, fascista e escritores. Mentirosos e gozadores. E gente de muitos valores.

E eles falavam de tudo. E de todos. Era um burburinho só. Às vezes ninguém se entendia. Tamanho era o barulho. Tamanho era o embrulho. E a confusão que se fazia. Mas tinha uma coisa boa. Educação, pelo menos. Ninguém falava ao mesmo tempo. Pois apesar do tormento, de alguma tentativa, a máquina assim exigia. Era um de cada vez. Falar dois de uma só vez não podia. Se não nada se ouvia. Pois a mensagem chegava. Só depois que se apertasse. A tecla chamada "Envia".

A esquina era, na verdade, um espelho da Usina. Espelho que, no mais das vezes, refletia a cultura daquela lugar. Com suas desavenças, ironias, elogios, erros e acertos, vaidades e veleidades. Superficialidades e profundidades. Gente de toda a espécie. Um resumo, portanto, do pensamento e da cultura local.

Passei a frequentar a esquina quase todos os dias. Sempre que me sobrava um tempinho, lá estava eu na esquina; dando os meus palpites; e recebendo o troco que me cabia.

Até que um belo dia, descobri o seu segredo. A língua que se falava. A língua que se usava. Era muito variada. Mas todo mundo se entendia. Não era conversa fiada. Todos tinham sua língua. E língua de vários tamanhos. Para qualquer necessidade. Pra qualquer utilidade.

Tinha gente de língua grande. Que falava sem pensar. E gente de língua curta. Que ficava sem falar. E gente que me dizia. Que sua língua passava. Em todo e qualquer lugar. Tinha gente que lambia. Tinha gente que usava. Sua língua em português. Ou num discreto francês. O alemão também tinha. Quase sempre aparecia. Alguém com essa linguagem.

E tinha gente falante. Por todos os cotovelos. Mandando lamber sabão. Em francês ou alemão. Sempre que a raiva batia. Por erro de acentuação. Inglês, então, nem se fala. Era a fala que mais tinha. Gente de nossa língua. Mas que era americano. Morando no exterior. Que sem o menor pudor. Falava mal do Brasil. Chutando o pau da barraca. Pessoa que não sabia. Da famosa academia. Do japonÊs faixa preta. Que morava em São Paulo. Não sei se na rua, na sarjeta.

E gente fazendo dieta. Sem comer carne vermelha. E nem o fruto do mar. Virava às costas pra lula. Mas havia o que gostava. Pelo menos do cheirinho. Pois era disso que falava. O companheiro erótico. Com ares de que entendia. Muito mais do que você. De tanto que praticou. A ginecologia.

E para encerrar a conversa. Não vamos deixar de fora. Até espanhol havia. O espanhol de La Sierra. Que sempre aparecia. Só vivia aqui na esquina. Com sua língua ferina. Falando de todo mundo. Com o seu saber profundo. E nem se chamava Raimundo.

Agora vou indo embora. Já conheci a esquina. Do assoalho que escorrega. Que nunca ninguém esfrega. Que nunca fica limpinho. Pois tem sempre um pichador. Pra deixar o seu sujinho. E alguém que suja a esquina. E que é logo xingado. Pra receber o castigo. Não é coisa de amigo. E o sujo falando mal. Do outro que é mal lavado.

Lembranças me vêm agora. Vai uma turma entra outra. E a confusão não demora. A esquina aniversaria. A esquina faz história. Passam homens e mulheres. Neste mundo virtual. E que também é real. Já foram muitos amigos. Para o outro mundo, afinal. Deixaram muitas saudades. Companheiros de verdade. Faz parte desse contexto. Com razão ou por pretexto. A vida rodando em círculos. As pessoas vão crescendo. Física e mentalmente. Se bem que algumas destoam. Não crescem, nem viram semente.

Hoje a Usina cresceu. Era uma,hoje são duas. E a saudade bateu.










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