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Artigos-->Goethe: A metamorfose das plantas - Est. e interpretações -- 29/08/2002 - 10:41 (Elpídio de Toledo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos






























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Estrutura, conteúdo, interpretações particulares.





Lendo o poema, uma estrutura pode ser reconhecida facilmente em três seções, sem que ocorram transições abruptas. Em



cada segmento prevalece uma imagem relevante:



"Na primeira parte, é o deslumbrante aglomerado de flores que é representado com poucas características em suas formas va-



riáveis. Na segunda parte, completamente desenvolvida, a flor espera a fertilização e, na terceira, indicadas com delicadas li-



nhas, o par humano que se une em contemplação harmônica. (*2)



Todas as três seções do poema estão dispostas sequencialmente e em seu movimento total, conforme a lei da evolução.



"Classificação sem evolução não nos interessa, nós descemos até onde nos é mais atrativo: classificação evoluída, evolução



de uma sucessiva classificação, através da possibilidade de uma formação final, onde, então, uma vez mais, muito de muitos



se separa, de um muitos se destacam". (de: Goethe, "Evolução" de seus estudos morfológicos).



A primeira seção consiste de cinco dísticos. Os versos 1-4 ligam o discurso do amante da moça com a presença das flores no



jardim. Aqui fica perceptível a obnubilação do amante ao mirar uma imensa variedade de flores. Através disso, a ouvinte ama-



da é posta em sintonia com a esfera da natureza que é a professora dos amantes. A simples visão desta riqueza transbordante



conduz à obnubilação total; assim é o caos das percepções sensuais, como se ainda fossem aumentadas pelos diferentes no-



mes das plantas (2º Dístico) que, com "tom rude" um do outro no ouvido distingue. A suposição que se faz é que Goethe alu-



de aqui aos nomes triviais das plantas singulares, enquanto enfatiza como mais significativa a nomenclatura binária intro-



duzida por Linné, que consiste da união de vocábulos gregos e latinos, tal como ele, também, usa em seus próprios tratados



em prosa. No terceiro dístico, onde se lê "todas as formas são semelhantes, e nenhuma iguala-se à outra", já é lembrada uma



relação morfológica; e, no quarto dístico, o desejo urgente é pronunciado, dar esclarecimento sobre o segredo da reprodução



desse "aglomerado de flores". As palavras "uma lei secreta" e "um sagrado mistério" apontam auspiciosa e significativamente



para a parte seguinte.



A parte mediana da elegia (versos 11– 62) contém a formação poética da metamorfose da planta como Goethe a viu. O poe- ta



descreve minuciosamente, diante dos olhos do leitor, o florescer de uma planta de um ano de idade. O processo de desenvol-



vimento começa com a tumescência e germinação da semente e é conduzido gradualmente até a florescência da planta adul-



ta. A natureza fecha o „anel das forças eternas", no qual cria a condição prévia para formação de novas sementes, a fim de



que este ciclo continue eternamente. O próprio Goethe dá o melhor comentário sobre seu poema em seu tratado-prosa sobre



a metamorfose das plantas. Ele concorda largamente com respeito ao conteúdo da parte mediana.



Os primeiros cinco dísticos (versos 11-20) correspondem ao capítulo I „Das sementes". A fase de desenvolvimento da planta



aqui apresentada, vai da quietude da semente, passando pela germinação, até o instante em que a muda penetra a superfície



da terra e distende-se contra a luz.







"Da semente ela desenvolve-se, assim que a terra silenciosa



Fertiliza o fascinante broto liberando-o para a vida,



E o estímulo da luz, do sagrado, eterno excitar,



Como a construção do mais delicado germinar de folhas recomenda".



Todos os termos técnicos como "cotilédones", "valvas da semente", "elementos nucleares", "lóbulos da semente", "folículos"



e, com isto, as tentativas de uma determinação conceitual ou paráfrase, não acham nenhum lugar na elegia. Eles não teriam



se harmonizado com a métrica dos dísticos, nem teriam sido úteis, por sua sóbria objetividade, à atmosfera aqui criada.



O observador percebe o silêncio e a segurança de que se acerca o embrião vegetal, dentro da semente protetora sob a terra.



Nesta condição de vida latente, o germe já é portador de plena capacitação, aquela que ele precisa para tornar-se uma plan-



ta completamente adulta .



"Simplesmente adormeceu a força na semente, um modelo incipiente,



Deitado, fechado em si mesmo, curvado debaixo da cobertura,



Folha e raiz e embrião formado, apenas, pela metade, e incolor;



Seca, a semente mantém protegida a vida assim conquistada..."





















O quadro 1 mostra a semente de Ricinus communis (mamona). Testa (tegumento externo) e endosperma (albúmen) cercando o



embrião, constituído de cotilédones (aqui, uma dicotiledônea, aparecendo duas vezes, portanto), o hipocótilo e a radícula.



Nos meados dos século 19, quando W. Flemming descobriu os cromossomos como portadores de informação genética, Goethe



ainda não conhecia nada ainda sobre alterações das funções fisiológicas. E ficou tão surpreso com isso que, na elegia, com



as palavras "simplesmente adormeceu a força na semente; um modelo incipiente", fez uma indicação de algo, na ocasião, des-



conhecido que é a causa de todos os processos de evolução e que, também, determina o aspecto posterior da planta. Os



conceitos "força" e "modelo", então, devem ser equiparados ao termo "Gene". Nesta altura fica claro que os estudos científi-



cos de Goethe tinham, características, também, positivamente mecanicistas.



Após a dormência da semente, o próximo passo na fase de germinação é a tumescência. Por absorção de umidade a semente



começa a inchar e o broto a crescer. A fase termina com a penetração da muda na superfície da terra e começa a direcionar-



se para a luz.















O quadro 2 mostra uma jovem muda de planta com eixo ascendente, cotilédone e raiz.



No poema, Goethe interpreta toda a fase de germinação como um processo misterioso e sujeito a um princípio; as palavras



"o solo/ broto fértil em silêncio ", "Atrações da luz, o sagrado, eterno mover" e "Simplesmente adormece a força na semente..."



deixam isto ficar perceptível. É a força da formação poética da elegia que qualifica este poema como um efetivo relatório cien-



tífico. Günther Müller fala aqui de uma "força de formação do poema que supera o exemplo".



Os versos 23 a 32 correspondem ao conteúdo do capítulo II : "Formação do talo das folhas, de nó em nó". Esta seção corres-



ponde à "tendência vertical" do crescimento longitudinal da planta que começa com a germinação, continua e chega ao fim.



Pela primeira vez, aqui fica claro o que Goethe pensa, quando ele fala de uma "metamorfose" das plantas. As primeiras folhas



que uma planta produz, são ainda muito pouco diferenciadas. Durante seu crescimento a planta produz folhas novas nos nós,



onde as posteriores crescem mais fortes que as anteriores. Isso é reconhecível tanto pelo tamanho e pela grossura, como pe-



la forma da área e da borda da folha.



















Como exemplo, o quadro 3 esquematiza o desenvolvimento da folha planta dicotiledônea.



Nesta seção, Goethe fica pasmado de quão "livres e infinitas" são as possibilidades de formação das folhas das plantas.



„Nem sempre se dá o mesmo; pois gera-se o diverso



Formada, tu vês, sempre a folha seguinte,



Mais longa, mais esculpida, mais destacada no topo e nas partes



Elas crescem juntas e suspensas sob o órgão."



Os versos 33-38 concordam tematicamente com o capítulo III do tratado. O crescimento longitudinal e com isto a tendência



vertical chega ao fim. A planta passa para a fase de florescência. Na transição da fase vegetativa para a de reprodução,



Goethe distingue duas seções: a formação do cálice e a formação da coroa. Sobre a formação do cálice, ele entra com os



versos 39-43, que correspondem ao capítulo IV do tratado.



No capítulo V, Goethe descreve a formação do florescer da coroa; a ela é dedicado somente um pentâmetro na elegia, o ver-



so 44, enquanto o hexâmetro diz respeito, ainda, ao cálice. Esta imediata transição dentro de um dístico, expressa a conexão



estreita entre cálice e florescência. Enquanto lá fora nasce seguro o cálice, o broto já está equipado com toda a estrutura



para a florescência. Na formação da flor, Goethe percebe a altura máxima da planta. Ele descreve a flor como "mais perfeita"



e com „uma estrutura maravilhosa". Simultaneamente, apresenta a formação de cálice, flores, pólen e frutos como o clímax



da metamorfose vegetal.



Nos versos 45-62, em lugar de observações particulares com detalhes muito ricos, como são as apresentadas no tratado,



vem o impacto do misterioso processo da fertilização, tanto como misterioso, como sagrado e feliz fenômeno. Criou-se aqui,



simbolicamente, uma relação com o rito do casamento humano, em que a conversa é de "par adorável", "íntima", junto a um



"altar consagrado". Pólen e fruto representam, então, o "par" adorável, enquanto que o ovário é enaltecido, especialmente,



como "altar consagrado". Nele crescem e amadurecem as novas frutas, das quais, da mesma maneira, surgem plantas novas. O



anel que havia se dividido ao meio, agora se fecha.



A parte final consiste de nove dísticos e se assemelha ao começo, em que o olhar do amante é guiado aqui expressa e nova-



mente para a multidão colorida.



Diferente da primeira parte, agora, a "palavra desligada" é transformada em "lei secreta" se torna visível; como consequência



disso, é produzida a solidariedade orgânica da primeira parte com a parte mediana.



„Mude agora, oh amada, o olhar para a multidão colorida,



O desconcertante não se move mais diante do espírito.



Cada planta lhe anuncia agora as leis eternas,



Cada flor, ela fala de alto e bom som contigo".



A palavra „anuncia" deixa claro mais uma vez que a realidade lingüística aqui é poética, não é científica.



Nos dísticos seguintes, também, fica claro que a revelação, de modo simbólico, da lei da vida das plantas é, ao mesmo tempo,



uma lei da vida global; pois, os animais, inclusive o ser humano, são dominados por esta lei (versos 69 e 70). Além do reino



das plantas, plana o olhar sobre os animais. Novamente, o olhar fixa a metamorfose da borboleta que se passa do ovo às fases



de „lagarta que rasteja vacilante", imóvel pupa e "a borboleta alegre se alvoroça". Aqui, também,



o poeta reconhece a efetividade das mesmas leis naturais.



Os últimos cinco dísticos contêm a mais alta evolução. A lei da metamorfose onipresente também é transferida ao ser humano.



Suas formas de vida, também, obedecem às regras da transformação crescente. Aqui, atinge o Amor, com suas metamorfoses, seu



mais alto grau de desenvolvimento: a harmonia das atitudes fundamentais.



(Fonte: www.udoklinger.de)
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