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Contos-->Abençoados os que riem -- 17/11/2004 - 11:57 (Bruno Rezende Palmieri) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Abençoados os que riem...
Bruno Ropf

Fernando Pessoa escreveu: " o escrúpulo é a morte da ação ". A frase é especialmente útil quando o momento exige decisão imediata, quando os fatos se amontoam e se digladiam levando ao dilema. Muitas vezes o que importa, em verdade, é decidir.
Se Alexandre Magno hesitasse diante da profecia e tentasse desatar o nó de Górdio, ao invés de romper a amarra com o fio da espada, o destino não seria cumprido...
Enfrentamos situações imprevistas, insólitas ou grotescas e temos que decidir sob o império do agora.
Lá estávamos nós, eu e minha tia, hospitalizada devido a um problema cardíaco. Foi internada através de um plano de saúde. Ao visitá-la naquela manhã encontrei o quarto alagado. Segundo consta a limpeza foi feita, mas a faxineira foi chamada, deixando o serviço incompleto.
Ela estava sentada no pequeno sofá sem poder colocar os pés no chão. Chamamos a atendente pela campainha, não houve resposta. Chamamos os serviços do hospital e ninguém veio enxugar o chão.
Refleti por uns dez minutos, revoltei-me com o que via, peguei as toalhas brancas de banho e com elas enxuguei o quarto todo, inclusive o banheiro.
Minha tia ria sem parar. O aposento ficou seco como a caatinga.
As toalhas ficaram imundas, mas sabíamos que seriam substituídas mais tarde. Assim,agimos.
Soubemos mais tarde que a funcionária encarregada da limpeza do quarto, torcera o nariz quando viu as toalhas, cinzentas como fuligem.
A cada movimento meu, esfregando com força as alvas toalhas no chão, correspondia uma livre e prazerosa gargalhada da minha tia. Ela, muito mais que eu, sempre soube tirar o máximo proveito de situações como esta, incômodas de tão ridículas, ou o inverso.
Nunca perdeu tempo com dilemas. Detestava questões complexas.
Abominava complicações.
Parecia estar esperando que eu fizesse examente aquilo e eu o fiz.
Talvez tenha sido um derradeiro presente para ela, um deboche prático, instantâneo, bem ao gosto do seu espírito de eterna criança que os sofrimentos e decepções da vida não conseguiram dominar.
Submetida à cirurgia necessária conseguiu sobreviver.
Sobrevieram complicações.
Deixou-nos.
Escrevo esta passagem no dia dos mortos, para homenageá-la.
Honra aos que conseguir rir dos próprios infortúnios, da própria vida e seus percalços.
Era o que minha tia, com seu jeito descomplicado sabia fazer melhor.
Riu-se de tudo mesmo nos momentos finais.
Abençoados os que riem.
Abençoados os que zombam corajosamente dos próprios sofrimentos.
Abençoada seja minha tia.
Riu até da morte...
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