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Contos-->O MISTÉRIO DA CASA CINZENTA -- 18/03/2005 - 01:32 (Lucimar Justino) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Sobre a mesa restavam apenas algumas folhas esparsas com poemas fragmentados, umas frases sem nexo, umas idéias sem fundamento... Havia ainda uma caneta esperando uma mão e um livro banhado pelas lágrimas de alguém que há pouco ali tinha estado. Pairava um clima de morte, a casa estava vazia, tudo tão silencioso e sombrio. Lá fora fazia um frio de cemitério. Um tênue feixe de luz penetrava pela frincha da janela. O vento glacial assobiava nas quinas das paredes nuas e alastrava-se por todos os cantos à caça de alguma alma solitária e erma. Mas não havia naquela casa cinzenta alma alguma. Havia apenas solidão e um vazio incompreensível.
Era uma casa muito simples e já havia um bom tempo que estava inutilizada. Pertencia ao Sr. e Sra. Wilson, um casal de britânicos idoso, que morrera misteriosamente numa noite de sexta-feira treze de lua cheia. Mas a paisagem não tinha nada de lúgubre; antes era inclusive romântica e passava uma paz fantástica ao espírito perturbado pelas agitações da vida citadina. Mas o filho do casal, a quem pertencia a casa, quase nunca vinha. Sabiam por cima, as pessoas que ali viviam, que era muito ocupado na sua vidinha citadina. De vez em nunca aparecia. Mas era quieto e misterioso, não falava com ninguém e, de repente, já tinha ido.
Naquele domingo de maio... ainda me lembro como se fosse hoje do crepúsculo, dos pássaros cantando, do colorido do céu, das estrelas despontando no infinito... As montanhas pareciam estar dormindo depois de um longo dia de agitação. As árvores também repousavam acolhendo, certamente, em seus braços as aves que durante todo o dia brincaram, correram, cantaram, amaram-se, criaram a vida que enfeita a natureza. Mas e as borboletas, onde estariam? E a lua? Por que não aparecera? O céu estava encantador, mas a lua não estava. Fiquei a imaginar que talvez estivesse traindo a noite com o sol. Que loucura! Lembro-me tão claramente de tudo.
E naquele tempo eu era mesmo louco. Não podia calcular a dimensão de minhas atitudes. Às vezes subia a montanha à meia noite só para sentir-me mais perto do céu e admirar, como um deus, toda aquela imensidão de beleza que me extasiava. E ficava inerte por muito tempo, chegava a adormecer no colo da terra. Acordava com o sol já quase raiando. E então eu ficava mais um pouco. E as horas iam passando. Eu não podia, naquele tempo, segurar as horas. Eu tinha medo que nunca mais pudesse contemplar tudo aquilo. Cada vez que me embriagava na alma do belo eu sentia como se fosse aquela a última vez.
Ele aparecera de manhã. E trazia consigo uma jovem encantadora. Tinha os cabelos compridos e loiros que desciam pelo seu ombro como a madressilva enfeitando o pé de ipê. Seu sorriso a nada poderia se comparar tal a paz e o brilho que expressava. Quando abria a boca sua voz suave acalmava a mais atormentada das almas com as palavras que só seu coração sabia dizer. Seus olhos eram verdadeiros berços de ternura. Era a mulher mais bela que eu já conheci.
Caminharam juntos pelos campos como dois pombinhos enamorados. Era só felicidade. Ninguém poderia imaginar as conseqüências de tão sublime sentimento. Ela colhia algumas flores e ele a protegia instintivamente. Foram à Cachoeira dos Amantes. Ela se despia como se isso fizesse parte de um ritual do outro mundo. Em movimentos sensuais livrava-se de cada vestimenta e sorrindo deflorava a virgindade dos olhos daquele semblante embasbacado que apreciava cada forma, cada contorno, cada curva sinuosa que se desenhava por aquela escultura afora. Era a mulher mais linda do mundo. E tinha tudo que um homem poderia sonhar. Era uma deusa.
Depois do banho subiram juntos a montanha como dois deuses cientes de que o são. Puderam apreciar o derradeiro pôr-do-sol mais luminoso do ano, porque depois desse nenhum outro pôr-do-sol foi tão bonito. Já quando não se podia divisar bem o caminho eles regressaram à casa cinzenta. Mas ninguém os viu voltando. Só na manhã seguinte ficariam sabendo do ocorrido.
O primeiro a adentrar a casa foi o Investigador de Polícia, um sujeito impostor e chato do qual ninguém gostava, pois vinha sempre com o seu interrogatório azucrinante. A casa estava chorando como nunca. As paredes se despedaçavam porque não poderiam, em hipótese alguma, testemunhar o que houve realmente. Tudo era melancólico. Sobre a mesa da cozinha dois cálices onde os amantes haviam se embriagado. Na mesa da sala alguns poemas e uma carta de amor que dizia:
“Você sabe que eu gosto de você, mas isso é motivo para fugir de mim, não fuja de mim, eu preciso do teu sorriso, da tua presença, do teu abraço, do teu carinho. Preciso mais de você que tudo. Você me faz encontrar com Deus, me faz ver tudo mais bonito. Quando estou ao teu lado o tempo parece parar e para mim nada mais importa, importa apenas ficar olhando para você. Mas quando você se afasta de mim leva junto meu coração. Fica em meu peito apenas um vazio, uma saudade, uma vontade louca de te ver de novo e te dizer o quanto você me é especial. Não quero botar a perder o nosso caso. Sinceramente acho que você tem uma quedinha por mim, mas não tenho certeza, e é isso que eu preciso descobrir. Estou numa situação muito complicada, mas eu vou ser forte, meu amor, vou jogar o seu jogo para conquistar o teu coração. Quero te mostrar o quanto eu gosto de você e como você pode ser feliz ao lado meu. Não tenho lá muita coisa, nem sou alguma coisa, mas tenho muito amor para dar, sinto que meu peito quase explode de amor, e eu quero alguém para estar ao lado meu, para eu ligar todos os dias de manhã só para dizer: eu te amo, eu preciso de você, tenha um bom dia. Meu amor, por que você fica jogando comigo, por que não ouve o seu coração. Olha nos meus olhos. Veja a minha solidão. Perceba o quanto estou precisando do teu abraço. Eu sem você não sou nada, porque o dia inteiro eu só penso em você. Você passou a ser a razão do meu viver, e agora nada mais me importa se eu não pensar em você. Você virou meu vício. Por que? Por acaso, será? Você acredita no destino, no acaso? Não, meu amor, não nos encontramos por acaso não, eu pedi tanto a Deus uma pessoa especial assim como você e agora te encontrei. As coisas deram tão certo que imaginei, meu amor, que penso e tenho quase certeza de que são teus olhos verdadeiros berços de ternura quando me olhas nos olhos. Posso sentir a tua alma, o teu coração. Posso viajar pela tua emoção. Fico só imaginando o que você pensa à noite, com quem você sonha, se pensa em mim, ao menos uma vez. Quem me dera estar ao teu lado, te abraçar, te beijar, te sentir. Mas é o que quero. Não podemos ser amigos. Não consigo disfarçar e você vê isso em meus olhos. Você já percebeu que meu sentimento por você é bem mais que amizade, que eu gostaria de te ligar todos os dias, que eu tenho muito medo de te perder. Você sabe que eu te amo, mas eu ainda irei te dizer, olhando nos teus olhos, eu te amo. Quero ver a sua reação, o que vai dizer, a sua atitude. Você pode tentar, mas um dia eu te pego de surpresa e te digo tudo o que sinto. Quando menos você esperar, eu te surpreenderei.”
Sob a mesa o sangue do amor que se espalhava no caminho que levava ao quarto, onde ele a deitou confortavelmente na cama, colocando sua cabeça sobre um travesseiro de pena e deitando-se ao seu lado com uma faca enfiada no peito, abrindo seu coração de pedra que jamais aceitaria perdê-la.
Eram os nossos corpos abraçados num sinal de amor eterno.



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