1Tempo é o melhor sábio,
mas sozinho não dá conta
de ensinar, deixar hábil,
quem já nasce vaca tonta.
Um cão 2caça borboleta
e se perde, de repente;
como bebê com chupeta
quer voltar pra lugar quente.
Um pequeno leopardo
corre a esmo por lá,
vê-se o cão num retardo
e vaga ao 3deus-dará.
A fera então caminha
em direção ao cachorro,
que quer sair de fininha,
4descer abaixo o morro.
Vê, então, uma ossada
e, ao invés de correr,
faz dela uma pratada,
5põe-se a ossos roer.
De costas pro predador,
o velho cachorro diz:
— 6Leopardo tem sabor,
até parece perdiz.
E olha bem para longe,
como quem procura mais,
mas só vê um pé de 7bonge
e a fera mais atrás.
O leopardo, então,
desiste da 8interpresa,
pois o velho cachorrão
fez boa autodefesa.
A fera, assim, se esconde
no meio da mata virgem,
a cara nem sabe 9onde
colocar, pois tem vertigem.
Ficou com medo do cão
que a ossada comia,
por certo, dum seu irmão
que 10faz tempo que não mia.
Um gambá dali vizinho
de tudo testemunhou,
viu o tal leopardinho
que por cão 11s`amarelou.
E, como bom fofoqueiro,
contou o blefe pra fera:
cão não era perdigueiro,
a ossada 12velha era.
O felino ficou bravo
com o cão que 13fez de conta,
sentiu aquele agravo,
quis livrar-se da afronta.
"Monte em mim, seu gambá,
pra ver o que vou fazer
com aquele 14animá
que finge de fera ser."
Assim, percebe o cão
o felino furioso
vindo, com o 15beberrão
nele então já montado.
De novo lhes dá as costas,
espera que cheguem perto
aqueles grandes 16labrostas,
certo que é mais esperto.
"Cadê aquele gambá?
Estou morrendo de fome,
ficou de me 17arrumá
mais um felino, e some..."
O leopardo freou
com tanta força o bote
que o gambá capotou;
e sumiu seu 18amigote.
Eis a moral da história:
cão velho é mais sabido
que quem quer viver na glória,
19por outro embravecido.
Não estou insinuando
que você esteja velho...
mais bravo está ficando,
pois 20você só vê vermelho...