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Cordel-->AMARGO AMOR PATERNO - TRIBUTO A ISABELLA NARDONI -- 29/03/2009 - 14:08 (JOAQUIM FURTADO DA SILVA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Faz hoje um ano que sucedeu. Único cordel que fiz sobre fato do dia-a-dia. Não gosto de fazê-lo. Mas já está pronto há um ano...

AMARGO AMOR PATERNO
(A ANA CAROLINA OLIVEIRA)

1. É 29 de março. 1
Na capital sanpaulina...
Já perto da meia-noite -
Dessa noite sem neblina,
Um corpo corta o espaço
E cai sem estardalhaço...
Leve corpo de menina.

2. A mão cruel assassina
Não foi vista por ninguém.
Nem os vizinhos do prédio,
Nem o porteiro também.
Só minutos, em seguida,
Alguém deu sinal de vida
Gritando para o além...

3. Não se sabe muito bem
Quem telefonou primeiro
Ao Cento e Noventa e Três 2
Pro resgate vir ligeiro
Mas a pequena Isabella
Nardoni - pois era ela -
Deu seu adeus derradeiro.

4. Estendida no terreiro
Gramado do edifício,
Jazia a bela menina;
Imolada em sacrifício
Da união de um casal
Que vinha se dando mal,
Em momento bem difícil.

5. Nem marca de orifício,
Nem lesão pérfuro-contusa,
Nem qualquer membro quebrado
Nem rasgões em sua blusa
Nem desespero dos pais,
Mostravam quaisquer sinais
À testemunha confusa.

6. Nenhuma vizinha intrusa,
Do sexto ou de outro andar
Nem o porteiro do London 3
Chegou mesmo a escutar
Qualquer grito de Isabella,
Pois jogada da janela
Já morta devia estar.

7. Pôde-se verificar
Alguns momentos depois,
Que a menina viveu
Ainda um minuto ou dois
Depois do baque no chão.
Isso é fora de questão
Conforme a perícia expôs.

8. Por primeiro se supôs
Que a queda causara a morte
Em razão da grande altura
Causar um impacto forte.
Só depois disse a Polícia
Que os exames da Perícia
Apontavam outro Norte.

9. A queda selou a sorte
Da pequenina inocente
Já antes asfixiada
Talvez num louco repente
De quem vive de calmantes
Para domar os rompantes
Da natureza demente.

10. Pequeno pingo-de-gente
Belo rosto cativante.
Assim era Isabella
Cheia de vida, vibrante.
A sua fotografia
Mostra que sempre trazia
Um sorriso radiante

11. Não deixaram ir avante
De anjo, tão bela imagem.
Não deixaram que crescesse
Abreviaram a passagem
De Isabella pela terra
Mais uma vida se encerra
Tragada pela voragem.

12. Mas quem teria coragem
Do tão brutal desatino?
Seria o pai, Alexandre,
Em desvario assassino?
Seria Anna Carolina
Jatobá, a assassina
Para mudar seu destino?

13. Só quem viu foi o menino
Pequeno irmão de Isabella,
Que, de idade tão tenra,
Nem pôde ajudar a ela.
E para seu próprio bem
Não deve depor também
Pra não sofrer mais seqüela.

14. Só a polícia, só ela
Podia achar a verdade
Pelo método científico
E pela sagacidade
Em filtrar mais elementos
Dos tantos depoimentos
Feitos à autoridade.

15 Cercear a liberdade
Do casal antes da prova
Pareceu pré-julgamento
Que o Direito reprova
Por isso, o Tribunal
Julgou não ser racional
E aguardou coisa nova.

16. Agora, então, se renova
O pedido de prisão
De Alexandre e Carolina,
Se já há comprovação
Dele ter sido o autor
Da cruel morte... –que horror !
Da “filha do coração”.

17. Mas só caberá prisão
- Medida coercitiva -
Para evitar-se fuga
Em cautela preventiva
Pois sem flagrante delito
E antes do veredicto
Mais nada a prisão motiva.

18. Isso é prerrogativa
Pra se evitar excessos.
Ninguém será pré-julgado,
Ainda que réu confesso,
Sem uma ampla defesa.
Condena-se na certeza,
Após regular processo.

19. Não pode o povo, possesso,
Perder de todo a razão
E rebaixar-se ao nível
Do ignóbil cidadão
Que em fúria assassina
Praticou com a menina
Tão nefanda traição.

20. É dura a decepção
Pra nossa sociedade
Ter que admitir um pai
Capaz de tal crueldade
E ainda escreva um relato
Com frieza, sem recato,
Negando toda a verdade.

21. Que Deus tenha piedade
Desse pai desnaturado
E sua atual esposa
Pois o povo revoltado
Com a crueza do crime,
A sua revolta exprime
Querendo vê-los linchados.

22. Quando no supermercado
A imagem a gente vê,
Da tarde daquela data
Conforme mostra a TV,
Da família toda junta,
A gente até se pergunta
Sobre os motivos. Por quê?

23. Eu vou dizer a você:
Não posso, por mais que queira
Compreender a conduta
Do pai, já na quinta-feira
Escrever carta, na cela,
Dizendo amar Isabella
E defender a parceira.

24. E pra mãe, Ana Oliveira,
A tortura, a aflição,
Ao ver-se abruptamente
Em eterna expiação
Sem ter mais Sua Isabella,
Que era tudo pra ela...
Mais que o pai sofre prisão.

25. Só sabe da dimensão
Da dor da perda da filha
Pela mãe, Ana Oliveira,
O pai ou mãe de família
Que sofreu igual derrota
Como Massataka Ota 4
Que anda na mesma trilha.

26. A luz do sol já não brilha
Da mesma forma que antes
Pra quem sofreu perdas tais.
Os pensamentos distantes
Num passado... sem futuro
Ante os olhos sempre um muro
Oculta os risos radiantes.

J- Já não têm olhos brilhantes,
O- O tempo não traz bonança;
A- A vida transcorre lenta...
Q- Quando vêem uma criança
U- Uma lágrima vem aos olhos
I- Infindo pisar em abrolhos
M- Mas têm em Deus esperança.



______________
NOTAS DO AUTOR
1. 29 de março do ano 2008.
2. 193 é o telefone do resgate de acidentados
3. 6.º andar do edifício London é onde residiam o pai e a madrasta de Isabella, na zona Norte de São Paulo
4. Massataka Ota perdeu também seu filho, Yves Ota, que foi assassinado por seqüestradores

Comentarios

Adenor Monteiro de Souza   - 29/03/2023

Texto excepcional de riqueza poética inquestionável! Está de parabéns o autor pela gama de informações contidas neste belíssimo cordel, relatando tantos detalhes deste triste e trájico momento da nossa histórica sociedade brasileira...

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