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Contos-->VELÓRIO -- 25/02/2005 - 12:51 (Marco Antonio Cardoso) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ele morreu porque este é o fim derradeiro de qualquer vida, e não poderia ser diferente para a vida dele que já findara.
Mas ele morreu e não há muito a dizer pois eu não o conhecia muito bem, apenas passava na porta de sua casa, porta aberta, quando vi o caixão sobre a mesa.
As carpideiras choronas a rodeá-lo.
Entrei e tomei uma cana na cozinha.
“Morreu de que?”
Perguntei mesmo sem querer saber.
Não me disseram nada.
O que ele foi até aquele momento me era desconhecido. O que ele seria doravante era uma incógnita infinita.
O dia nasceu bonito e ele calçou a bota direita.
Quando buscou a outra, emborcou e deu de cara no chão.
Deve ter arrebentado alguma coisa por dentro que o tirou da vida bem rapidamente.
A vela na cabeça do defunto bruxuleia, e um rádio sintonizado no Ba-Vi chama a atenção dos transeuntes que se reúnem no boteco em frente à casa do morto.
Aguardam o padre chegar para encomendar a alma, mas o padre estava ocupado com uma disenteria que o mantivera ocupado a noite toda, deixando-o com a óstia ardida, o que o impedia até mesmo de locomover-se sem incômodo.
“Ainda bem que não preciso usar calças, pois senão estava perdido” Pensava ele enquanto vestia a batina, pondo a cueca de lado, deixando seu badalo solto por baixo da panaria.
“Gooooool!”
O grito do locutor foi acompanhado de uma algazarra geral que fez as carpideiras pararem o choro, e vi uma delas perguntar à outra: “Foi o Bahia?”
Logo o choro recomeçou.
Gol do Vitória.
Mais um copo da caninha que o falecido guardava para ocasiões especiais, como esta.
“Essa vem de lá da Paraíba, é da boa.”
Dizia a viúva, que trazia uns petiscos, carne do sol frita, que logo foi devorada pelos homens na cozinha.
O padre finalmente chegou, mas antes parou no boteco para ver o resultado do jogo, que ainda não acabara.
Benzeu, aspergiu a água benta, rezou solene uma prece qualquer e foi para a cozinha comer carne do sol e tomar a pinga destilada da Paraíba.
Alguém contou uma piada de papagaio e todos riram, solenemente.
Chegou a hora.
Seis homens pegaram nas alças do caixão e levaram-no porta afora.
Caminhando para o cemitério, desviavam das crianças que rodopiavam nas bicicletas.
O sistema de som anunciava entre uma música e outra a inauguração da nova farmácia de Zé Botica, no bairro Cajueiro.
Enfim ele foi enterrado.
Ficamos ali na praça olhando as moças novinhas que passeavam em duplas ou trios esperando arranjar namoricos enquanto os cães vira-latas fuçavam as lixeiras nas calçadas.
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