Atualmente, Che deixou de ser um guerrilheiro, amado por uns e odiado por outros, para ser um souvenir. Che Guevera está no mercado e é uma marca facilmente vendável. Vemos o comandante Che no traseiro de Gisele, nos rótulos das garrafas de cachaça ou tremulando nas bandeiras da Camisa 12 do Internacional.
O mesmo Che dos anos 60 que nas décadas de 70/80, era ídolo e estava nas boinas dos que sonhavam com a revolução que libertaria a classe trabalhadora. O que aconteceu com o guerrilheiro de Sierra Maestra? Nada mais do que a mitificação do revolucionário. A formação do mito. Um mito que simboliza a utopia da revolução. O sonho com uma nova sociedade igualitária.
Devemos ter em mente que Che, Fidel e outros imaginavam lutar e lutavam por uma nova sociedade livre e com justiça social, com todas as contradições que hoje estão límpidas diante de nossos olhos. O resultado disso tudo chamamos socialismo real e Cuba é um exemplo que sobrevive. Os parâmetros de análises, daqueles anos utópicos, exigem uma sensibilidade poética para seu melhor entendimento e compreensão.
O que Che representa hoje?
Devemos fazer uma contextualização histórica para entender fenômeno da formação do mito Che Guevara.
Naquela utópica década, o mundo vivia o auge da guerra fria, dois blocos polarizavam a política mundial: comunismo e capitalismo; Pacto de Varsóvia e a OTAN. O imperialismo americano fomentando ditaduras pela América: Brasil, Uruguai, Argentina, Chile, Paraguai etc.
Foram naqueles longínquos anos de chumbo que Che correu mundo, lutando por justiça, liberdade e autodeterminação dos povos. Che simboliza a luta contra a ordem estabelecida, contra o statu quo vigente. Foi nesse contexto que Che torna-se o ídolo e posteriormente é mitificado pelos jovens, estudantes e todos aqueles que desejam um mundo melhor. Che representa a mudança, a revolução em nome de uma utopia. Os trabalhadores sujeitos dos seus destinos. Lembremos que “Paz e Amor”, era um modo de vida que a juventude sonhava.
Onde entra Fidel nessa história?
Há quarenta anos Fidel Castro foi o vitorioso. Como revolucionário Fidel triunfou na revolução cubana. Em 1959 o mundo volta os olhos para Sierra Maestra, nomes como Fidel, Raul, Guevara e Cienfuegos são destaques revolucionários. Cuba representa uma expectativa socialista na América. A experiência socialista cubana cai no agrado dos ideólogos de esquerda. Inclusive pelo fato de um país pequeno a poucas milhas dos EUA. Uma ilha desafiando uma potência capitalista.
Mas Fidel envelheceu com a revolução.
Devemos ter consciência que Cuba vive há mais de 40 anos com embargo financeiro e econômico patrocinados pelos EUA, mas o mundo mudou várias vezes e Fidel continuou fiel ao sonho marxista da década de 60.
Entretanto, Che tornou-se um mito; Fidel um ancião ditador ensimesmado numa ilha do Caribe. Numa Cuba intocável e sobrevivente a duras penas.
Para concluir, façamos um pequeno exercício; se Che tivesse ficado em Cuba e Fidel fosse o companheiro encarregado de expandir a revolução para América do Sul. Hoje, passados 40 anos, quem seria o mito? Quem seria o ditador?
Bem provável que Fidel estivesse nas boinas e bandeiras dos clubes e Che o comandante supremo das quatro décadas de revolução em Cuba.
Prefiro Che nas bandeiras das torcidas, no bumbum de Gisele e vê-lo como um símbolo de uma era, que foi rica em conflitos e sonhos utópicos. Provavelmente, inspiração de vastas memórias.