O RAPA © by Escrivão Joaquim, 2.426.741, São Paulo, julho de 2004
Lourdes filha de Julita,
Deixou o seu Juazeiro
Do Norte, pra ir morar
Noutro rincão brasileiro,
Na formosa São Caetano –
Setor metropolitano
Da capital paulistana.;
Achou bonito o lugar
E decidiu-se a ficar
Desde a primeira semana.
Levou consigo os dois filhos
Do primeiro casamento.;
Gostou muito da cidade
Desde o primeiro momento.
Esqueceu o sofrimento
Do casamento falido,
O que já tinha vivido
Resolveu deixar pra trás,
Juntou-se a um belo rapaz,
Fez da vida outro sentido.
Bem cedo, ela acostumou-se
Aos barulhos da cidade.
O que era desconhecido
Deixou de ser novidade.
Já nem sentia saudade
Com menos de um ano ali...
Se precisava sair
Para qualquer loja, ou praça,
De ônibus, quase de graça,
Bastava só querer ir
Arranjou colocação
Num prédio da Capital.;
Começou a trabalhar logo
Como profissional.
O trabalho era legal -
Empresa de segurança,
De gente de confiança,
Respeito e honestidade...
Lourdes viu que, na verdade,
O futuro era esperança.
Já tinha quase dois anos,
Que se encontrava no Sul -
Seu céu não tinha fumaça,
O mundo seu era azul -
Quando o caçula, seu mano,
Foi morar em São Caetano,
Fazer companhia a ela.
Foi também pra trabalhar,
Em São Paulo, a Capitá,
A pedido da mãe dela.
José Branco, irmão de Lourdes,
Queria juntar dinheiro,
Depois voltar pr’o Sertão,
Pra viver em Juazeiro.
Chegou no dia primeiro
De julho de oitenta e seis,
Quando foi no dia seis
Conseguiu logo um emprego,
Na bodega d’um galego,
Passou o primeiro mês.
Depois, passou a trabalhar
Numa panificadora,
Perto do bairro Utinga,
Que Lourdes era moradora.
O dono era um português,
Ele atendia aos fregueses
Com muita dedicação.;
Queria crescer na vida,
Passar os dias na lida,
Não desgostava ao patrão.
Passados dois ou três meses,
José disse a sua irmã:
“-Eu preciso comprar roupas.
Vamos a São Paulo amanhã.”
Lourdes atendeu ao pedido -
Poucas vezes tinha ido
Ao Centro da Capital,
Mas conhecia o caminho,
No outro dia, cedinho,
Foram direto ao local.
Dentro do Parque Dom Pedro,
Desceram do lotação.
Lourdes levava as crianças
Segurando pela mão.
E sempre ao lado, José,
Admirando o que via.
A irmã era seu guia...
Pela General Carneiro
Subiam a passo maneiro,
Por entre as mercadorias.
Lá na General Carneiro
Tem sempre, em todo momento,
Dezenas de camelôs,
Um enorme movimento.
Gente pra lá e pra cá,
Uma enorme multidão
De passantes, compradores,
Mercadorias no chão -
Calçados, confecção,
Roupas de todas as cores...
Na metade da subida,
Vinha gente apressada.
Muitos descendo a ladeira
Em rápidas e largas passadas.
Ouvia-se de muitas bocas
Um murmúrio: “-Olha o rapa!”
Um fiscal deu uma tapa
Num homem que estava em pé.
Lourdes gritou: “-Corre, Zé!”
Vamos ver se a gente escapa.
Voltaram os dois na carreira,
Pra dentro do terminal,
Quase arrastando as crianças.;
Uma delas passando mal.
Entraram no mesmo ônibus
Que os tinha deixado ali.
E o motorista, a sorrir,
Perguntou: “-Que foi, senhora?”
Ela explicou, sem demora.
Quase ele morreu de rir.
Escrivão Joaquim |