Como fada madrinha debrucei-me sobre o leito. Os cabelos cascateavam rebeldes, cobrindo parte do rosto delicado. Nos lábios um sorriso sereno, de quem caminha por sonhos agradáveis. Ajeitei a coberta nos ombros miúdos e esse simples gesto levou-me para um outro quarto em uma noite distante...
Revejo-a dormindo no berço, apertando nos braços um bonequinho azul com chapéu de duende. Na tênue claridade do palhaço de louça, a carequinha reverberava. Nem de longe a promessa dos longos cachos dourados em cascatas. Acobertada pela tranqüilidade do quarto, vesti minha roupa de fada e usei, pela primeira vez, o encantamento dos desejos. E o tempo passou a correr...
Emocionada pela recordação da cena, sento-me ao lado da cama, tentando não esquecer nenhum detalhe. Repito baixinho cada palavra, impregnada pelo mesmo amor, sabendo que tudo o que eu disser poderá mudar o destino que foi traçado. Mas o que o coração de uma mãe-fada-madrinha pode desejar além de felicidade? Talvez sabedoria para reconhecer a felicidade em cada momento vivido. E também muita paz para construir os ideais. E uma dose imensa de força para seguir em frente se a tal felicidade encontrada não for a desejada. Não tenho o que temer. Só preciso, talvez, reforçar o desejo para que venha um belo rei!