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cronicas-->JOGAR NA LATA DE LIXO -- 26/11/2003 - 23:26 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
JOGAR NA LATA DO LIXO

Francisco Miguel de Moura*

Para jogar na lata do lixo é preciso ter lata onde caibam o lixo e o luxo. Por que digo isto? Lá vem a pergunta. Estou falando com quem? Outra. Resposta: com os meus botões, com o meu computador. Outrora se falava com o caderno, o lápis, a pena, o tinteiro; mais antigamente, com os botões. Hoje é tudo moderníssimo, as roupas nem têm botões, quando muito pregam peças de ferro, de plástico...
Por falar em plástico, vi, dia destes, uma coisa impressionante. Parte da frente de um automóvel de plástico. Era como se fosse de ferro, a gente pegava e via a coisa mais mole. Assim, aquelas abas que cobrem os pneus, não o capuz. Este ainda é de ferro ou coisa que o valha. Qualquer dia deste teremos carros totalmente de plástico. Já não temos ligações de plástico nas artérias, em partes que dizem respeito à circulação do sangue, ajudando o coração a pulsar?!
E continuamos a jogar na lata do lixo aquelas coisas antigas, imprestáveis, substituídas pelo que a ciência e a técnica nos entregam (só os pobres de espírito não sabem o que é ciência nem técnica). Mas não sabemos jogar na lata do lixo, nossas preocupações, nossas ansiedades, nossos maus pensamentos. Porque somos homem, gente, temos uma infinidade de neurónios, nervos, carne, ossos, cartilagens, sangue, pulmão, tripa, fezes, urina, etc. E não temos como governá-los. Aliás, grande parte desse velho organismo nos governa, não é governada por nós. Quem sabe quando se vai ter um enfarto ou um derrame? Quando se começa a adoecer? Quando se está próximo da morte, mesmo que seja uma morte violenta, por faca, arma de fogo ou atropelamento?
Jogar na lata do lixo toda esta conversa de boca-de-noite, hoje é meu mister, pois não sei se amanhã terei vontade de pensar e de sentir, de dizer e de passar tudo a limpo (a escrito).
São tolices? São. Aquilo se costuma dizer - jogar conversa fora. Não jogamos fora. Jogamos nesse lixo que algumas vezes é a INTERNET. Outras vezes não. Quem sabe quem nos lê? Ninguém, jamais, a menos que esse alguém nos passe um e-mail para contar de sua leitura, boa ou má, ligeira ou demorada, crítica ou apenas circunstancial, parcial.
Hoje joguei muita coisa na minha lata do lixo. Bilhetes, cartas, recortes de jornais, fotos, caricaturas, desenhos, cartões de natal. Não sou museu para guardar tudo isto. Não sou célebre (talvez nunca me torne) para que meu arquivo futuro se transforme em fundação ou seja guardado em algum lugar com o meu nome em destaque, para que os futuros homens deixem a televisão e o computador e venham visitar-me, ver, olhar com carinho, ler, pesquisar e escrever-me a biografia.
Lata do lixo neles.
Nossa cama, figuradamente ou não, também é uma lata de lixo. Quando nela nos deitamos, os sonhos tomam conta de nós, tanta besteira a correr solta, tanto símbolo a ser estudado e decifrado. A vida da sombra. A vida do sono. A vida que só há porque existe esta outra vida da carne, do corpo. A alma será isto? O espírito?
De manhã, tudo acabou. Levantamos pensando se aquilo fosse verdade como seria bom ou seria mau. Eu não penso, não lembro, faço questão de não lembrar dos meus sonhos. Jogo-os todos na lata de lixo na hora que desço da cama.
Leitor, jogue também você esta crónica na lata do lixo. De nada lhe vai servir. Serviu para seu passatempo, agora, e só. Assim é a vida. Uma crónica que passa e que depois vira lixo. E que lixo!
Mas, enquanto não passa de todo, vivamos com prazer, como se o hoje fosse eterno e como se o amanhã já estivesse chegando para sempre: a integração na lata de lixo da história do homem, a história do nada.
____________________
*Francisco Miguel de Moura, poeta e prosador, residente em Teresina, PI, onde é membro da UBE, da APL e do Conselho de Cultura.
JOGAR NA LATA DO LIXO

Francisco Miguel de Moura*

Para jogar na lata do lixo é preciso ter lata onde caibam o lixo e o luxo. Por que digo isto? Lá vem a pergunta. Estou falando com quem? Outra. Resposta: com os meus botões, com o meu computador. Outrora se falava com o caderno, o lápis, a pena, o tinteiro; mais antigamente, com os botões. Hoje é tudo moderníssimo, as roupas nem têm botões, quando muito pregam peças de ferro, de plástico...
Por falar em plástico, vi, dia destes, uma coisa impressionante. Parte da frente de um automóvel de plástico. Era como se fosse de ferro, a gente pegava e via a coisa mais mole. Assim, aquelas abas que cobrem os pneus, não o capuz. Este ainda é de ferro ou coisa que o valha. Qualquer dia deste teremos carros totalmente de plástico. Já não temos ligações de plástico nas artérias, em partes que dizem respeito à circulação do sangue, ajudando o coração a pulsar?!
E continuamos a jogar na lata do lixo aquelas coisas antigas, imprestáveis, substituídas pelo que a ciência e a técnica nos entregam (só os pobres de espírito não sabem o que é ciência nem técnica). Mas não sabemos jogar na lata do lixo, nossas preocupações, nossas ansiedades, nossos maus pensamentos. Porque somos homem, gente, temos uma infinidade de neurónios, nervos, carne, ossos, cartilagens, sangue, pulmão, tripa, fezes, urina, etc. E não temos como governá-los. Aliás, grande parte desse velho organismo nos governa, não é governada por nós. Quem sabe quando se vai ter um enfarto ou um derrame? Quando se começa a adoecer? Quando se está próximo da morte, mesmo que seja uma morte violenta, por faca, arma de fogo ou atropelamento?
Jogar na lata do lixo toda esta conversa de boca-de-noite, hoje é meu mister, pois não sei se amanhã terei vontade de pensar e de sentir, de dizer e de passar tudo a limpo (a escrito).
São tolices? São. Aquilo se costuma dizer - jogar conversa fora. Não jogamos fora. Jogamos nesse lixo que algumas vezes é a INTERNET. Outras vezes não. Quem sabe quem nos lê? Ninguém, jamais, a menos que esse alguém nos passe um e-mail para contar de sua leitura, boa ou má, ligeira ou demorada, crítica ou apenas circunstancial, parcial.
Hoje joguei muita coisa na minha lata do lixo. Bilhetes, cartas, recortes de jornais, fotos, caricaturas, desenhos, cartões de natal. Não sou museu para guardar tudo isto. Não sou célebre (talvez nunca me torne) para que meu arquivo futuro se transforme em fundação ou seja guardado em algum lugar com o meu nome em destaque, para que os futuros homens deixem a televisão e o computador e venham visitar-me, ver, olhar com carinho, ler, pesquisar e escrever-me a biografia.
Lata do lixo neles.
Nossa cama, figuradamente ou não, também é uma lata de lixo. Quando nela nos deitamos, os sonhos tomam conta de nós, tanta besteira a correr solta, tanto símbolo a ser estudado e decifrado. A vida da sombra. A vida do sono. A vida que só há porque existe esta outra vida da carne, do corpo. A alma será isto? O espírito?
De manhã, tudo acabou. Levantamos pensando se aquilo fosse verdade como seria bom ou seria mau. Eu não penso, não lembro, faço questão de não lembrar dos meus sonhos. Jogo-os todos na lata de lixo na hora que desço da cama.
Leitor, jogue também você esta crónica na lata do lixo. De nada lhe vai servir. Serviu para seu passatempo, agora, e só. Assim é a vida. Uma crónica que passa e que depois vira lixo. E que lixo!
Mas, enquanto não passa de todo, vivamos com prazer, como se o hoje fosse eterno e como se o amanhã já estivesse chegando para sempre: a integração na lata de lixo da história do homem, a história do nada.
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*Francisco Miguel de Moura, poeta e prosador, residente em Teresina, PI, onde é membro da UBE, da APL e do Conselho de Cultura.
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