Usina de Letras
Usina de Letras
139 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62214 )

Cartas ( 21334)

Contos (13261)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10357)

Erótico (13569)

Frases (50609)

Humor (20029)

Infantil (5429)

Infanto Juvenil (4764)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140799)

Redação (3303)

Roteiro de Filme ou Novela (1063)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6187)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->A Enchente -- 06/11/2003 - 19:38 ( Alberto Amoêdo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ainda acordava estonteada, quando alguém gritava aflito por socorro, naquela noite de chuva intensa.
Do alto da minha rede, no imenso escuro tudo parecia normal. Os meus quatros filhos dormiam angelicalmente, embora o meu cão latisse também desesperadamente. Foi essa insistência que me levou a levantar. E quando pisei no chão...Tibum. Estava com os meus pés na água.
Um desespero logo tomou conta de mim. Acendi a luz do quarto, e vi água por tudo que era lado. Sem assustar os meninos fui abrir a porta na tentativa de salvar o cão e quem me pedia ajuda. Quando aquela água volumosa e mal cheirosa desabou em meus pés, me deixando com água pela cintura e a certeza que quem gritava, não era apenas uma voz, mas tantos outros desamparados...desesperados. Pagando pecado por terem votado errado.
Sob uma aflição redobrada gritei por meus filhos, enquanto o cão dava os seus últimos suspiros.
Aquela água impiedosa que invadia a nossa casa, aos poucos cobria as nossas poucas coisas, aos poucos cobria a minha esperança de ser apenas um sonho.
No meio da cidade, uma mulher solteira precisa se virar.Busquei forças onde pensei não mais ter pra continuar. Carreguei os meus filhos um a um, nas costas, pra ponte do canal que por ali passava. A chuva incessante não passava, o volume da água só aumentava e mais, e mais pessoas desabrigadas ficavam.
Era duas horas da manhã e a chuva malcriada não perdoava. De lá de cima assisti um mutirão de pessoas investindo na ajuda solidária, enquanto os meus filhos, enquanto os filhos dos meus vizinhos, enquanto os filhos dos meus amigos dormiam amontoados no tempo e eu me perguntando o que seria o amanhã sem aquele pouco, aquele pouco que nos restava.
Muitas pessoas perderam o seu pouco,começando a acreditar que a vida do miserável não tinha jeito.
Por conta dessa enchente, me lembrei que ainda estava desempregada.
Na chuva, molhada, com fome os meus olhos castanhos teimaram em começar a lagrimar, dizendo palavras ao vento, dizendo coisas insanas, dizendo...
Nos cantos do céu, a chuva abdicava. Envergonhada desistia, passava. Enquanto noutro canto da cidade todos acochegantemente dormiam.
Assim, o dia amanheceu e tantos como eu, tiveram que voltar pra suas casas, suas vidas diárias pra recomeçar.
O governo no horário nobre, veio a público se justificar, e mais uma vez quem remontou a realidade foram os nossos pés e mãos brutas.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui