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Contos-->QUARTETO EM SÓ -- 01/02/2005 - 20:11 (Luis Gonçalves) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
QUARTETO EM SÓ
Luís Gonçalves
Findo o horário de verão, o buxixo no beco onde moro tende a tardar. Mas com a mesma intensidade. Futricas de mãe para filho, bem embaralhadas com sussurros secos dos maridos preguiçosos.
Ao lado ouço a loura cafungar feito uma gata vadia. Com os olhos semicerrados tomo conta dos movimentos sonolentos: primeiro olhando o relógio e depois espreguiçando.
Anos atrás, era o momento propício que eu encontrava para amassar aquela pele sedosa – com o meu um metro e oitenta bem medidos, de pura emoção. Entremeios os alaridos do sexo e o trupé do cortiço o nosso amor tinha cheiro de café forte passado no saco, com o aroma quente do chá de capim cidreira.
O gotejar do chuveiro escangalhado, põe fim no breve espasmo saudoso. Depois, o vulto encharcado aparece na porta do boxe e a toalha que aguardava ansiosa no umbral, se encarrega de secar o corpo alvo e sugestivo. Feito um velho e esculhambado jacaré chocando, noto que os pêlos da virilha não são mais louros como antigamente.
Mesmo não sendo nenhum menino – mas ungido com a falácia machista da época de poderoso garanhão de moçoilas ardentes –, costumava filosofar que: só me casaria com uma loura de verdade.
− Daquelas de pêlos pubianos dourados!
Tanto é, que: as mais ou menos entravam na linha das camufladas e juntas escafediam-se de minha frente, feito assombração escorraçada com esconjuro de mulher mal parida.
O tempo passou rápido e logo o poderoso amante de outrora, viu-se depauperado das funções e a fucinho curto com a sujeita que, embora loura com alto padrão de qualidade – não possuía os benditos pêlos louros. Diante da minha intransigência de solteiro, a ingênua menina tratou de resolver o dilema apelando para a botica.
Por muito tempo tinha que manter a perna arreganhada igual sapo boi no salto em altura, maquiando a entrada da sagrada gruta com a gota milagrosa, bem dosada, da água benta das louras.
Operação custosa essa. Sem falar nos prejuízos, tais como: adiamento do coito, irritações da pele e a baixa resistência do ato. Tirante os dias de quarentena. Com tempo veio a deformação e a deterioração do produto; dando a emanar um odor forte e a estufar o beiço vermelho, feito bochecha de palhaço bem nutrido.
− Tô indo já! Sê minha amiga ligá vô pra casa dela. Tchau!
− Tchau! Também já vô.
A porta se fecha e é a minha vez de levantar e partir. Nem mesmo o tumulto do ônibus arrochado feito sardinha em embalagem pequena, consegue extirpar o saudoso pensamento matinal. De repente, o subconsciente resolveu abrir a válvula de escape das emoções, deixando o passado fluir numa sangria desatada. Nuvens negras de amarguras aglutinavam-se criando uma tempestade besta de verão.
Ao meio dia a quentinha não rodou legal, nem o trabalho rendeu. Macambúzio, feito boi capão, no meio da tarde burlei a segurança e ganhei a rua. Lembrei-me do tempo que freqüentava a casa de Dorinha. Sujeita fogosa igual uma égua pantaneira no cio de lua cheia – capaz de levantar até defunto de três dias, somente com um bamboleio de quadris e alguns tamborilar de línguas.
− Sí cuida, i vê si não some...
Assim deixei a casa da dita cuja, já pensando na próxima vítima. Desde a entrada notei que não era bem vindo. Mas, como sou um sujeito sagaz no trato com as damas da noite, não roguei protestos e passei a falar dos velhos tempos. Coisa que acabou no deixa disso e eu cá na ponta da rua velando pelo silêncio da noite.
− Falô, sangue bão...
− Tô aí, inteiro como nunca.
− Percebe.
Benê saía da toca, com a esculhambação de sempre. Também o cara era sarado igual touro reprodutor de cocheira Vip. Vivia esbanjando saúde num lugar onde só havia gente raquítica e dilapidada pelo amarelão do cotidiano laborioso.
Em cima da cômoda, ao lado do gravador –, havia um bilhete da loura. Seria mais um carnaval solitário diante da TV. Torcendo para que culminasse numa quarta-feira de cinzas gloriosa com ela de volta ao lar.
Ainda bem que cultuava a decência de ir para bem longe para não me envergonhar diante da galera. Também, isso pouco importava. Na verdade só queria mantê-la junto a mim. Poder contar com aquela companhia jovem e elegante já era o máximo para um homem como eu. Aquela grande presença feminina, pelo menos de vez em quando, enchia-me o coração daquela sensação que pouco tinha a me lembrar exceto daquele fabuloso troféu – qual nem sabia se o merecia. Era o bastante para manter-me vivo, acreditando que o mundo não havia acabado.
Amor, ciúmes todos tem. Mas poucos têm uma loura como a minha. Pouco importa os deslizes e as escapadas. Afinal, ninguém é de ferro! Eu bem sei, que: ela vai, mas ela volta. Só peço a Deus que não a machuquem...
Pôxa! Seria tão bom se essa porcaria levantasse novamente. Talvez..., uma só vez por semana; ou pelo menos uma a cada mês; quem sabe uma ao ano?!?
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