Ouvira de alguém, certa vez, que acordava nos fins-de-semana no mesmo horário que nos dias normais. Pois o mesmo compromisso de aproveitar o dia, ou torná-lo produtivo a outrem, tinha consigo para aproveitar o sábado, domingo ou feriado para ele. Lera também uma entrevista com a ex-Primeira-Ministra da Grã-Bretanha, Margaret Tatcher, que me perdoem a grafia se estiver incorreta, em que a "dama de ferro" confidenciava que dormia apenas 03 horas por noite. Não por dever do ofício, mas para aproveitar melhor as horas do dia. Há também os cientistas que fazem questão de calcular quantas horas em nossa vida dormimos e quantas horas ficamos acordados, com qual propósito não me importa ou nunca importou. O fato é que adotei parte destas práticas e conceitos. Não tão rigorosamente como alguns costumam dizer fazer. Mas acho que o sábado é o dia de produzirmos para nós e nossa família.
Acordara neste sábado cumprindo o mesmo ritual da semana. Leitura do jornal durante e após o café. A espera de minha esposa e minha filha acordarem. Mas com uma tranquilidade incomum nos dias "úteis". Com mais calma no preparo do café, assei uma bandeja de pão-de-queijo. Somente nestes dias fazia isto. Posso pacientemente esperar que os pãezinhos assem. Sentado à frente da janela da área de serviço, sentia a brisa fresca da manhã primaveril. Respirei fundo e em pensamento dei bom dia à cidade do Rio de Janeiro.
A rotina automatizante dos dias "úteis" nos faz imaginar sempre o que poderíamos fazer com nosso ócio. São tantas as coisas, principalmente numa cidade que oferece inúmeros atrativos ao ar livre além das praias. Mas também no sábado temos nossos compromissos. Os compromissos domésticos. Supermercado, feira, shopping, compras, compras e mais compras e os consertos. Ah! Os reparos e ajustes.
No início do casamento, ou numa casa nova, é empolgante dedicarmos nossos sábados aos ofícios de "marido doméstico". Com o passar dos dias tornam-se uma chatice. Principalmente quando nossa esposa cobra.
_ Quando é que você trocará o fio do Ferro de Passar?
Ou,
_ Você troca o interruptor do banheiro hoje?
Ou ainda,
_ Tem que trocar o reparo da torneira! Ou da descarga.
Tudo soa com uma cobrança. Daí toda aquela sensação de pressão, de metas, de desafios impostos na semana vem à tona. Mal o ritmo dos pensamentos se diminuíra. Mal o senso de urgência constante fora esquecido. Confesso que há pouco tempo o "Rinoceronte bem sucedido" acordava comigo aos sábados e já no café da manhã bradava:
_ Vamos logo resolver o que tiver pra resolver agora cedo. Assim temos o resto do sábado.
Mudamos nosso comportamento inconscientemente. Uma rotina de preocupações laborais, estafas, ritmos acelerados, compromissos e responsabilidades, dia após dia, vai minando nossas resistências e quando percebemos já somos outro. Pergunto-me então:
_ Sei que sou chato. Mas será que não estou me tornando um jovem velho ranzinza?
Retorna à memória o que sempre disse a todos. O que eu quero é sossego, paz e tranquilidade. E relembro o célebre discurso do saudoso conterràneo Tancredo Neves:
_ "Meu compromisso, é com a liberdade".
Também a liberdade de fazer o que tem de ser feito. Mas aos sábados, na hora em melhor me convier.
