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Textos_Religiosos-->Alegria dos beneditinos em hospedar Bento XVI -- 02/05/2007 - 16:39 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A alegria dos beneditinos em hospedar o Papa Bento em São Paulo

Entrevista a dom João Evangelista Kovas, OSB, prior do Mosteiro de São Bento, em São Paulo

www.zenit.org

SÃO PAULO, domingo, 29 de abril de 2007 (ZENIT.org).- Um dos marcos históricos de São Paulo, o Mosteiro de São Bento desponta como um dos patrimônios arquitetônicos mais belos da cidade.

Ali, no centro da maior metrópole brasileira, irá se hospedar Bento XVI durante sua passagem pela cidade, dos dias 9 a 11 de maio.

Nesta entrevista a Zenit, o jovem prior do Mosteiro de São Bento, dom João Evangelista Kovas, OSB, 32 anos, fala da preparação do local para receber o pontífice e também de questões de espiritualidade ligadas à vida beneditina.

--Como será o aposento do Papa?

--Dom Evangelista Kovas: O aposento terá três ambientes, o dormitório com banheiro, o escritório particular e uma sala de visitas e reuniões. Nós dispomos desse espaço de acordo com as orientações do Vaticano. Colocamos ainda na sala de visitas um piano de cauda para o caso do Papa querer tocar. Tivemos uma surpresa quando estávamos preparando essa sala, descobrindo uma pintura decorativa nas paredes, que foi toda restaurada.

--Como se definiu que o Papa se hospedaria no Mosteiro de São Bento?

--Dom Evangelista Kovas: A arquidiocese de São Paulo sugeriu ao Vaticano três possíveis lugares onde o Papa poderia se hospedar, um deles era o Mosteiro de São Bento. O Mosteiro de São Bento está aqui em São Paulo há 409 anos e é um espaço histórico reconhecido.

São Paulo, quando começou a se ensaiar sua grande etapa de crescimento, no início do século XX, o Mosteiro já se despontava como um grande monumento arquitetônico, como que já sinalizando esse esplendor da cidade. No Mosteiro há uma influência muito grande alemã, já que foram monges alemães que construíram e restauraram o atual complexo e cuidaram de sua parte artística, seguindo a escola de Beuron (Alemanha). Aqui também foi fundada a primeira faculdade de filosofia do Brasil.

Então a escolha do Mosteiro de São Bento para hospedar o Papa leva em conta tudo isso. Trata-se de um lugar histórico reconhecido, é um complexo que tem referências alemãs, há também o fato do Papa Bento se hospedar no Mosteiro de São Bento. Para além disso, há ainda a beleza do local, que é amplo, acolhedor.

--Como serão os momentos que o Papa passará aqui dentro do Mosteiro?

--Dom Evangelista Kovas: Aqui será sobretudo o lugar de descanso do Papa. Então aqui não haverá nenhum evento, nem para nossa comunidade, nem para os fiéis, por se tratar do local dele descansar. Será o espaço para o Papa fazer as suas orações pessoais, sua meditação, se preparar para os eventos. A nossa preocupação fundamental é deixar o Papa muito à vontade, para ele se sentir em casa, como se ele morasse conosco já há tempos.

Nós teremos uma estrutura paralela à do Mosteiro. Por exemplo, além do refeitório dos monges, haverá um refeitório à disposição do Papa e sua comitiva, isso também pela questão dos horários. Há ainda uma capela particular para ele rezar os ofícios, celebrar a missa. Mas sem dúvida nós vamos convidá-lo, de acordo com a conveniência do momento, a tomar as refeições conosco, a rezar a missa conosco ou mesmo até a rezar algum ofício juntos.

--Qual é o significado da visita do Papa para a comunidade e a expectativa nestes momentos?

--Dom Evangelista Kovas: Sem dúvida nenhuma é o nosso hóspede mais ilustre, já que nós nunca recebemos um Papa. Estávamos cotados para receber o Papa João Paulo II, mas dadas as condições do centro de São Paulo no início da década de 80, não se ofereciam boas condições para a hospedagem dele nesta região, por vários fatores, entre eles segurança e deterioração do centro. Então naquela ocasião optou-se pelo Mosteiro de São Geraldo, na região sul da cidade, que, diante da agenda de João Paulo II, também facilitava seus deslocamentos pela cidade. Mas agora o centro de São Paulo não está nas mesmas condições daquela época. E também os encontros e eventos do Papa serão mais centrais, o que, partir daqui, facilita os acessos.

Para nós, não poderia ser melhor receber um Papa como nome Bento. Um Papa que coloca a figura de São Bento e o legado dele no centro das atenções da vida da Igreja. Isso para nós é uma alegria muito grande e nos dá até mesmo um sentido de missão. O que significa para o monge hoje, contemporâneo, seguir o legado de São Bento? Quando o Papa escolhe o nome Bento, não se trata propriamente de valorizar a vida dos monges que vivem no claustro. Mas ele faz uma referência histórica. Ou seja, como esta fé, cotidianamente meditada, celebrada na liturgia, na vida comunitária, em meio aos trabalhos da comunidade, com que ela produziu uma civilização e uma cultura fortes, que é a civilização e a cultura ocidental. Porque com a queda do Império Romano e as invasões bárbaras, a antiga civilização ruiu. Havia a fuga das pessoas dos meios urbanos. Então onde se tinha uma comunidade organizada em termos de fé, de trabalho, de estudo eram os mosteiros. E os monges foram recolhendo toda a literatura antiga, seja religiosa ou não, foram constituindo suas bibliotecas, num trabalho paciente, em que os monges visitavam outros mosteiros levando seus pergaminhos, e lá copiavam a mão determinadas obras. E assim eles constituíram bibliotecas enormes. Então o Papa dá essa mensagem: vejam esta fé, que num momento histórico tão difícil, foi capaz de constituir toda uma civilização. E hoje, esta civilização com altos índices de desenvolvimento, sobretudo em aspectos materiais, nós vemos cada mais se distanciar da sua base formativa, dessa perspectiva de uma fé meditada, que produz vida. E o Papa diz: vamos voltar às nossas fontes, porque o desenvolvimento pelo desenvolvimento é um auge da civilização que já é declínio. É só constatar na história das civilizações.

--Numa sociedade que cultua o objeto, o material, promover espaços de contato com sagrado se torna fundamental. Nesse sentido, fale-nos da importância da liturgia, tão reconhecidamente bem celebrada em ambientes beneditinos.

--Dom Evangelista Kovas: Já São Bento em sua regra dedica vários capítulos, de uma maneira muito prática, a falar da liturgia. Ele diz, por exemplo, que a voz e o coração do monge têm de estar conformes, porque ele estará rezando ofícios, salmos, e o coração tem de estar ali envolvido. O monge, por sua vez, deve ter consigo que está na presença de Deus e dos anjos. Então ele celebra aquele ofício com reverência. O estado de oração no momento do ofício é importante. São Bento pontua isso de maneira muito prática, sucinta. A vida beneditina é uma resposta a uma pergunta da vida monástica mais antiga, que é a seguinte: “O que é orar sem cessar?”, como São Paulo coloca na epístola aos Tessalonicenses. Várias tradições monásticas que se formam meio que simultaneamente vão tentar dar uma resposta a essa pergunta, ou seja, será que é possível estar sempre na presença de Deus? E São Bento, que é muito ponderado, aliás essa regra dele vai ter uma difusão tão grande que viria a substituir regras antigas, por seu espírito moderado. Ele vai propor a oração e o trabalho de modo que a oração vai ser sobretudo a oração do corpo, a liturgia. Então a comunidade tem seus trabalhos, cada comunidade desenvolve um tipo de trabalho diferente. Ao longo da história os beneditinos desenvolveram os trabalhos mais díspares possíveis, mas sempre nessa perspectiva de resguardar o momento do ofício litúrgico. De modo a nada absolutamente se antepor ao ofício divino. Quando se dá o sinal para o ofício, os monges deixam suas tarefas e vão se reunir para a oração comum. Então isso cria uma maneira de viver os trabalhos e os estudos nessa perspectiva da liturgia, sobretudo na oração comunitária. Ali os monges se fazem Igreja e é nesse sentido que a sua comunhão, a sua maneira de ver o povo, a vida, está profundamente influenciada pela liturgia. Por isso que uma liturgia bem celebrada forma a comunidade. E uma comunidade que tem sempre diante de si a presença de Deus. Então esse é o intuito de São Bento ao colocar esses momentos litúrgicos para a comunidade. Nada se antepõe à liturgia. E isso não foi motivo para os monges trabalharem menos, não foi motivo para eles estudarem menos ou poderem oferecer para a comunidade a riqueza da vida deles. Pelo contrário, só contribuiu.

--Ainda nessa linha das questões litúrgicas, recentemente o Papa enfatizou a importância do latim na vida da Igreja. Como o senhor vê isso?

--Dom Evangelista Kovas: A palavra de Deus não vem para nós, lendo a Bíblia, como se fosse um livro pronto que vem do céu. Os próprios textos bíblicos levaram muito tempo para serem escritos. Foram as comunidades cristãs que escreveram aqueles textos. Então os textos bíblicos têm o seu contexto. E a palavra de Deus está viva quando ela está no seu contexto. E o seu contexto é a vida da Igreja, que, na história, nós vamos ter várias respostas diferentes da riqueza humana que nos manifesta a palavra de Deus. Aprender latim não se trata de um arcaísmo, de uma língua antiga. Mas se trata disso, sobretudo os seminaristas, que irão estar à frente das comunidades cristãs, poderem olhar para trás na história da Igreja e trazer para hoje esta riqueza. Então quando se confirma o canto gregoriano como canto oficial da Igreja está-se dizendo que nós tivemos séculos produzindo melodias em gregoriano que tanto se adequam à liturgia, que tão bem acompanham os textos litúrgicos, o estado de espírito da oração, então se trata de um exemplo para todos os outros cantos do que significa o canto associado a uma celebração litúrgica. Pois a liturgia também é uma arte. Uma arte que lida com o canto, com a palavra, com a compostura, com o estado de espírito de oração, ou seja, esta melhor expressão, essa excelência humana que exprime algo além de si mesmo. A liturgia é isso, é exprimir muito mais do que um homem talvez poderia em seu cotidiano. O canto gregoriano é capaz disso, por isso se torna uma referência para a Igreja da liturgia bem celebrada. É legítimo e bom se utilizarem outros tipos de música, mas a gente precisa ter referências, para descobrir na riqueza da Igreja como enriquecer o nosso momento presente. Se nós não recorrermos à nossa riqueza passada, não conseguiremos criar coisas ricas e nem sequer conseguiremos descobrir o que o nosso tempo tem de bom. Então quando se fala do latim e do canto gregoriano é isso: ter o acesso à riqueza da Igreja.

--Como monge beneditino, o que o senhor espera da Conferência de Aparecida e do desafio de formar discípulos e missionários de Cristo?

--Dom Evangelista Kovas: Fazendo referência à vida beneditina, os monges, no início da Idade Média, numa situação tão precária da história, eles evangelizaram a Europa, inclusive os povos germânicos, os nórdicos, os saxões. Os beneditinos, nesse seu ritmo de vida, evangelizaram toda a Europa. Eu penso que não se trata apenas de uma forma de missionariedade no sentido de espalhar notícia e informação. Sem dúvida a mensagem tem de ser espalhada. Mas a mensagem parte de uma vida. Parte de uma vida cristã profundamente marcada pelo dom de Deus. Se nós não desenvolvemos em nosso coração essa gratidão pelo amor de Deus para conosco, que nos enviou seu Filho que morre para nos salvar, nos resgatar, fica difícil. É nesse espírito de gratidão que a evangelização vem naturalmente. Ou seja, manifestar que Deus nos deu um presente maravilhoso. Então eu penso que a evangelização parte de uma vida profundamente marcada por esse dom que nós recebemos de Deus, que é o Cristo, e, numa atitude de gratidão, se manifesta como que naturalmente.

--Nos dias de hoje se constata a perda do sentido de Deus na vida concreta das pessoas. Uma comunidade monástica cravada do centro de uma das maiores metrópoles do mundo, São Paulo, dá um testemunho da importância da oração, do trabalho, de um estilo de vida simples...

--Dom Evangelista Kovas: Uma coisa que me surpreende muito é por que será que os monges vieram até aqui, à vila de Piratininga (inícios de São Paulo, no século XVI), para fundar um mosteiro. Não tinha nada aqui. Aliás, os habitantes daqui mal conseguiam o próprio sustendo, tendo muitas vezes que adentrar o sertão para manter a sua subsistência. Então por que será que vieram a fundar um mosteiro aqui em São Paulo e não em Santos, em São Vicente, que tinham melhores condições? Parece que São Paulo é uma cidade vocacionada, e vejo o caminho da Providência nisso, pois veja que cidade se tornou. E, nos inícios, o mosteiro, que era um pouco afastado do núcleo populacional, logo se torna um dos limites marcantes da cidade. Quando a cidade cresce, o mosteiro se torna parte do centro histórico de São Paulo. Então São Paulo, com seu grande grau de desenvolvimento, tem no seu centro uma comunidade que busca compreender essa dimensão da oração, da vida cristã do dia a dia, simples, humilde, ao mesmo tempo chamada a recolher da história toda a sua riqueza. O mosteiro é um oásis no centro desta grande metrópole. Quando se adentra nele, logo desaparece todo o ruído da cidade. Aqui há uma dinâmica diferente do tempo. Para nós, o tempo não é dinheiro, mas sim o tempo é algo a ser santificado.


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