A terapeuta
Toda sexta-feira era assim.
Ela, a neurótica-erótica, entrava, deitava no divã e falava sobre suas transas: como fazia, entrava e saía, se era bom ou ardia.
E que riqueza de detalhes, meu Deus!
Discorria com tal propriedade que eu via a cena, sentia a tara, inalava os odores... por pouco não gemia.
À medida que avançava no relato, minha imaginação desenfreava, embarcava com ela, a libido ia a mil, o rosto ardia, o sexo molhava...
Hora infernal que não passava. Tortura mental semanal que eu arranjara.
Olhei-a deitada, vestido soltinho, curtinho, coxas de fora. Seus olhos vagavam perdidos na evocação do que narrava. O apelo sensual que passava era quase animal.
Arrumei o corpo na cadeira. Em minha mesa de trabalho, olhei o relógio e rezei para que a tal hora passasse.
Ela agora gesticulava, ilustrando o ato... como se precisasse.
Sorri discretamente.
Enfim... sentou, arrumou os cabelos, pegou a bolsa e se despediu.
Acompanhei-a até a porta. Recostei-me por instantes nela... e decidi: cancelei os demais clientes, fechei o consultório e dirigi feito louca até em casa.
Tinha pressa... ia estuprar Vicente — que não entendeu muito bem, mas adorou o repente.
Rose Oliveira |