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Contos-->A redoma de brilhantes -- 27/01/2005 - 14:05 (Raquel Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O vestido vermelho rodava radiante. Os simples sapatos de couro dançavam nos pequeninos pés como de bailassem sozinhos. Nada havia ali além dela. A fogueira estalava a madeira soando como os segundos de um relógio. Via a cor da lua como se fossem várias, das mais alegres. Ali dançava. Dançava com ar de mulher, como se estivesse em qualquer um dos livros europeus que tanto lia.
Isabel era assim: quando vivia, vivia só e o mundo era só dela. Os cabelos escuros, avermelhados pelo sol, se jogavam no ar. O mundo era só dela. Rodava mais rápido que o relógio, mais linda que o negro da noite nublada refletido nada na água viva do rio. O vestido cor-de-sangue gritava com candura no ritmo de uma taquicardia. Nada era mais. Nem a noiva era mais. Aquela noite era vermelha, era dela. A noite era ela.
A delicada mão do anel mais lindo dedilha o vestido vermelho. Os pequeninos pés param de dançar. Dois olhares negros são trocados. Os cabelos castanhos molduram o rosto mimoso. Dois sorrisos. Adeus à festa.
Riem alto. Nada mais importa agora, vão contar estrelas. Os sapatinhos azuis correm nervosos. Os sapatos de couro saltitam com inocência. Os quatro pés param. A grama verde chama. Estão longe da festa. Ali, só grama e estrelas. Aquele lugar era o melhor do mundo. Era lá que riam, conversavam, trocavam mimos e carinhos. Isabel ri. O vestido vermelho cai, os sapatos de misturam longe dos pés. O vermelho casa com o azul escuro assim como os cachos ruivos contrastam com as madeixas castanhas. As macias mãos se juntam e os corpos se beijam.
Iam embora dali. Provavelmente na semana seguinte. Iam embora porque ali não era lugar. Era pequeno. Sim, não havia mais nenhum motivo. Partiriam porque aquilo era mínimo, quase invisível e os que lá moravam tinham tanto medo da enormidade do mundo que nada viam além do minúsculo egocêntrico e provinciano mundo da pequena cidade mineira. Mas a cidade nada era perto da imensidão ensurdecedora e muda dos céus que banham os amantes, todos os amantes.
E o mundo era muito mais que o céu, o mundo eram todos os sonhos nunca sonhados, os beijos não roubados, os sorrisos inexistentes... O mundo era tudo aquilo que aquelas duas jovens almas nunca tinham visto e nem sabiam que existiam. A vida esperava fora da redoma de negro ouro e pequenos brilhantes que rodeava o horizonte. O horizonte só existe para quem não tem a curiosidade azul que vem de dentro. Dentro é bem longe, mas fica sempre aqui. Não importa onde vamos, aqui dentro está sempre com a gente, mas nunca sabemos. É um vazio que às vezes enche e fica vermelho. Quando dentro enche, fica vermelho. O azul morre quando o vermelho grita as cores se casam quando o vermelho ri. A vida gritava e ria com força. A redoma iria arrebentar nos próximos dias e a vontade de ver o mundo seria assassinada com doses cavalares de realidade.
O que as cabecinhas inocentes não sabiam era que a realidade não é encontrada pelas pessoas, ela faz o povo. E não importa onde ou como, ela se mostra. Cruel ou docemente, como um sonho. Sim, porque nada se parece mais com o sonho do que a realidade crua. Sonho e realidade, assim como sim e não, são um só e fazem um só. Assim como dois corpos que se amam passam a ser um só, não importa como ou onde: serão sempre um só.

Raquel Lima- setembro de 2004
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