Estamos sentados no sofá, conversando, você então diz que tem que sair e que vai tomar um banho. Diz também que não vai demorar e que eu espere para sairmos juntos.
Eu continuo na sala e ouço o barulho do chuveiro. Depois de algum tempo, percebo que a água que caia do chuveiro enfraquecera. Você então grita o meu nome e pede:
- O chuveiro quebrou, vem cá me ajudar a consertar!
Eu então vou ao banheiro te ajudar, bato na porta e você diz:
- Pode entrar!
Mas, quando eu abro a porta e entro, o chuveiro volta a funcionar normalmente. Você abre a cortina do box, e percebo que o chuveiro está perfeito, e você, em baixo dele, perfeita. Em baixo do chuveiro funcionando, você me diz:
- E então? Você vai ou não me ajudar?
Eu ali, olhando para seus lábios, digo cinicamente:
- Mas o chuveiro não está quebrado.
E então você, molhada, sensual e cheirosa, diz:
- Você não pode saber de nada estando aí fora. Eu estou aqui em baixo, então só eu posso saber se ele está quebrado ou não.
O banheiro, úmido e cheiroso, antes de apreciar seu corpo, além de molhado, suado e, além do quente do chuveiro, o quente de nossos corpos, ouve suas últimas palavras:
- Então entra aqui e nós dois juntos saberemos se o chuveiro está quebrado ou não.
*Conto presente no livro "O lado secreto da inocência", publicado pela primeira vez em 1999, e mais recentemente em janeiro de 2002.