IMAGEM
Se pudesses ver teus olhos
partirias todos os espelhos
lamberias teus cacos
rastejarias, com teus joelhos
patinando teu milhar de partes
espalhadas sobre a madeira.
Se pudesses ver quantos cacos
és buscando uma imagem inteira
rastejarias com tua língua
sangrando cada ilusão verdadeira
no vinóleo da lúgubre morada.
E tu que gritas, o inventor
calarias tua voz distante, vazia
que nada diz, soe, comenta.
Rugírias, áspero, do amor.
Inventarias óleos ruins
para tua barba que acinzenta.
Quando te olhasses, enfim
nas molduras lacradas
do teu expressionismo
da tua sulfúrica invenção
te quedarias a contemplar
o poço sem fim, senfim
semeado no altar do coração.
Curioso, tocas hesitante
nas bordas rudes da rachadura.
Quando retiras o dedo frio
jorra noite da cratera
jorra negro da almadura.
Teu coração une-se ao infinito
Tua boca é pura atmosfera
Os olhos trancam-se, ilesos
para que à visão não molestem
Nas mãos, após o jorro
acumulam-se brilhos desconhecidos
dos cacos da imagem do teu medo
Brota a nova que fulge
refletindo um outro
qua a tua imagem escondia.
070306 |