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Contos-->NÃO VÊ PORRA NENHUMA NÉ -- 19/12/2000 - 14:20 (Carlos ALberto Ferraiuolo Jr) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
"Porra, não vê que u tô fazendo o possível pra essa merda dar certo!"
"Lógico que tô vendo. Aliás, não sei mais onde enfiar tanta merda que u vejo. Aliás, se eu não visse tanto, não me incomodaria tanto. O Joelson já tinha falado daquela vez: Esquece o que o Lívio fala, porque esse não presta. , e agora, com você falando e me mostrando esse monte de merda, acabei de acreditar nele. Não tô com a menor paciência para as suas ladainhas."
"Não sei o que fiz pra você. Sinceramente. Como disse, estou fazendo de tudo pra essa merda dar certo."
Lívio virou as costas e foi embora. Sempre tentava me engambelar. É um grande filho da puta. Quando tá na pior vem cheio de chamego e amizade e cortesia e 171 pra me pedir dinheiro. Quando não pede, se encosta e fica dias me sugando em bebida, drogas, comida, boa vida, sombra, água fresca... Agora, quando arranja uma grana... Cadê o hôme? Sumiu. Ninguém acha o Lívio. Só aparece quando se fuder denovo. Agora ele vem com o papo de pegar trezentos reais meus pra comprar trezentas gramas de maconha e fazer seiscentos reais. Eu ficaria com quatrocentos e ele com duzentos. Posso acreditar numa coisa dessas? Vindo de um maconheiro como ele!? Sem chance. Esse papo de vender bagulho além de Ter um retorno que não compensa o seu cú na reta da polícia, quase sempre acaba em rolo por causa dos malucos que vêm comprar de você. O maluco maconheiro vive naquela de bicho grilo. Têm uns mais agitados, normalmente cocainômanos que usam o begue pra relaxar e - lógico - o efeito não é tão calmante assim. Tem o bicho grilo. O bicho grilo tá sempre numa boa. Às vezes põe uns panos legais, anda meio largadão, é anarquista, adora filosofar quando tá de cara, curte música, é calmo demais e por isso muito perigoso. Não tem o menor pudor. Acha que moralismo é coisa do passado. Acende o begue andando pelo centro, gosta de dizer que fuma - assunto da moda! - é do reggae, anos 70, Jim Morrisson na camisa, penduricalhos, chinelão de couro, barba, cabelo comprido, caixas de incenso na lixeira, óculos escuros ou colírio no bolso ou as lunas vermelhas chave de cadeia pra todo mundo ver. Quando cai, entra no camburão já dizendo o seu nome e onde você mora. Duas horas depois vocês estão juntos prestando depoimento na delegacia. Se tiver sorte os dois pegam a mesma cela e você pode cobri-lo de porrada, senão, ficam os dois com a cara de tacho na tribuna e no Alborguetti; ele pega uma cela e você outra; ele arranja um bom advogado e livra a cara. Você continua lá, mofando por um bom tempo. Tráfico é pra quem tem posses e costas quentes. Peixe pequeno não deve traficar. Não é preciso ser muito inteligente pra entender que quem comanda o tráfico de drogas no país são os mesmos que falsificam remédios, são os caras que desviam dinheiro, que estão sempre na tv quando o assunto é corrupção, violação dos direitos, assassinatos, formação de quadrilha. São esses respeitáveis cidadãos... Se você não faz parte da laia, não se meta. Fique fora. Ande pelos cantos sem fazer barulho.
Desci a Brigadeiro e peguei a Saldanha Marinho. Quando virei a esquina, saíram dois orangotangos marrons de dentro de uma carroça motorizada.
"Paradinho aí."
Me imprensaram na parede, em baixo da janela de um sobradinho antigo, e encostaram duas bananas, uma de cada lado do abdômen.
"Te pegâmo, nego!", disse um deles salivando na minha cara.
O outro cuspiu alguma coisa também e apertou a banana no meu estômago. Arrancaram minha carteira. Pegaram todo meu dinheiro, meus documentos e cartões e contas e só deixaram uma foto antiga de Lídia, manchada de verde por causa da folhinha de maconha que trago comigo como trevo de quatro folhas. Não tive tanta sorte assim. Me soltaram, pularam dentro da carroça e se arrancaram fritando os pneus. Fiquei um tempo parado e perplexo. Foi tudo tão rápido que fiquei tonto e sem reação.
A janela se abriu em cima da minha cabeça e de dentro da casa surgiu esta velha cheia de bob no cabelo e camisola rosa de gola branca. Era toda enrugada, tinha dois ou três dentes na frente e um buraco sem fim que não se divisava a gengiva, da língua e do céu da boca. Falava cuspindo uma cachoeira na minha cabeça.
"Você é o terceiro só nessa semana. Esses orangotangos fugiram do circo Bartolini e agora ficam por aqui assaltando todo mundo na vizinhança. Não podemos fazer nada. Eles ameaçam a gente. Anteontem disse que ia entregá-los à polícia. Sabe o que me disseram? Vamos fazer você engolir tanta banana que seu estômago vai estourar, velha nojenta. Tu vê? Não existe mais respeito nesse mundo. Velha nojenta... Logo eu. Posso não estar em forma, mas fui Miss Bigorrilho quando tinha dezoito anos. Essa juventude de hoje não conhece respeito. Falam o que deve e o que não deve para os mais velhos e a gente é que se foda. Cê vê, meu filho. Não posso fazer nada. Aqui a gente escuta e finge que não vê porra nenhuma, né, senão..."

Todo mundo faz o possível pra essa merda dar certo. Será esse o nosso maior erro?

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