Manietado junto à trela do meu carro,
Vou pela estrada numa lida sem parar...
E raia o dia, e vem o sol, e canta o galo,
Parto cantando em minha vida, a trabalhar!
Vejo, de longe, minhas flores, meu ranchinho,
Tão simplesinho onde eu posso me abrigar,
E, de onde à noite, fito o céu e as estrelas,
Pego a viola, e qual cigarra vou cantar...
Mas, numa curva da estrada assim termina
Essa paisagem que me encanta, e é meu lar...
E vou seguindo solitário, a minha sina
Pelas estradas poeirentas palmilhar...
E vem a chuva, e vem o vento, e a solidão
Enche-me o peito, mas, aqui, não vou parar...
Passo campina, passo pasto, e num riacho
Junto à colina, tento a sede mitigar...
E no trabalho que me ocupa, e no cansaço,
A minha alma se debate e quer parar...
Venci distância e o meu tempo se fez tarde,
Mas a encomenda é meu dever, e vai chegar!...
As velhas rodas nesse atrito, e com esse peso,
Gemem plangentes o seu choro a lamentar...
E a gente humilde, no silêncio lá da roça,
Acostumada o meu cortejo vê passar...
E dos meus olhos vou deixando de mansinho,
Minha tristeza pela estrada que eu trilhar...
Por isso as marcas tão profundas no caminho,
São enfeitadas de florzinha a balançar...
E nessa estrada tão estreita onde eu sigo,
A pedra e a flor você pode encontrar...
Uma me educa, me machuca e põe no trilho,
A outra nasce para os olhos me agradar...
E ao pôr do sol, contra a luz, você vai ver
Minha figura a gemer e a passar...
E geme o boi, e geme a trela, e geme o carro,
Mas, sou carreiro e preciso regressar!
******
L.Stella Mello - autora do romance "Eulália"
23/09/1984
|