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Contos-->O PSIQUIATRA -- 18/03/2005 - 17:13 (Marco Antonio Cardoso) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A mulher, cheia de dúvidas, deitada no divã, divagando. Uma hora ouvindo, anotando, olhando para o relógio a cada cinco minutos - Isso não acaba nunca - e de repente uma idéia, uma voz de dentro a lhe dizer coisas obscenas, imorais, perigosas.
Não era nada de cunho sexual, e mesmo que fosse, aquela criatura ali deitada não lhe inspirava nenhuma fantasia, não dava nenhum tesão. Se ainda fosse aquela mulata que tinha hora marcada somente na quinta-feira, mas não era.
- A senhora já pensou em se matar?
A mulher olhou-o, estupefata.
- O que o senhor disse?
- Veja bem, a senhora vem aqui regularmente toda terça-feira, chova ou faça sol, por dois longos anos, para narrar sempre as mesmas situações, angústias e decepções com a vida e consigo mesma. Ainda que tenhamos feito alguns progressos em recuperar sua auto-estima, algumas vezes, quase sempre seu mundo desaba. Encaremos os fatos. Essa vida não é exatamente o que você quer. Não era pra ser desse jeito, mas agora não tem volta, não tem concerto. Quanto tempo e dinheiro a senhora tem desperdiçado na vã tentativa de manter uma farsa de existência, vazia, inócua, perdida, quando poderia por um fim a todo esse sofrimento, apenas saltando de algum edifício e pronto. Teria feito alguma coisa que ficaria gravada nas vidas das pessoas, até mesmo daqueles que nem te conhecem.
A mulher, uma senhora de seus quarenta e poucos anos, bem vestida, dona de algum status na sociedade, não podia acreditar no que estava ouvindo, mas continuava quieta, muda, rolavam as lágrimas timidamente, e ela ouvia tudo o que o psiquiatra dizia, como se fosse uma absolvição para sua alma.
Ficaram em silêncio pelos quinze minutos que restavam da consulta.
Ela saiu, muda, inquieta por dentro, mas petrificada por fora.
Ao chegar no andar térreo do edifício onde ficava o consultório, entrou no pequeno pub e pediu um whisky duplo sem gelo, ela que quase nunca bebia, só um vinho branco de vez em quando.
Entornou o conteúdo do copo goela abaixo e saiu.
Tomou o elevador e subiu até o último andar do prédio, o vigésimo.
Foi até o teto pela escada de incêndio e correu resoluta na direção do para-peito, projetando-se como um pássaro no espaço sem retorno.
O psiquiatra saia pela garagem quando notou a aglomeração ali perto.
- Uma mulher pulou! Alguém disse.
Ele esticou a cabeça pela janela do carro e viu a bolsa de sua paciente no asfalto.
Partiu sem demora para pegar sua filha na escola. Eram já 16:00 horas.

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