Lolita sabia que não podia contar mais com o mundo.Entusiasmara-se a deslizar a sua alma.
Voltou então ao local,eram dezoito e trinta,já anoitecera.Entabulou caminho,ligeira no seu estádio, consoante as suas forças o permitiam.Entrou pelo portão adentro, observou verdes limos e inalou a sua essência.Inspirou,sentiu um ligeiro tremor.Tocou insistentemente na sineta caduca.Apareceu-lhe um jovem perguntando-lhe quem era e o que pretendia.Lolita sentiu-se ridícula e balbuciou umas palavras de desculpa,realmente nem ela sabia o que pretendia!Sim, já lembrava: motivo, rosas, claro, era isso.O Jovem franziu a testa como reconhecimento da trepidez da senhora que se lhe deparava e exclamou:-Ah as rosas...tenho então o prazer de conversar consigo.De facto eu protagonizei essa ideia de lhas enviar porque aqui todos sabiam que viria para cá, radicar-se, e então resolvemos fazer-lhe uma brincadeirinha com "style", afinal a sua escrita é tão translúcida que adivinhamos até o sussurrar do seu imaginário...e se me permite, a senhora nem sequer viveu a sua história, tornando a sua vida muito oca...e valeu a pena?
-Tudo vale a pena quando a alma não é pequena, já dizia Fernando Pessoa-tremelicou o espectro de Lolita.
-Não quer entrar? Chamo-me Miguel.Poderemos filosofar um pouco sobre a justiça de alguns sacrifícios que mulheres da sua idade passaram em prol da sua felicidade...
-Muito obrigada, mas não, até porque nada vai mudar a minha história, porque eu não a quero mudar.Agradeço a amabilidade de que fui alvo.Por momentos pensei...mas diga-me, esta casa não está abandonada?
-Digamos que venho cá muito poucas vezes...
Lolita lembrara-se da senhora cinzenta...aldeia!
-Vou então mudar a minha atitude envolvendo os meus escritos de menos autobiografia, libertando-os do meu cunho pessoal.Nós deveríamos ouvir os jovens e aproveitar a frescura das suas ideias.
-Mas não quer entrar?Insistiu Miguel.
-Não, obrigada.Fica aqui o meu convite para ir até a minha casa e aí poderemos tertuliar se lhe for de feição.Sempre foi o meu sonho organizar tertúlias com várias pessoas e lançar um mote, depois dar aso ao nosso conhecimento e partilhá-lo.Vou providenciar um serão cultural e depois aviso-o.Combinado?
-Muito bem.Aguardo ansiosamente...Tenho algumas ideias.Também gosto de escrever, apesar de ser um Engenheiro!
-Falaremos disso então.Agradeço-lhe mais uma vez a sua simpatia e frontalidade.Lolita cumprimentou-o suavemente e regressou ao seu paraíso.
Pelo caminho, despoletaram nos seus lindos e rasgados olhos duas lágrimas: misto de raiva, melancolia e desalento.Dera-se aos leitores demasiado e estes transformaram-lhe o texto e a sua história, porque de repente, não mais do que de repente,pensara que iria reencontrar o seu amor e definitivamente juntaria a sua alma à dele...almas que se perderam por um encontro fora do tempo.
Era noite e Lolita escrevia com ânsias de se defender da partida que a vida lhe pregara.Mais uma vez aceitou. Desta vez enterrou o passado definitivamente.A paz era agora o seu êxtase.