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Cordel-->O CONTO DO VIGÁRIO -- 13/11/2010 - 13:51 (Benedito Generoso da Costa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O CONTO DO VIGÁRIO

I

Na paróquia certo padre,
Que resolveu inovar,
Para que melhor pudesse
O povo evangelizar,
Dois papagaios comprou
E com paciência ensinou
A um e ao outro falar.

II

Pousados sobre o altar,
Diante da multidão,
Iniciava um dos pássaros
Sua primeira oração,
Pai Nosso ou Ave Maria
E o outro respondia
Com piedosa devoção.

III

Ambos faziam sermão
E o povo ficava atento,
Ouvindo as frases curtas,
Mas de bom ensinamento;
Naquela igreja havia
Gente que se convertia,
Chorando arrependimento.

IV

Caminhou igreja adentro
Uma senhora um dia,
Duas fêmeas de papagaios
Consigo a dama trazia
E o padre ficou vermelho,
Prostrando-se ali de joelho
De tanta fé e alegria.

V

“Eis aí!” - O padre dizia:
“A prova que nos faltava
Pois um bruto também ama,
Mesmo sendo fera brava,
Respeita a Deus Criador
E a Jesus Nosso Senhor,
Que morreu porque amava”.

VI

Todo o povo silenciava,
Ouvindo a pregação
Desse padre pregador,
Naquele especial sermão:
"Santo Antonio certo dia
Ante a Santa Eucaristia
Deu prova de adoração.

VII

Aos hereges de então,
Prometeu missa campal
Ali no Largo de Pádua
No reino de Portugal,
Santa hóstia consagrada
Deveria ser honrada
Até por bruto animal.

VIII

Um burro xucro e bagual,
Montado por um peão
Galopava pela estrada
Na pompa de um pagão
E, antes de cruzar o altar,
Empacou para ajoelhar
Perante a consagração.

IX

Antonio, noutra ocasião,
Foi para a beira do mar
Para ensinar aos peixes
Como se deve adorar
A um só Deus criador
E um cardume com ardor
Pôs as cabeças no ar.

X

Ouvindo o santo pregar
O seu sermão tão bonito,
As baleias de alto mar
Achegaram-se num grito;
Grande tubarão saltou
E as santas mãos beijou
De Santo Antonio bendito."

XI

“Salve Santo Expedito,”
Rezou o padre a cantilena,
Porque havia esquecido
Desse santo a novena:
- Devo agora entrevistar
Perante o santo altar
Uma irmã cheia de pena.

XII

Achegou-se a irmã morena
Com as suas amadoras,
Duas papagaias verdes
Iguais as princesas mouras;
Uma e a outra comadre
Impressionaram o padre,
Só por serem irmãs louras.

XIII

Eis o padre: - As trepadoras,
Ou seja, aves peregrinas,
Que almejam dos céus o reino
Em ofuscantes neblinas,
Recomendo que elas falem,
Confessem e não se calem,
Com penas de ações divinas.

XIV

“Verdades são cristalinas”,
Disse o padre às papagaias:
- É fato que minhas aves
Vivem mesmo nas gandaias?
Confessaram-nas na hora:
- Para os machos nós agora
Levantamos nossas saias.

XV

Queremos curtir as praias,
Desfilando seminuas,
Pois hoje em dia o padre
Não mais usa saias suas;
Desejamos outras penas,
Não verdes e sim morenas,
Pra desfilarmos nas ruas.

XVI

Não somos somente duas,
Nosso aviário recrimina
Toda a discriminação
Que o mundo abomina;
O machismo nunca mais,
Os direitos são iguais,
Nova era se descortina.

XVII

Nem mais o galo opina
Porque caiu do poleiro,
Pinto e pinta não tem mais
Deixou de ser pregoeiro,
Uma galinha o cegou,
Seu bico se encurvou,
Não é mais rei do terreiro.

XVIII

Não ao porco cachaceiro
De tardia madrugada,
Pois a vitória das éguas
Já está consolidada;
Uma chifrada é tão certa,
Pela porteira aberta
Passa boi, passa boiada.

XIX

O furor de uma chifrada
Atinge o xucro da frente,
Embora o corno manso
Fica chifrudo e não sente;
Mas as louras feministas
Hoje desfilam em pistas
No rastejar da Serpente.

XX

O padre mui, sorridente,
Com calma se impacientou:
- Eu não posso condenar
A quem Jesus perdoou;
Para as duas Madalenas
Rezemos nove novenas
E o sermão se encerrou.

XXI

O povo todo aprovou
Irrompendo-se em clamor,
O maestro entrou em cena,
Comandando o louvor;
Entoaram “God is Love”,
Sinfonia de Beethoven,
Bradando: Deus é Amor!

XXII

Irmão, seja como for,
Nós não sabemos de nada
“Eu só sei que nada sei”,
Disse-me a empregada,
Na hora que a beijei,
Ela fez de mim um rei,
Fiz dela a rainha amada.

XXIII

Mulher é sempre prendada,
Perdoem-me a digressão
Por cometer um pecado
Que me alegra o coração;
Vou com júbilo voltar
Para a igreja e ao altar
Que ficou na confusão.

XXIV

Briga de irmã e irmão
Resolve sempre no tapa,
Os dois batem e apanham
E quem vence é a capa,
A vida é uma eterna luta
E nessa dura disputa
De sofrer ninguém escapa.

XXV

É isso aí, meu chapa!
Você pergunta: Por quê?
Mas animais também falam
Verdades para quem crê,
Mesmo brutos sabem tudo
Nenhum deles fica mudo,
Ensinam a mim e a você.

XXVI

Cego é aquele que não vê
Nosso mundo evoluindo,
Enquanto os ricos pisam
Nos pobres e vão subindo,
Mas o povo só quer ter
A paz e o pão pra comer
Sempre suando e sorrindo.

XXVII

Bem, eu estava assistindo
A santa missa alongada
Do vigário e os papagaios
Ao lado de minha amada
Que me abraçou dizendo:
- O que é que estou vendo,
Por acaso é uma charada?

XXVIII

Respondi com voz cansada:
- Veremos o fim de tudo;
Nisso um dos papagaios
Frente ao povo cego e mudo,
Numa fêmea foi trepando
E a outra loura rezando,
Diante do Padre sisudo.

XXIX

Nada mudou, contudo,
Com toda aquela batuta,
Pois os pobres continuam
Debaixo da força bruta;
Logo um papagaio diz:
“Quem reza já é feliz,
Mesmo o filho da astuta”.

XXX

Encerro numa minuta
O enredo desta piada
Do padre e os papagaios,
No fim da missa cantada,
Quando um ao outro falou:
- Rezar dois terços bastou
Pra nós dois uma trepada.

XXXI

Todo o povo deu risada
Só o padre ruborizou-se,
Mas o quarteto de louros
Cantando alegria trouxe:
“Valeu-nos a nossa fé
E ao vigário dar o pé,
Já que o amor é tão doce”.

XXXII

Com júbilo encerrou-se
Este conto do vigário,
Que a todos abençoou,
Empunhando seu rosário;
Depois foi dormir sozinho,
Sem conhecer o carinho
Escondido no armário.

XXXIII

Morreu Cristo no Calvário
Para o mundo ser mais justo
E que viva a Mãe Terra,
Todo arvoredo e arbusto,
Porque o progresso se faz
Com bichos e homens em paz
Sob o reinado de Augusto.

BENEDITO GENEROSO DA COSTA
benegcosta@yahoo.com.br
DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS

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