Ontem assisti um filme demoníaco chamado "Fim dos Dias". Estranhei que o astro era ninguém menos do que Arnold Schwartzenegger, troglodita veterano de Holywood. A história é tão inverossímil que o Diabo, em carne, osso e vermes, não consegue matar o mocinho que, armado até os dentes, dá tiro, porrada, golpes de faca e espada para tentar afastar o Dito Cujo da virgem profetizada que dará a luz ao seu filho. Além do mais, um grupo de ninjas papais também está atrás da moça para evitar que o Demo a possua e decrete o final dos tempos atuais e o início de uma nova Era, cujo reinado de Satã blá, blá, blá, blá...
O que achei do filme? Foi ótimo! Entretenimento puro. Idas e vindas, reviravoltas, efeitos especiais, som perfeito, perseguição de carro (aí tenho de admitir que essas perseguições enchem o saco, especialmente quando estão fora de contexto), mocinha bonita, enfim, tudo o que eu precisava para me concentrar e relaxar. Aí quando sentei para escrever esta crónica me bateu um medo danado. Ter de admitir que gostei de um filme do Arnaldinho?... E mais: publicar essa confissão depois de tantos e tantos anos de críticas exacerbadas contra os enlatados americanos, a cultura consumista, a alienação dos povos? Mas, droga! - pensei. Não vivo aí pregando que as pessoas devem ser autênticas? Então por que não revelar ao mundo que, Ã s vezes, gosto sim de um filme de ação, de um programa de auditório baixaria (aqueles que ficam mostrando bundas e peitos o tempo todo), de ficar discutindo amenidades com os colegas do bar? Confesso que está sendo difícil. Sei que vou sofrer uma porção de críticas e ameaças de morte feitas pelos meus velhos amigos. Mas, paciência. Agora já foi.
Escritores, em sua maioria, são metidos a besta. Acham que tudo podem. Inventam palavras, usam outras tantas que estão mofando no dicionário, recorrem a lugares magníficos da Europa ou da Ásia, descrevem aroma e sabor de vinhos que você nunca vê nas prateleiras dos supermercados, e agem assim por acreditarem que são os donos da intelectualidade. Desconfio que todos eles sejam egocêntricos (estou dentro)! Experimente enviar um texto para um escritor consagrado. Inevitavelmente você receberá a resposta de "que eu não costumo ler coisas de outros autores para não fazer mal julgamento..." Na verdade eles crêem que somente eles e suas palavras rebuscadas, além de Machado de Assis e Shakeaspeare, são dignos de leitura. E reclamam do brasileiro. "Ninguém lê neste país de analfabetos, porra?!" - perguntam. Alguns deles deveriam se olhar no espelho, pois escrevem para si. Ou por serem narcisistas ou para espantar os fantasmas de suas mentes. Já repararam que a maioria dos protagonistas dos livros publicados são escritores ou jornalistas? Quando não, os dois. Ninguém está realmente preocupado em entreter o leitor, usar uma linguagem que esteja ao alcance da maioria da população, emocioná-lo com as letras, fazê-lo sorrir sozinho no metró... Não que a Literatura Clássica devesse ser esquecida. Mas se continuarmos insistindo neste estilo lírico-sofisticado-feito-para-a-Classe-Média-Alta, dificilmente presenciaremos o crescimento do hábito de leitura neste país.
E depois ainda vão ficar reclamando que o povo só quer saber de assistir a banheira do Gugu...
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