Eram estudantes de Odontologia numa cidade do interior do estado do Rio de Janeiro. Os dois começaram a estudar juntos e eram muito amigos. Estavam na fase de residência. No começo, para eles, era um verdadeiro pavor, imaginem para os coitados dos pacientes. Para aquela gente humilde que não tinha dinheiro para um tratamento dentário, na verdade mal tinham grana para se alimentar, esse tratamento era a salvação. A cada novo paciente era um novo desafio para os jovens estudantes, aprendizes de dentistas. Eles estavam indo muito bem, merecendo inclusive elogios de seus ilustres mestres, até que um belo dia surgiu um paciente que estava morrendo de dor e que queria ter o seu dente arrancado. Era um indivíduo de alta estatura, forte e com jeitão bem bronco.
“Doutor, será que você poderia tirar esse maldito dente. Não estou mais aguentando de dor!”
-Bradou o sujeito com a mão na face.
“O senhor será atendido logo, por favor espere aí na fila.” -Respondeu o cirurgião.
“Mas Doutor, eu não aguento mais, será que o senhor não podia quebrar o meu galho.” -Fazendo pressão gritou o negão.
“Vou verificar então o seu caso.” -Disse o dentista.
Pediu desculpas aos seus pacientes e acabou por atender a mal fadada criatura. Perguntou-lhe se poderia apontar o dente “bichado”. O truculento atendeu-o, mal podendo tocar no maldito dente.
“Dr. Jarranca, é esse aqui...Vê se aranca logo, pô !” -Urrou o paciente.
“Bom, vou aplicar a anestesia e depois eu o arranco.” -Respondeu o aprendiz de Odontologia.
“Ai ! Será que não vai doer um pouco ?” -Chorou o dolorido e sofrido sujeito.
O Dr. Jarranca explicou-lhe que era um procedimento comum para evitar dor durante a extração.
Preparou a anestesia, aplicou-a e procedeu na retirada do já desnecessário dente. O seu amigo de residência, Dr. Anestésio, observou a cirurgia desde o início, aprovando cada atitude do cirurgião. Após o paciente ter ido embora, os dois discutiam sobre o caso, quando o Dr. Jarranca mostrou orgulhoso o dente retirado do pobre crioulo.
“Olha aqui Dr. Anestésio, é um belo canino !” -Contou vantagem Dr. Jarranca.
“Ué, o dente “bichado” não era um canino ? Acho que você tirou o “caco” errado Dr. Jarranca!” -Assustado gritou o amigo.
“Caraca, e se o cara notar e quiser voltar prá me matar ? Cê viu o tamanho do homem?” -Gritou o aprendiz assustado.
“É contigo mesmo, eu tô fora, se vira! Você que cometeu o equívoco. Agora que aguente.” -Disse o Dr. Anestésio.
“Cê não vai me largar na mão agora, vai ?” -Perguntou o apavorado amigo.Os dois acharam melhor esperar para ver o que iria acontecer.
No dia seguinte adivinhem quem apareceu no consultório? Isso mesmo, era o truculento sujeito e com cara de poucos amigos. Novamente com a mão na cara, ele parecia que agora estava com mais dor ainda. Foi uma verdadeira briga, ninguém queria atender o tal camarada. No final o amedrontado Dr. Jarranca acabou por convencer o seu colega a atendê-lo.
“Pode falar meu amigo, que mal lhe aflige ?” -Perguntou-o, já tremendo de pavor.
“Doutor, sabe aquele dente que o Dr. Jarranca arrancou ontem ?” -Murmurou o coitado.
“Sei, pode falar meu amigo.” -Tentou ganhar tempo o apavorado Dr. Anestésio.
“Ele ficou legal mas ,hoje de manhã , quando eu acordei apareceu um outro, ao lado daquele maldito, doendo mais ainda. Será que o senhor poderia pedir para o Dr. Jarranca arrancar ele também ?”
Moral da História : “Em terra de cego, quem tem um dente, ops.. er..REI....”
