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Contos-->Tal avô, tal pai, tal neto -- 17/11/2004 - 19:16 (Bruno Rezende Palmieri) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Bruno Ropf


Em um daqueles dias em que tudo ( pelo menos aparentemente ) dá errado, recebi duas péssimas notícias: meu pai estava entre a vida e a morte,
em um hospital de Juiz de Fora-MG e eu acabara de ser demitido...
Como se não bastasse, minha mulher estava grávida do nosso primeiro filho.
A coisa estava literalmente "preta" como se costuma dizer...
Precisava ver meu pai, recém-separado da minha mãe e voltar a Brasília, desempregado, pois não haveria motivo que me impedisse de apoiar, fosse como fosse, minha querida mulher em momentos tão
difíceis.
Meu pai e meu avô materno foram veneráveis da loja maçônica de nossa cidade, no interior de Minas. Cresci acostumado àquele simbolismo
que a princípio não compreendia, mas as dores do mundo, mais que qualquer iniciação, fizeram-me muito bem compreender.
Existe um grau maçônico, simbolizado pelo pelicano, ser maravilhoso, o qual, quando não possui meios para alimentar a prole, descarna-se com o bico, dando-se aos filhotes.
É claro, a situação nem por instantes permitiu-me filosofar.
Fui visitar meu pai, quiçá pela derradeira vez. Carregava mágoas e dúvidas geradas por ele haver se separado de minha mãe, após vinte e cinco anos de casamento. Mais ainda, por haver constituído nova família. A esta altura havia nascido meu irmão, muitos anos mais novo que eu.
Chegando ao quarto onde meu pai estava, vi a cena mais horrível de minha vida. Ele era pele e osso, como um refugiado da guerra da Eritréia.
O câncer de pele, em virtude de metástase, havia avançado. Sua pele, muito clara - porquanto filho de mãe e pai italianos - era terreno propício para a difusão da doença.
Vi um farrapo humano.
- Desnecessário dizer ter pedido perdão a Deus por tudo, por ele, por mim, por todos os sofrimentos causados um ao outro.
Todavia nenhuma lágrima percorreu sua face.
Meu velho conservava a força de uma esperança bruta, irracional, adquirida à força nos embates da existência, nos tempos em que fora motorista de caminhão, quando estradas pavimentadas eram muito poucas.
A isto somavam-se os ensinamentos espíritas, rosa-cruzes e maçônicos, cultivados pelo seu espírito aventureiro de livre-pensador.
Lá estava o meu velho... e eu, diante daquela bravura a toda prova, ri e brinquei com ele, como aliás sempre fizemos.
Ali não chorei, mas quando retornei ao meu antigo lar, pedi a Deus que me tirasse a vida e a desse a ele.
Os médicos informaram que disporia, no máximo, de uns poucos meses de vida.
Catorze anos depois, ele está ótimo, viajando para todo lado, como sempre desejou.
Esta força sem controle, este sangue italiano indomável, talvez seja seu maior legado...
Ah, sim ! Voltei a Brasília, vivemos atualmente em Juiz de Fora-MG e nosso filho mais velho é hoje um homem, forte, decidido, cursando orgulhoso o primeiro ano da faculdade de Direito.

( 4.º Colocado no XIV Concurso Internacional Literário de Primavera - Outubro de 2004 - Edições AG Ltda )
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