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Contos-->O Anúncio -- 12/01/2005 - 00:41 (Luis Gonçalves) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O Anúncio

Luís Gonçalves
Nasci numa região hostil. Um pedaço úmido do planeta, denominado Pantanal, onde não cabem as diferenças de sexo, cor e credo. Lá a vida apetece com tantos dissabores que a essa pequena picuinhas nos preferimos fazer vistas grossas. E garanto que não é por caridade; é questão de amor. Lá se leva à sério qualquer tipo de paixão. Somos um povo apaixonado pela vida e cultivamos a harmonia com o natural calor humano. Tanto é que: seis meses se trabalha durante a estiagem; e os seis meses restantes são dedicados tão somente ao chamego de rede, enquanto a chuva fina rega o telhado do humilde recanto de amor. A mulher é a regente mor do tempo e espaço. Durante esse período toda a atividade do macho humano pantaneiro fica definitivamente limitado.
O nativo é tratado à base do caldo da cabeça da piranha, coado no saco, e outras bebidas afrodisíacas. Mas se não render o esperado, quando chamado à responsabilidade, corre o risco de perder o trono e a coroa também. Aprendemos desde cedo que não se deve brincar nesse tipo de folia. Isso é exemplo de homem sério, que detém o segredo da boa vadiagem entremeio as fronhas e os lençóis.
Dando continuidade a essa tradição secular, comecei a praticar os primeiros pinotes de gente faceira com a minha prima Maria. Assim que soltei os pêlos do sovaco. Daí em diante seguimos o calendário sexual segundo a norma do tempo. Durante o verão chuvoso era folia noite inteira em cima do couro de boi estirado no centro da sala de dormir. Só se via o lombo do sujeito corcovear, na labuta ardente do tosco catre. Prima Maria, foi uma professora exigente e severa. Era rigorosa com os fundamentos do catecismo do prazer. Mas eu fui, sem falsa modéstia, um bom aluno. Tanto é que aprendi as lições e passei a venerar o livro oculto, como beldade máxima. Até dias de hoje, não costumo dispensar uma boa aula de etiqueta vindo de uma mulher fogosa.
Mas a felicidade do homem é do feitio da marola do vento: passa de mansinho. Prima Maria foi entregue ao casamento e partiu para outra paragem. Eu cá, agoniado, na barranca — a vi desaparecer na esquina do rio igual um chumaço de rosas enfeitando a proa de uma canoa. E assim perdi a minha primeira deusa do amor. Pouco tempo depois, deixei o lugar e segui para a Capital, a fim de concluir os estudos. Mal assentei a poeira, dei inicio a minha valiosa dissertação feminina. Faceiro, compus vários monólogos apaixonados, plantado diante do espelho, dedicado às divas que aos poucos foram enriquecendo o meu cotidiano moderno.
Dentre as ninfas figurava Manoela. Um pequeno pedaço de mau caminho. Também, a mulher que mais cultuei. E com ela encontrei a decepção. Depois da Manoela tive que repensar a minha vida de amante. No momento, sou um reflexo esdrúxulo do antes e o depois. E foi essa pequenina caixa de surpresa que arrebatou o meu juízo. Pela Manoela fiquei maluco e avancei o sinal.
Na primeira oportunidade que tive, agarrei-a pelo braço e arrastei a sujeita até o meu aposento de dormir. Meus olhos ameaçavam saltar das órbitas. A boca escumava igual um cachorro louco, tamanho era o desejo. Quando tranquei a porta senti que estava a um passo e meio de cometer o maior crime da minha carreira. Não conseguia conter o impulso e gaguejava palavras evasivas. Aliás, tudo era sem nexo, sem sentido, exceto aquela vontade maluca de concluir o coito. Quanto mais eu encarava aquele corpo franzino, indefeso, encolhido no canto da cama, mais louco ia ficando. Talvez por respeito aos princípios morais e ao rigor da minha origem, procurava manter a calma. Enganava o tempo passando em revista rápida, na mente, toda a ética de um bom amante pantaneiro. Pouco valia. Nada conseguia estancar tamanho desejo e conter a libido afoito.
Atordoado, recordei as belas juras de amor, que prestei de joelhos diante da sagrada gruta de prima Maria. Fragmentos das nossas noites encharcadas em desejos. Regadas pelo gotejar vadio da chuva mansa no telhado. Princípio sem fim da minha idolatria feminina. Desde então descobri: nada substitui a mulher! Se Deus fez coisa melhor levou com ele, neste mundo não ficou.
E a aquela garota plantava uma carrada e meia de indecisão na minha atitude. Estava agindo empurrado pelo instinto selvagem de macho. Mas no fundo labutava com a dura realidade. Titubeava igual um peru bêbado. Seguia transformando as nossas vestimentas em fragmentos miúdos de tecidos largados ao chão. Possesso eu era um leão em tara de cria. Sádico, acendi a luz do abajur para encarar a face tímida da vítima entregue ao torpor. Pelado, parti para o desfecho do páreo adúltero. Joguei o meu um metro e oitenta de pura emoção, esmagando aquele frágil corpo assustado com total indelicadeza.
Com ousadia masculina me preparei para colocar em ordem a minha agonia. De súbito ouvi uma voz sussurrar algo que de inicio pouco entendi. Voltei assombrado para o televisor esquecido no canto. Mas não era o aparelho e nem o rádio. Tudo estava mudo, exceto a Manoela que decidida empunhava os dedos em riste, em minha direção, prendendo entremeio o indicador e o médio, um envelope esbranquiçado...
— Negativo! Sem camisinha, nem pensar.
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