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Contos-->Memórias de Lolita(3) -- 30/11/2004 - 21:22 (elvira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Observava que o seu filho se transformara num fã do Dany da telenovela das seis. Foi positivo este fanatismo porque assim usava os óculos de acrílico azul, com vaidade. E a sua imaginação voava para os braços de kiko. Este ficara doente, verificou que a sua companheira era doce com ele e optou pela sua família. Contudo à noite mantinha conversas com as suas fantasias da net: umas mais lerdas, que escreviam simpático com c, outras, mais ardentes, que o consolavam virtualmente. E os dias, anos, passaram…nunca mais ouviu falar dele e fez tudo para não o ver, apesar da promessa de restar uma amizade que Kiko nunca quis regar, a qual, mais tarde ela agradeceu. Rezou por ele, para ser feliz, um dia. Sempre fora altruísta, ela. Porém, fechou o seu coração. E nunca mais amou ninguém.
As rosas amarelas…depois de tantos anos, nunca mais teve flores com um perfume tão inebriante! Relanceou a jarra alva. Veio-lhe à mente a vivenda Ventura do Parchal, em Portimão, quando o senhor Ventura do jardim colheu uma rosa amarela para a parabenizar, naquele Agosto tórrido. Hum, que delícia, o estio da sua vida, apesar das maleitas do concreto. Foram quinze dias de felicidade, porque como peixe em seu oceano, vivia em sintonia com a natureza.
Espreitou por entre as cortinas de renda ternamente dedilhadas pelas suas mãos. Lá fora, silenciosos arbustos sorriam-lhe.
Há apenas um dia estava ali, no seu paraíso que inventara para si, mesmo quando o marido lhe escondia os seus propósitos de edificar um reino para a sua rainha, como meigamente a imaginara.
Vestiu-se solenemente e em cada gesto desenhava-se a sua natureza carinhosa. Saiu para dentro. Espelhou-se na água limpa que vinha da nascente, correndo dengosa, na piscina. Já não se emocionava…contudo, riu com a acrobacia de um pintassilgo quando fugiu da armadilha do espelho da água. Seria porventura um pintassilgo narciso? Não…voou aparvalhado por ter conseguido fugir da sua própria beleza.
O seu pai é que gostaria de lá estar, agarrá-lo-ia no seu loureiro viscoso e vendê-lo-ia como se fosse o mais belo pássaro da Europa. Era um cigano, o seu pai, mas lá no fundo um romântico incompreendido, um solitário, tal como ela, cheio do mundo, da sua gente.
Dona Quina acenou-lhe lá, no horizonte longínquo, imaginou boroas quentes, com sabor a chouriço caseiro. Era uma miragem apenas, fruto da sua saudade…
Ligou o telemóvel, O Zé podia ter-lhe mandado uma mensagem de Áustria, onde tocava Bach…era um artista o seu menino homem! Nada…também ainda estava há pouco tempo no seu covil de fantasia. Inventava sempre desculpas para a sua papoila existencial. Era um amor para toda a vida. Lolita estava só, porém, não se sentia solitária, era uma alma isolada por opção. Afinal lutara por isso, só que não previa estar mesmo só, seria para viver o fim da sua vida com o companheiro que escolhera há trinta anos atrás. Pelo caminho da vida, ele deixou-a para se juntar aos seus, noutra estância misteriosa. A vida atraiçoou-a nos seus planos previamente idealizados quando decidiu viver para o que tinha e não para o que poderia ter. Aceitou de forma serena, a vida ensinou-a a aceitar, para não sofrer. Não lhe adiantava nada espernear, foi o que escolheu na sua liberdade.
E passou o primeiro dia do fim da sua vida a embebedar-se com a realidade que tanto sonhara. Aromas mesclados sussurraram uma canção de ninar. Abriu o computador escrevinhou letras/versos que lhe vinham à mente sobre a natureza que a aconchegava e lhe dava as boas vindas.
No dia seguinte, foi acordada, às sete da aurora, pela sineta. Talvez o padeiro…enroupou-se e abriu a porta: - sim? Sussurrou…E lá estava a menina espiga, de maçãs rosadas, olhos verdejantes, com um ramo de rosas amarelas na braçada. Entregou-o a Lolita e deu a correr, silenciosamente, mas veloz. - Mas…menina, vem cá, implorou. Desapareceu na curva. Lolita ainda pensou seguir na sua alçada…mas estava com os pés despidos. Sempre gostara de andar descalça, desde menina, a sua mãe advertia-a para uma possível pneumonia…ouvidos surdos, manteve este hábito sagrado.
Oh que diabo…amanhã, se ela regressar, eu seguro-a e obrigo-a a dizer o que está por detrás deste ritual. Ora, ora, também não era para exagerar, só foram dois dias consecutivos, ela e os seus febris pensamentos!!! Gostou, apesar da sua apreensão, sempre gostara de mistérios e de rosas amarelas. Colocou-as no salão junto ao piano de cauda, estilo alemão. Entabulou conversa com algumas notas, que aprendera durante a displicência e boa vontade do Zé.
-Vou sair…-com ar imponente, caminhou pela estrada e desfez a curva mágica da menina espiga. Deparou com uma moradia. Destituiu-se de si, da implacabilidade que religiosamente impôs a si, observou: o ciciar da natureza e o silêncio: momentos eleitos, talvez ainda na vida intra-uterina. Bateu palmas, não encontrava outro modo para anunciar-se. Um desviar de cortinas e uns olhos cor de avelã. Por favor, abre-me a janela e fala-me - exprimiu nos seus olhos rasgados de pantera, ainda belos. Nada aconteceu…
(continua!)
Abreijocas
Elvira
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