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Cartas-->Amigo virtual -- 01/06/2003 - 09:58 (lea miranda) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Mais de um mês. Há exatos 32 dias não recebo um e-mail dele. Nem uma piadinha sem graça, uma besteira encaminhada. Uma corrente que seja! Nem corrente ele me mandou. Aconteceu alguma coisa. Bem que desconfiei quando a confirmação daquele cartão que enviei pra ele voltou. Dizia que eu tinha enviado para uma tal de Raquel. Quem é ela? Como foi parar na sua caixa postal, se enviei pro meu querido Mendelson? Com um nome desses, não teria como me enganar de caixa postal.

Já sei. Ele deve ser casado, ao contrário do que afirmou. A mulher ciumenta deu um jeito de desviar os e-mails dele pra outra caixa postal e olha lá a confusão! Meu Deus e se descobre de onde veio o cartão. Quem sou eu! Meu endereço! To perdida. E o cartão era bem ousadinho! Mesmo que ela não fosse ciumenta, morreria de ódio. Enviei uma mensagem pra ele comentando o fato. E nada! Nenhuma linha.

Duas semanas se passaram. Comecei a pensar. Ele era tão sensível. Dizia coisas lindas. Seus textos tinham uma profundidade, transmitiam uma ternura pouco comum nos homens. Achei! Não era um homem. Era a tal Raquel usando o nome Mendelson pra fazer contato com mulheres. Pervertida! E eu cai na história dela. Até escrevemos um texto a quatro mãos. Ficou lindo. Ele(?) adorou. Eu também. Primeiro um esboço. Troca de mensagens, as palavras revelando sentimentos, criando formas. Foi muito instigante. Revelações de dois desconhecidos. Íntimas. Secretas. O mesmo amor pelo texto. Claro, malicioso. Doce, sensual. Ficou lindo.

Acessei a página em que ele publicou o texto que escrevemos. Para uma princesa. É a última crônica que divulgou. Dois meses sem uma crônica. Meu Deus! Não é nada do que estou pensando. Aconteceu alguma coisa. Deve estar doente. Muito doente. Não, ele era jovem. Sofreu um acidente. Está imóvel num hospital. Como posso saber dele?
E a tal Raquel? Deve ser uma irmã que está recebendo os emails dele. Mandei uma mensagem. Fui discreta. Demonstrei a falta que sinto do seu contato. Quem sabe ele pede pra irmãzinha escrever algo pra mim. Contar do acidente, do seu restabelecimento. Posso até enviar uns poemas pra ela ler nas tardes intermináveis.

Tão longe a cidade dele. Fronteira com o Uruguai. Nem sei onde é. Se soubesse pegava um avião e ia visita-lo. Chegava lá. Daria um beijo de bom dia, faria um carinho nos seus cabelos. E se ele não gostasse de mim? Somos apenas amigos. Ele gosta de mim. Não tem nada a ver com aparência. Conheço o seu interior, um pouco da sua personalidade. Ele sempre disse que gosta do meu humor, do meu mistério. Amigos gostam dos amigos apesar deles serem baixinhos ou usarem óculos. E a tal Raquel? E se chego lá e não tem nenhum Mendelson na cama, mas, uma safada de uma Raquel colocando na internet a foto do irmão e se fazendo passar por ele?

Como não lembrei disso antes! Ele tem um página em que escreve sobre música. Aquela onde vi suas fotos. Ele está bem charmoso. Quem sabe lá consigo alguma notícia sobre ele.
Página não encontrada. Acabou a página dele. Mas ele amava aquela página. Se a retirou a coisa é mais grave do que estou pensando. Morreu. Oh! Meu amigo morreu. E eu nunca saberei! Por que não existe uma central de notícias na rede, onde se divulgue os internautas que morreram?

Ele publicou recentemente um livro que foi comentado pela Veja. Vou correr a seção de notícias. Quem sabe noticiaram sua morte lá. Nada. Ele não famoso. Nunca saberei.

Três meses sem notícias. Abro minha caixa postal todos os dias, esperando ver uma mensagem lá. Enviei algumas. Nada. Engraçado que nenhuma tenha voltado. A caixa postal dele já deveria estar sobrecarregada. Talvez a irmã esteja lendo pra matar a saudade do Mendelson. Nunca saberei. Ouço um blues. Bate uma melancolia.

Hoje estou feliz. Recebi um convite e vou publicar meu primeiro livro. Vai ser divulgado na rede. Vou mandar uma mensagem pra ele. Triste. Curtinha. Talvez a irmã fique com pena de mim e me envie notícias. “Seu amigo virtual morreu, mas, ele gostava muito de você”. Não tenho esperanças. Mas, já disse, hoje estou feliz. Pessoas felizes são persistentes. Vou tentar mais uma vez.

Uma mensagem. Uma mensagem dele. Abre logo! Estou tão ansiosa.

“Olá. Estou sem tempo. Prometo que no fim de semana visitarei sua página. Beijo, M”


Que pena, meu amigo morreu!
Que pena, perdi um amigo!
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