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Contos-->MAS QUE VIDA DE CACHORRO!... -- 04/03/2005 - 06:43 (ADELMARIO SAMPAIO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

MAS QUE VIDA DE CACHORRO!...

[Quem é diferente estará só, onde estiver...]

O Lobinho era mesmo uma graça. Era o encanto da família dos lobos. Mimado como todo neto pelo vovô Lobão, e pela mamãe Loba; e a esperança do papai Lobo.
Mas o Lobinho tinha sim algo de diferente. Uns diziam que a diferença estava no olhar... Outros apostavam que era o jeito diferente de andar... Mas um dia, o comentário inevitável surgiu:
_ Ele parece mesmo é com um cachorrinho da cidade.
O comentário caiu como uma bomba sobre a família. O pai Lobo não gostava que falassem. Tinha esperança de que o filho fosse um valente caçador que o substituísse mais tarde na liderança da alcatéia. Mas os maldosos comentários não paravam. E as brincadeiras eram repetidas a cada dia, e até apelidos maldosos apareceram.
_ Ele dessa idade, nem uiva como lobo... – alguém comentou um dia. - Logo logo, ele deve latir!...
As risadas eram inevitáveis.
Então o pai, o duro guerreiro, colocou urgente o filho na escola de uivo, mas embora tivesse o melhor professor que havia, Lobinho não tinha mesmo jeito pra coisa... E muito tempo depois, aulas e aulas depois, o mestre disse que o uivo que ele tentava, parecia mais com um ganido... A notícia se espalhava, para vergonha da família.
Um dia, foram ouvidos uns latidos por perto. Todos se levantaram de prontidão. O pai Lobo pensou que poderia ser a oportunidade para fazer com que o filho tomasse gosto pela caça. Puxou o filho, e disse:
_ Venha comigo!...
O Lobinho fez corpo mole, mas viu que não tinha nem tempo de arranjar uma desculpa, porque foi arrastado pelo pai, e um instante depois já estava na mata, diante da batalha.
Os lobos cercavam um grupo de cães que tentavam valentemente se defender. E a luta foi muito dura, mas um grupo maior de cães conseguiu fugir, mas ficaram dois feridos no meio da roda de lobos, que não tiveram como passar, e foram estraçalhados, e em pouco tempo, devorados.
Na confusão da batalha, o pai esqueceu o filho. Mas quando a luta terminou, procurou por ele, e não achou.
_ Onde está meu filho, - perguntou aos outros.
Todos procuraram, mas não encontraram o filhote. O lobo desesperado mandou que fosse procurado nas redondezas, e nada. Seguiram no encalço dos cães que fugiam, mas não puderam mais alcançá-los.
O pai então teve a maior decepção de sua vida, quando subiu em uma pedra enorme, e viu o filho que fugia com o grupo de cães. Para que não ficasse envergonhado, e que não fosse motivo de piadas, espalhou que o filho fora morto e devorados pelos ferozes inimigos.
*
Na cidade, o lobinho aprendeu com facilidade a se comportar como um cão. Em pouco tempo, latia melhor que muitos deles. Convivia com um grupo de cães vadios, e em pouco tempo, aprendeu a se virar como eles, conseguindo comida nas latas de lixo espalhadas pelas ruas do bairro.
Nas andanças por esses lugares, percebeu logo que alguns cães bonitos e bem tratados que viviam trancados nas casas. E quando aprende a latir fluentemente, tentou contato com essa população diferente, mas foi era enxotado pelos humanos que agiam como se fossem os donos dos cães presos.
Mas na cidade Lobinho tinha problemas. O maior deles, era por causa do seu sotaque de lobo. E as brincadeiras dos cães muitas vezes resultavam em sérias brigas.
Ele tinha que fazer que não ouvia coisas como essas:
_ Lá vem aquele cachorro que parece um lobo.
_ Não fale isso que ele não gosta.
_ Mas ele parece mesmo...
_ Cale a boca... Dizem que ele é mesmo um lobo. Dizem que veio das matas fugido com um grupo de cães de caça. E tenha cuidado porque ele é mesmo uma fera. Briga como um lobo, e dizem que já matou alguns cães que zombaram dele...
Quando Lobinho chegava mais perto todos se calavam. Tinham medo. E era por isso que vivia cada vez mais, isolado dos outros.
E isso não foi de todo ruim. Porque quando surgiu a epidemia de raiva entre os cães da cidade, ele foi dos poucos que escaparam.
Estava dormindo um dia, quando ouviu tiros. Correu para ver o que estava acontecendo, e viu que uns homens estavam matando os cachorros de rua. Devia ser por causa da doença. Ele assustado saiu correndo, mas foi atingido por uma bala. Ele tentou se esconder, mas viu que não podia, e teve que fugir da cidade.
O tiro havia entrado e saído de seu corpo, mas ele sangrava. Andou pelas matas, escondendo-se de homens e animais. Mas o sangramento não parava e ele sentiu-se fraco. Percebeu que iria morrer. Com esforço andou mais um pouco em direção ao lugar onde nasceu, mas viu que não tinha condições de continuar. Já devia estar perto de casa, mas estava sem forças.
Entrou dentro de uma moita de arbustos e adormeceu. Quando acordou, as pernas tinham perdido totalmente as forças, mas sentiu que ainda tinha forças nos pulmões. Olhou ao redor, e percebeu que estava perto. Apurou os ouvidos, e ouviu uivos. Reuniu toda a força que tinha, e tentou uivar, mas o som já saiu meio rouco e não viu mais nada.
De dentro da toca, o Lobo ouviu a algazarra. Ouviu que os lobos haviam encontrado caça.
_ É um cachorro!... – Alguém gritou entre os que corriam para a mata.
O Lobo lembrou-se do filho.
Saiu correndo, e gritando para os outros que não tocassem no cachorro. Gritou desesperado que ficou sabendo que os cães da cidade estavam com uma epidemia de raiva, mas não foi ouvido. Correu o mais que pode, mas chegou tarde. O cachorro já estava estraçalhado pelos lobos ferozes de seu grupo, e sendo devorado. E mesmo todo dilacerado pelos dentes, o Lobo pode ver o olho aberto, e teve certeza de que era o olho de seu filho.

**

Adelmario Sampaio
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