Eleição. Quem Menos Decide É o Povo
(Domingos Oliveira Medeiros)
A imprensa continua apostando todas as suas fichas contra o Ciro Gomes. E o bombardeio assemelha-se ao que foi imposto pelos EUA no Afeganistão. Atingiu todos os lugares, sem qualquer preocupação em verificar se o alvo era militar ou civil. Culpado ou inocente. Sendo que, no final das investidas, nem sempre prevaleceu a precisão cirúrgica dos mísseis de última geração. Nem sempre os alvos pretendidos foram atingidos. E, por conta disso, feriram-se e mataram-se inocentes. E o pedido de desculpas, como sempre, não devolveu a vida dos que se foram, nem repararam as dores dos que ficaram.
Agora mesmo, os jornais nos dão conta, com muita ênfase, e valendo-se de amplos e generosos espaços, acerca do uso do dinheiro do FAT, que teria sido supostamente utilizado, de forma indevida, pela Força Sindical, durante o período em que o vice de Ciro Gomes, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, presidia aquele organização sindical.
A chefe da Controladoria Geral da União, ministra Anadyr de Mendonça Rodrigues, teria recomendado, na data de ontem, ao Ministério do Trabalho, que rejeite a prestação de contas de 2001 da entidade. A ministra sugere a suspensão temporária dos recursos até que seja realizado um exame minucioso da contas. Para a ministra, não teria havido erro do sistema, conforme fora alegado pelo Ministério do Trabalho.
Sem pretender entrar no mérito da questão, vale lembrar que a divulgação desta notícia, justo na época em que existe um processo eleitoral em curso, no qual o Paulinho participa como vice na chapa de um dos concorrentes ao cargo de presidente da República, o Ciro Gomes, é, no mínimo, estranho. E mais estranho ainda pelo fato de que a notícia tenha sido levada ao conhecimento da imprensa, quando, a rigor, deveria ter tratamento sigiloso, já que está em fase de apuração, ainda em sua fase administrativa.
De concreto é que, uma vez que a notícia vazou para a imprensa, não se podia esperar outra coisa. A mídia, de modo geral, que já vem, há tempos, querendo eliminar o Ciro Gomes da corrida presidencial, aproveitou mais esta grande chance, que recebeu de graça, para divulgar a notícia “oficial” com competência e muito alarde.
É bom lembrar que não se trata de nenhuma sentença judicial transitada em julgado; o que, nesse caso, seria até compreensível. Mas como se trata de mera suspeita, de ordem contábil, contra a qual existe, inclusive, um pronunciamento de um órgão que pertence ao próprio governo, no caso o Ministério do Trabalho, não há como conceber tamanho disparate na sua divulgação.
Até porque, o próprio Ministério do Trabalho já teria se pronunciado a respeito, isentando a Força Sindical de responsabilidade direta pelas irregularidades. É, no mínimo, estranho o procedimento em causa, por parte da ministra.
Quem irá reparar os prejuízos já causados à candidatura da Frente Trabalhista, caso a ministra, “a posteriori ” chegue a conclusão de que inexiste, de fato, qualquer ilícito praticado por parte da Força Sindical /ou do seu presidente licenciado, o Paulinho?
Eleição no Brasil, ultimamente, tem sido, cada vez mais, um processo onde quem menos decide é o povo.
Domingos Oliveira Medeiros –
04 de setembro de 2002
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