A Outra desde o começo sempre esteve presente. Mas discretamente. Tanto que nunca desconfiei. Ela não competia tão fortemente, talvez nunca precisou competir. Porque talvez tenha consciência de que hipnotiza a todos. Comigo foi assim. Ela ali, sempre presente, nunca me pareceu uma ameaça, mas aos poucos foi entrando na minha vida e dentro da minha casa. Conquistou um lugar junto ao sofá na sala. Assim discreta sempre se fazendo presente, ano após ano entrando na vida da gente. Essa Outra quando está apagada não tem brilho, mas quando se liga nem precisa dizer nada. Aliás conteúdo é o que atualmente mais lhe falta. Mas falta de conteúdo para A Outra parece não fazer falta. Enfim aos poucos ela tomava conta no horário do almoço, coisa que eu já não gostava, mas quando a noite começou a dominar o horário nobre da minha família comecei a torcer a cara. Fiquei mais cara feia ainda, quando percebi que não era só na minha casa. Nem na casa dos outros visitando A Outra sossegava. Vai entrando no meio da conversa com sua voz imposta, corta a conversa e ninguém conversa mais nada. Só enxergam A Outra pela frente. Assim A Outra a cada dia mais indecente, com caras e bocas e até bundas siliconadas, infelizmente até as crianças A Outra agora dominava. Comecei a ficar triste de repente, mas ninguém mais se importava. A outra tinha roubado minha família, meu marido por ela se apaixonara. Todo dia de noite ficava com a outra, até altas horas da madrugada na sala. Pior quando descobri, que ele queria levar a outra para o quarto da nossa casa. Aí o ultimato eu dei. Peguei a outra e joguei pela sacada. Feliz da vida porque ela finalmente depois de tanto ódio espatifei. Assim eu achei, que tinha me livrado dela da minha vida. Mas para minha ignorância, me enganei. Vieram uns homens de branco e me amarraram e me internaram. E ainda me disseram que eu fiquei louca, imaginem: Por causa da Outra! Será que eu é que sou louca??? Eu só sei que agora A Outra, é quem manda lá em casa.
