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Contos-->ALBERT, EM BRUXELAS -- 01/01/2005 - 16:50 (Welington Almeida Pinto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

ALBERT EM BRUXELAS

Welington Almeida Pinto
Welington Almeida Pinto
- Chegamos, senhor.
- Ah, sim. Obrigado. Esta nota paga a corrida?
- Dez Francos! E ainda tem troco.
- Não precisa. Guarde o dinheiro.
- É mais do que o preço marcado pelo taxímetro, senhor.
- Não se preocupe. Resta-me outra, o bastante para pagar a pensão por esta noite – garante o passageiro.
- Agradecido, senhor. Bom descanso.
- Bom trabalho, camarada. Tiau.
Albert desce do táxi e entra no Hotel. Sobre o balcão de recepção o livro de registro de hóspedes, um mata-borrão, duas canetas pretas e um tinteiro. Uma campainha de metal e um pequeno busto de bronze de Leopoldo I. Confiante, toca a campainha para chamar a atenção do recepcionista que lia um jornal, mergulhado numa poltrona.
- Boa noite.
O moço ergue os olhos do jornal:
- Sim, senhor.
- Meu nome é Albert, venho de Londres. Quero um quarto.
- Um quarto!?... admira o recepcionista, aborrecido com a interrupção da leitura por aquela estranha figura de pé na sua frente; um homem magro, a cabeleira branca, emaranhada, descendo pela nuca sobre um colarinho encardido.
- Sim. Um quarto, por favor – repete Albert, sorrindo.
- Muito bem, são doze francos. Pagos adiantados.
O homem põe a pasta de couro no chão, o capote sobre ela e busca nos bolsos do casaco o dinheiro. Acha apenas uma nota de dez francos e algumas moedas.
- É o que sobrou – mostra o dinheiro.
- Lamento, o senhor só tem dez francos e cinqüenta e quatro centavos. Não posso fazer nada – afirma o hospedeiro numa expressão carrancuda.
- Mas...
- Não adianta insistir. Descendo a rua vai achar pensões mais baratas. - Não, está tarde. Amanhã, pago o restante.
O hospedeiro cuspinha para o chão, resmungando entre os dentes:
- Impossível.
- Calculei mal.
- Quanto pensa que tinha?
- Não sei o certo. Quando saí de Londres minha mulher me deu várias notas. Disse que era o bastante. Mas encontrei tantos pobres no navio, que me vi na obrigação de ajudar alguns.
- O que veio fazer em Bruxelas?
- Visitar amigos.
O hospedeiro franze a testa:
- Por que não fica com um deles?
- Sim, amanhã. Não quero importuná-los a esta hora da noite.
- São pouco mais de sete horas.
- É tarde. Acho que não devo.
- Importunar amigos, não pode. Me encher meu saco, pode. Vamos andando, cara. Descendo, você encontra hospedagem mais barata.
- Tudo bem. Mas, poderia me fazer um favor.
- Se prometer dar o fora.
- Sim. Antes, quero usar seu telefone.
- Combinado. Passe o número que eu disco.
- Só tenho o endereço.
- Tudo bem. Já estou com a lista telefônica na mão, desembucha.
- Castelo de Laken.
- Castelo de Laken!... Não. Não pode ser.
- Isso mesmo.
- É um trote, não é?
- Não, não é. Tenho uma grande amiga que mora lá.
- Lá é a residência real, cara.
O hospedeiro torna a olhar Albert de cima a baixo. Depois de uma risadinha divertida, caçoa: - Suponho que toma chá com a rainha Astrid.
- Sim, às vezes. Ela é minha amiga.
- Fazendo hora com minha cara, não é?
- Não, não estou. Por favor, veja para mim o telefone do Castelo de Laken.
O moço pensa um pouco e relaxa. Desenha nos lábios um sorriso irônico e resolve divertir um pouco mais com o estrangeiro. Encontra na lista o telefone do Castelo, disca e passa o aparelho a Albert, dizendo:
- Fique aí batendo papo com a rainha que vou até a porta tomar um ar.
Enquanto Albert falava ao telefone, o hospedeiro sai e logo volta com um policial.
- Tudo bem, tudo resolvido – adianta Albert, ao avistá-lo novamente.
- Que foi que a rainha disse? – pergunta o hospedeiro, piscando para o guarda.
- Estava no banho. Deixei o recado com a Senhora Sudary, sua camareira. Passei o número do telefone do hotel. Fiz mal?
O moço da recepção balança a cabeça como quem diz não adianta mesmo. O policial se aproxima de Albert, batendo uma das mãos nos seus ombros:
- Como se sente?
- Agora, melhor. E o senhor?
- Não se preocupe comigo. Vou providenciar uma ambulância para levá-lo ao Hospital.
- Para mim!?... Não estou doente.
- Sim, deve ser um surto passageiro – tenta explicar o agente.
- Acha que estou ficando tantã?
- Terá um bom tratamento em nosso Hospital.
- Pare com isso. A rainha vai me ligar daqui a pouco.
O policial ironiza, rindo:
- Ela telefona para o Hospital.
E dirigindo-se ao hospedeiro:
- Chame uma ambulância, por favor.
Albert perplexo:
- Seu guarda, não acha que está cometendo um grande erro?
- Por favor, controle-se.
Assustado e inquieto, Albert ameaça deixar a recepção do Hotel, mesmo sentindo suas pernas privadas de impulso. O policial dá um passo à frente e agarra com fúria o braço do estranho, como se quisesse dar um basta. Neste instante, ressoa na distância o som de uma sirene que se aproximava.
Albert, sem entender, consulta o relógio, lamentando:
- Deus do céu!... E se a rainha me telefonar?
- Pois bem, agora podemos sair. Dizendo isto, o policial sai empurrando Albert. Fora, a ambulância tinha acabado de estacionar. O motorista veio ao encontro do agente que começou a explicar o que estava acontecendo.
O relógio da igreja Notre-Dame-de-la-Chapelle badala. Oito horas. De súbito, a campainha do telefone toca. O hospedeiro, que assistia tudo de pé junto à porta do hotel, corre e atende.
- Alô!... Sim, Majestade. Quem? Um momento, Majestade. Pode aguardar na linha, por favor. O recepcionista pousa o fone sobre a mesa, como se fosse uma jóia muito delicada. Em seguida, pula para a rua bradando:
- Esperem! Há um engano. Esperem um minuto!
O policial, que abria a porta da ambulância, sente o sangue abrasar-lhe o rosto:
- O que é agora?
Meio sem fôlego e com a fisionomia alterada, o hospedeiro fixa os olhos em Albert e pergunta: - Por favor, seu nome completo?
- Albert Einstein.
- Então é o próprio!
O oficial interfere, nervoso:
- O que está acontecendo?
- Tem uma senhora no telefone querendo falar com você. Disse que é a rainha.
- Você também está ficando maluco, cara?
- Não, é verdade – insiste o hospedeiro. Venha depressa.
Olham um para o outro, interrogando-se. O guarda corre ao telefone:
- Oficial Van Eck falando. Sim, Majestade. Certo, Majestade. Imediatamente, Majestade.
O policial larga o telefone, desconcertado. E se dirige ao cientista:
- Doutor Albert – diz ele com voz suave - a rainha deseja falar com o senhor.
Os olhos do Cientista se iluminam de repente. Com o peito ofegante, caminha apressado para o hall do hotel e pega o telefone. Depois de conversar com a rainha, ajeita o nó da gravata no pescoço e encara o policial com um risinho crítico:
- Bem que tentei explicar. Pode dispensar a ambulância, a rainha mandou um carro me buscar. - É claro, senhor.
O hospedeiro também se aproxima de Albert, recompondo-se:
- Perdoe-me, senhor.
- Bobagens! Tudo está bem quando termina bem – responde o Matemático.
E acrescenta:
- Eu e a rainha vamos tocar um dueto na noite do próximo sábado. Apareçam, serão meus convidados.

* Notas do autor. Albert Einstein, físico alemão, naturalizado norte-americano ( Ulm 1879 – Princeton 1955), além de ser um dos maiores cientistas de todos os tempos, foi um grande violinista. Recebeu o prêmio Nobel de Física, em 1921. Era um homem generoso, sempre ajudando os mais necessitados.

** Leopoldo I, de Saxe-Coburgo, primeiro rei da Bélgica após a independência em 4 de outubro de 1830 – Reinou de 1831 a 1865.

*** Rainha Astrid, rainha dos belgas. Em 1926, aos 21 anos, casou-se com Leopoldo III.

** Welington Almeida Pinto é escritor. Autor, entre outros livros, de Santos-Dumont, No Coração da Humanidade e A Saga do Pau-Brasil. Ver a relação de seus livros.

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08.03.2005
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