Setembro, 2009:
numa cidade mineira
faz frio, ainda chove;
uma grande paradeira.
O povo endividado
faz negócios sem parar,
sem dinheiro, só fiado,
algum dia vão pagar.
Eis que lá um gringo chega
e entra numa pensão,
põe no balcão a pelega,
cem paus, quer acamação.
Enquanto o gringo vê
o conforto do seu quarto,
a dona vai sem correr
ao doutor pagar o parto.
Cem paus tinha o doutor
pelo parto a ganhar,
a dona sem sentir dor
veio para lhe pagar.
No açougue o doutor
quer seu débito pagar,
agradece o favor,
são cem paus do pendurar.
Sem luvas e avental,
o açougueiro saúda
o dono de um quintal
que lhe prestava ajuda.
Com cem paus porcos pagou
ao bondoso criador,
que também as mãos lavou
e correu pr`outro doutor.
Era um veterinário
que os porcos vacinou,
cem paus de numerário
foi o quanto lhe quebrou.
Esse doutor folgazão
pra zona se dirigiu,
onde se fez de machão
a dívida contraiu.
Prostituta também banca,
encara crise fiando,
ái se alguém não se manca,
cem paus ele sai pagando.
A puta vai à pensão
sua dívida saldar,
a cama e o colchão
que lhe dão seu sustentar.
São cem paus a creditar
diz a dona sem rodeio,
quando lhe telefonar,
pode chegar sem receio.
O gringo, todo posudo,
rejeitou a hospedagem,
a cama, o quarto, tudo,
nem desceu sua bagagem.
Seus cem paus lhe devolveu
a dona, com prontidão,
o gringo os recebeu
grato pela atenção.
Ninguém ganhou um vintém,
mas a cidade ficou
sem nenhum devo também,
seu futuro renovou.
Quando circula dinheiro
não há crise que aguente,
se cai na mão de mineiro,
ele fica bem mais quente.
Usura é um veneno
pra nossa economia,
juro, inda que pequeno,
é pura mesquinharia.