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Contos-->FARELO NOTURNO -- 27/02/2005 - 20:58 (Luis Gonçalves) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Farelo Noturno
Luís Gonçalves
Freqüentador assíduo do baixo meretrício era um boêmio inveterado de baixo calão. A má fama rendia-lhe algumas mordomias com relação às prostitutas dos prostíbulos menos agraciados dos ditos boêmios sadios. Mas a vida famosa cobrava-lhe certas escapulidas perigosas. Fazia valer os segredos da velha avó. A mídia incumbia de divulgar a presença. E isso se tornou uma farra de porte maior. O locutor Odener Kid, sarcástico e com deboche, fazia questão de anunciar:
— Mocinho foi visto lá no Cantoria tomando uma bem gelada...
A policia saía derrubando gente, igual filhote de anta em debandada. Botava quem encontrasse pela frente contra a parede.
— Mão na cabeça, documento!
Nada! O homem havia sumido no mundo. Revoltada, quebrava o pau, espancava, explorava e roubava. Era o preço a pagar pela própria incompetência.
— Mocinho, acabou de chegar no Zagaia...
Lá ia a polícia afrontada, igual burro em arreio justo buscando deter o facínora. Quando chegava lá, má notícia. Só restava o trabalho de espancar os bêbados e atazanar os freqüentadores fuleiros que vadiavam ali.
— Mocinho foi visto no Tom Chopim...
Era assim que sucedia.
— Mocinho, está no Haus Bier...
Havia final de semana que a polícia passava a noite inteira trotando de lá, para cá e de cá, acolá — atrás do homem e nada.
— Ficávamos com a mão ardendo de tanto esquentar o focinho da galera a procura desse homem!
Palavras dos oficiais. Assim os comentários só aumentaram, originando um bacanal de lorotas que ronda as mesas dos bares da Boca Maldita até dias de hoje.
— Esse homem não é deste mundo!
— Vote! O homem tem parte com o demônio!
Uns diziam, que: ele virava pedra; outros afirmavam que sumia e aparecia em outro lugar.
— Cansei de ver! Ele vai andando de repente some. Ninguém vê para onde ele vai.
Pensamento que foi fomentado entre o povo, nos meios de comunicação. Disque virava pedra. Assim sendo, surtiu um desentendimento entre a Imprensa e a Polícia. A coisa virou um angu mal mexido. A PM acusou a mídia de estar estimulando a criminalidade, promovendo a imagem do delinqüente procurado. Jogo de empurra-empurra.
A força policial vivia um momento delicado. O baixo soldo transformava a tropa em refém da opinião pública. O narcotráfico ganhava as ruas implantando um regime de terror. Coagidos preferiam aceitar as propinas. Depois, pereciam com o estresse psicológico, buscando o aconchego da guarita, dormindo em cima do muro. Estava baratinada. Sem crédito, urgia prender o foragido e recuperar a auto-estima. Mas, não conseguia levantar pista segura que levasse ao paradeiro do suspeito.
Aproveitando o fluxo de imoralidade policial, alguns jovens da classe média — iniciaram também, na prática de pequenos delitos. A violência caía nas costas dos bandidos cadastrados no tirocínio policial. Desencadeou-se uma enxurrada de assalto aos postos de gasolina; bancas de gibis e tabacarias. Sem falar na “galinhagem” dentro das boates.
Um grupo de coroinhas revoltado foi além: entraram na casa do Padre e assaltaram o galinheiro da paróquia. As “penosas” eram para a festa do Divino Espírito Santo. Naquele ano os devotos ficaram sem saborear o tradicional prato de galinha com arroz.
O Bispo, cabisbaixo, veio a público repudiar o ato e cobrar uma atitude enérgica das autoridades. No apagar das luzes, o Governo resolveu intervir e assinou um decreto Lei — colocando fim na liberdade de expressão. Ferindo a imprensa de morte. Houve protestos e a coisa desandou.
Para acabar com a pândega vários profissionais foram convidados a deixar a região. Odener Kid, citado no inquérito sendo o estopim da crise — ao mangar com a cara da policia, teve os direitos cassados. Com a prisão preventiva decretada e sem outra opção, procurou socorro próximo e encontrou o ombro amigo de Mocinho. Juntou a fome e a extravagância de comer. Mocinho fez questão de passar para o novato todos os conhecimentos marginais, adquiridos ao longo da atribulada carreira criminosa. Compadecido com a má sorte do companheiro e sabedor da impossível missão de reverter o quadro e reintegrar o rapaz a sociedade — passou a pensar em algo grande. O caminho era chamar a atenção do mundo, para que o sujeito pudesse pelo menos ter a chance de defesa.
Odener Kid, era norte americano — ex-combatente do Vietnã, chegou na área seguindo o instinto aventureiro. Um perfeito bode expiatório. Esse tipo de gente nunca foi visto com bons olhos. Levantavam tanta suspeita do rapaz, que o programa do Rádio, era gravado antes e passado pelo crivo da Censura Federal. Isso não impedia as tiradas de ocasião. Não era para menos, o moço era sagaz feito onça em arataca mal armada. Não negava a fama de espião. Costumava sorrir das bobagens que ouvia a respeito. Daí em diante, as habilidades militares foram colocadas à disposição do crime organizado. Em termos de estrago o homem era patibular. Capaz de explodir a cidade inteira sem lhe faltar material. Tudo na mão dele virava uma arma mortífera.
O primeiro teste da grande artimanha bélica, foram aplicados na parede do armazém de Bugrita — que ficava ali perto do Beco do Candeeiro, na rua do Meio, entre a Feira da Mandioca, dali do inicio da rua do Pito Aceso e o córrego Prainha — antes da Ponte da Confusão. Era um dos mais sortidos da época. Lá se encontrava de um tudo. Não foi atoa, a escolha. O interesse era no visado estoque de paramento militar.
De posse dos artefatos desejados, Odener Kid, saiu promovendo uma destruição em massa na Capital. Só via prédio ruindo e gente graúda ficando soterrada. Era o início da guerrilha urbana.
A PM montou e equipou um grupo de extermínio, preparado para identificar e punir os suspeitos. O pelotão ganhou as ruas com uma lista de supostos criminosos e foi logo passando ao ato da eliminação sem o ônus da prova. Eram inocentes. Revoltado, Odener Kid passou a abrir fogo contra as autoridades.
O terror tomava conta das ruas.
A dupla explosão matava o tempo sacolejando o esqueleto nas roças de Candomblé. Mocinho nunca negou o gosto pela farra com os espíritos. Varava a noite suando no couro do atabaque e marafando com as entidades pelas encruzas. Na cidade havia um terreiro em cada esquina e um Pai de Santo para cada família.
Foi nesse clima de magia que Odener Kid desenhou o plano espetacular que, segundo ele, acabaria com a carreira criminosa de ambos. Tomou de assalto uma delegacia especializada, libertando os criminosos que foram treinados para a difícil missão. Promoveu vários laboratórios de combate e oficinas de guerrilha armada. Desenvolveu uma campanha de atentados para aprimorar os conhecimentos da tropa. Os sobreviventes receberam técnicas de espionagens Internacionais, no caso de terem que deixar o País.
Tomado os cuidados necessários formaram um grupo de elite de alta periculosidade.
O primeiro a ser recolhido ao cativeiro foi um grande industrial amigo pessoal do Governador. Infelizmente o ato não surtiu o efeito esperado. Tornou-se um fato banal. Acabaram soltando o homem através de um simples pedido de resgate para não levantarem suspeita.
A segunda vítima foi um magnata português. Homem de posses e influência. Dono das melhores casas de diversões da city. Mantinha em suas casas, cadeiras numeradas destinadas aos homens do poder. Freqüentadores assíduos dos sofisticados salões. O reboliço foi grande, mas não o suficiente para o intuito da dupla. As autoridades sentiram-se inibidas em defender abertamente, a causa de uma pessoa conhecida pela vulgaridade.
Foi um choque no cativeiro, quando o português veio, a saber, que era persona non grata, mesmo sendo figurinha carimbada do Clube Feminino e o badalado Baú Sereno. Sem falar que fazia fortuna com a casa das mulheres de vida fácil. Magoado, decidiu entrar para o mundo do crime, financiando o tráfico. Desgostou da sociedade corrupta e mesquinha que o desprezou.
Nesse entremeio, a filha do Imperador do Japão — resolveu conhecer o Pantanal mato-grossense. Quando recebeu a notícia, Mocinho deu uma festa para Exu no terreiro de Mãe Preta, só para comemorar o fato.
Chegado o dia à princesa desembarcou no aeroporto e veio direto para a suíte do famoso Grande Hotel, descansar. No outro dia ia encontrar com a fauna e flora do lodoso charco pantaneiro. Na boca da noite Mocinho sabotou o Chafariz do Mundéo, cortando o fornecimento de água da população. Daí a pouco a fila de espera para apanhar água encostava-se à porta da Santa Casa de Misericórdia. Os guardas tiveram que deslocar até lá para ver o que estava acontecendo. Foi o bastante para Odener Kid explodir a torre de alta tensão da Companhia Força e Luz, deixando a cidade às escuras. Durante o blecaute os dois adentraram os aposentos de Vossa Alteza.
— Ih... E agora!?
No interior, do quarto escuro, depararam com duas moçoilas orientais. Cara de uma, focinho de outra.
— Qual das duas é a tal princesa?
Coitada das damas. Assustadas, morrendo de medo, baixavam e levantavam a cabeça igual papa-vento sem fôlego — pigarreando uma assuada, estranha, de língua.
— Quer saber? Eu acho que é essa.
— Não! Num tá vendo que esta é mais bonita?
— Besta! São as feias que são princesas.
— Larga de ser besta! Quem vai querer princesa feia?
— Por via das dúvidas vamos levar as duas, então.
— Não tem jeito! Só tem um matungo e ainda por cima manco.
Acabaram levando a mais bonita. No outro dia ouviram pelo noticiário matutino do Rádio que a princesa partiu triste sem a dama de companhia.
— Eu não falei, bandido?!
— E agora?
— Ah meu filho! Blau, blau cachimbo de pau.
— É e foi o boi n’água!
Voltaram à estaca zero. Mocinho, revoltado com a beleza traiçoeira da guria, virava e mexia estava lá querendo estrangular a pobrezinha. Mas Odener Kid, impedia. E dessa forma acabou tomando-a para esposa. E para despistar a polícia, cada um dos comparsas pegou o seu rumo até as coisas esfriarem.
Com tempo foi chegando os parentes: pai, mãe, tio, tias, avós, cunhados e sei lá mais o que. Todos agouravam notícias da seqüestrada. Maravilhados com a terra, foram se aconchegando e aqui ficaram.
Injuriado com a imigração o Governo japonês enviou um Samurai especializado em achados e perdidos, mas infelizmente o cidadão foi interceptado no caminho pela Dengue hemorrágica — desaparecendo igual à dama de companhia da princesa.
Vários agentes infiltrados trabalharam nesse caso. Passado tempo, o casal foi encontrado numa fazenda no Pantanal, plantando tomates e com uma penca de barrigudinhos. Cada um mais japonês que o outro.
Abatido com a triste sorte da bela filha e sem condições de reverter à situação o papai Japa tomou uma decisão que julgou ser melhor para poupar o sofrimento da filha. Estava bem ambientado com as tradições regionais, mas sem esquecer a essência Oriental, pegou a espada de samurai e perguntou a Odener Kid:
— Como se escreve touro capão com três letras?
— Não sei.
— Garantido, é boi né...
Com um movimento bravo e um grito habilidoso passou a lâmina no pobre Odener Kid, e lá se foi á máquina de fazer filhos. Sete dias depois a ex-dama de companhia resolve promover um haraquiri utilizando a mesma arma. Não suportou a perda. Odener Kid foi para as ruas e nunca mais voltou. Adquiriu o vício pelo álcool indo conviver com a sarjeta. Gordinho feito um saco de creme de leite. Vivia espojando ali nas imediações do Tanque do Baú, criando futricas com a gurizada vadia...
— Garçom! Essa cerveja tá quente...
— Mas... E o Mocinho?
— Sei lá!...
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