Desce de um avião
um sujeito afobado,
mas, com tanta aflição,
mostra-se preocupado.
Em um táxi logo entra
e, durante a corrida,
no taxista concentra
e faz-lhe grande pedida.
Precisa de testemunha
pra flagrar sua mulher,
cansou-se de roer unha,
seja o que Deus quiser.
O chofer, então, aceita
testemunhar qualquer fato,
chegam ambos de espreita
pra verem o desacato.
Pé ante pé o marido
e ele chegam ao quarto;
no escuro, nada lido,
no claro, cobertor farto.
O marido lhes arranca
o cobertor do delito,
o coito ele estanca
do homem ind`adstrito.
Na cabeça do humano
cano de trinta e oito,
marido em brevi manu
quer vingar-se tod`afoito.
A traidora, então,
grita bem desesperada,
quer lhe fazer confissão,
era tudo mentirada.
Faz a defesa do réu,
diz que ele é bondoso,
acha que caiu do céu,
foi sempre bem amistoso.
Ela, então, lhe contou
que para ele mentira,
pois jamais algo herdou,
o que lhe dá, dele tira.
—Foi ele quem já pagou
o carrão que eu lhe dei,
foi ele quem arranjou
tudo em Angra dos Reis.
Nossa quota do Yate,
lancha, toldo e motor,
não quero que você mate
quem mais nos presenteou.
Perplexo, então, o marido
baixou a arma aos poucos;
embora sendo traído
não se põe entre taroucos.
Pergunta ao bom taxista,
o que faria então,
se virasse arrivista,
se tornasse cafetão...
O chofer, sem vacilar,
volta com o cobertor
pro homem agasalhar
e manter o seu pudor.
E arremata, dizendo:
— É preciso ter cuidado,
pelo pouco que entendo,
ele vai se resfriar.