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Contos-->Décimo sétimo andar -- 15/12/2000 - 10:22 (Edilane Lira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ele chegou sutil e calmo. Era assim que chegava todas as manhãs. Colocou a pasta em cima da mesa, leu a resenha, sentou-se e voltou-se para a janela. Gostava da vista. Podia ver a praia dali do décimo sétimo andar. Recostou-se confortavelmente, apoiou os braços e tentou relaxar. Apesar de tamanha calma, não relaxava nunca. Seu ego era sempre algo louco e inquieto. Fechou-se no próprio desejo e resolveu voltejar na vista estonteante.
No prédio ao lado, uma mulher subia angustiada as escadas. Havia nela um misto de soluço e lágrimas. – Canalha! Canalha! Tentava repetir a si mesma a todo momento, mas não conseguia. Seu peito era uma masmorra de angústia e desespero. Acreditava ser sua culpa e isso lhe corroía a alma e os sentidos. Era uma ninfa a castigar-se por suas próprias qualidades. Era uma ato de sacrifício.
O lugar não poderia ser mais propício, o elo entre os egos que se conheceram atravessando a avenida. Ele em sua calma decorativa, ela em sua ânsia pela vida. Parecia o cenário ideal para a maior demonstração patética de desilusão. Ela continuava subindo.
De sua cadeira ele não notou quando ela parou na janela do décimo sétimo andar do outro prédio. Estava submerso em tédio, não poderia notar alguém se debatendo com a vontade de viver. De um lado era desprezo, do outro desespero. Seus pulsos sangravam por entre suas taciturnas veias, tão insensíveis quanto seu coração. Nela, o coração era o corpo, a comoção. Ela trazia consigo o achar que havia causado tanto desprezo. Ele, tinha o dom de fazê-la acreditar.
Não fosse o vidro que se rompeu quando ela lançou para o ar o suporte de papel, ele não teria percebido ninguém do outro lado. Ele não a teria percebido. Estático e confortável, deixou seu olhar se cruzar com o dela, que vicejava tristeza, angústia e lágrimas. Ela não teve gestos, nem coragem. Ficou imóvel, estática a olhá-lo. Ele ergueu-se lentamente de seu sossegado descanso e – acelerado por dentro – deu-lhe as costas em um xeque-mate.
Um estrondo. Voltou-se violentamente para a janela. Era tarde, ela já havia se atirado.
Ofegou uma, duas, três vezes, mas não demonstrou reação. Guardou a resenha, recolheu sua mala e calmamente preparou-se para sair. Não se sentiu culpado, sentiu alívio. Tinha traído, mas o que é trair alguém que acredita merecer uma traição?
Retirou o celular do bolso, fez uma ligação. O tabuleiro precisava ser refeito, dama e cavaleiro poderiam se encontrar. Afinal, estava disponível outra vez.
Do outro lado da rua, ela se desmanchava em sangue, em culpa. Morreu repetindo a si mesma:
- Foi minha culpa!
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