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Cordel-->O GUERREIRO DE AXIXÁ -- 27/03/2009 - 03:08 (JOAQUIM FURTADO DA SILVA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O GUERREIRO DE AXIXÁ
(MARIANO DA BANCA)
- com autorização do homenageado -


1. Certas pessoas existem
Que esbanjam simpatia
Sorriem a toda hora
São dispostas todo dia
Mesmo na dificuldade
Refletem felicidade
Trabalham com alegria!

2. Há muito que eu não lia
Um relato tão correto
Escrito com maestria
Sem qualquer lance indiscreto
Não são muitos que têm chances
De ter de Edmilson Sanches
Um retrato tão completo.

3. Só um homem justo, reto,
Honesto, trabalhador,
Que distribui simpatia
Na banca de vendedor
Mereceu tal distinção
Ganhando larga menção
Da pena do escritor.

4. Nas linhas daquele autor
Passei uma hora imerso,
Redigitei o seu texto,
Busco transcrevê-lo em verso.
É a história, bem franca,
Do MARIANO DA BANCA;
Mesma história – sem reverso.

5. A cegonha achou seu berço:
Axixá do Tocantins.
Há tempos seus pais moravam
Naqueles ermos confins;
Em vida simples, pacata.
Mas com vizinhança ingrata
Viviam horas ruins.

6. Nem anjos, nem querubins
Protegeram seu José
Nem Maria Madalena,
Que era sua mulher.
Três filhos vieram ao mundo
(MARIANO foi segundo)
Criados com muita fé.

7. De manhã, puro o café,
Almoço e janta frugais
Pois a família era pobre
Sacrificada demais
Era triste ver a cena:
Ana Amélia, a mais pequena
Pedia: -Mãe, bote mais...

8. Viviam em boa paz
Até quando seu vizinho
Quis comprar as suas terras
Cultivadas com carinho
Por serem pequenos os filhos
Plantava mandioca e milho
Seu José sempre sozinho.

9. Volto no tempo um pouquinho
Na seqüência do relato
No dia 2 de novembro
Do ano setenta e quatro
Dona Madalena morre
Em vão o marido acorre
Com um remédio do mato.

10. Imagine-se o retrato
De dor daquela família,
Chora seu José Cardoso
Choram seus filhos e filha
No sofrimento medonho
Tentam pensar que é um sonho
Passam a noite em vigília.

11. Uma estrela já não brilha
Nas noites de MARIANO,
Quando perdeu sua mãe
Tinha apenas nove anos,
Pois conheceu os cueiros
A 05 de fevereiro
Foi 65 o ano.

12. O pai não mudou o plano
E prosseguiu na labuta
De plantar na sua terra
Cereal, legume e fruta
E até mesmo MARIANO
E Paulo, o outro mano
Tiveram de entrar na luta

13. O próprio pai os recruta
Para o trabalho na terra,
Nem um, nem outro reclama -
“O bom cabrito não berra”.
O pai vai fazer almoço
Faz salgado, faz insosso,
Um dia acerta, outro erra.

14. Aquela vida se encerra.
Quando o vizinho infeliz
Lhes toma parte da terra,
Pastos e porcos. Pois diz
Que aquilo tudo é seu.
Seu José nem respondeu
Nem recorreu a juiz.

15. Mudou para Imperatriz.
Deixou a vida da roça,
Adquiriu uma casa
E também uma carroça.
Pra homem trabalhador
A vida só tem valor
Se a dureza faz troça.

16. Cada dia a mais engrossa
Os calos tantos das mãos.
MARIANO cuida da casa -
Mais esperto que os irmãos
Quando o pai vai ao garimpo
Anos depois volta e, limpo,
Lar encontra. E os filhos sãos.

17. Ensinamentos cristãos
Não sei se os cultivou
MARIANO DIAS DA SILVA
Sei que muito trabalhou
Na idade adolescente
‘Inda projeto de gente
Casa e irmãos sustentou.

18. Nessa época estudou
Na Escola União,
Mesmo cansado da lida
Diária do ganha-pão,
Ali na Getúlio Vargas
Onde apanhava as cargas
Sem ajuda do irmão.

19. ‘Um homem sem profissão
Não é nada’, disse o pai
MARIANO isso ouvindo
Atrás de ofício vai
Pra que no futuro escape
Inscreve-se na DIMAPI
De casa ainda não sai.

20. Emprego do céu não cai.
MARIANO sabe disso
Então, no quintal da casa,
Na falta de outro serviço
Ele vai criar galinhas
Apesar de que não tinha
Qualquer sério compromisso.

21. Entretanto viu que isso
Não levava a bom destino,
Saiu de casa, pra ir
Pro Garimpo Clementino.
Desviou-se foi parar
Lá em Rondon do Pará
Confiando no seu tino.

22. Cometeu um desatino
Ao liderar uma greve
Mais de duas mil pessoas
Ele sozinho se atreve
Como cortador de cana
O patrão deu-lhe banana
Foi colocação bem breve.

23. MARIANO pegou leve
Não deu em nada seu grito...
Depois de ser despedido
Arrepende-se do agito
Resolve ir pra Belém
Mas pouco dinheiro tem
Come frutas e cheetos.

24. Ali ele fez bonito,
Cuidou de um homem doente
Que viajava a Roraima
E este, então, contente,
Convidou-o a ir junto
Se não virasse defunto
Decerto ia virar gente.

25. Foram dias diferentes
Dentro do barco-motor
MARIANO sempre ativo,
De pronto se apresentou
Para ajudar na lida
Do barco, só por comida
O que muito os ajudou.

26. Enfim, o barco chegou
Na cidade de Manaus
Já depois de cinco dias
Só olhando pés-de-paus
E água como paisagem;
Para ele era miragem
Do porto o reinante caos.

27. Calor de quarenta graus
Cuidou que fosse morrer
Apressou o novo amigo
Pr’ali não permanecer
E amparando o doente
Seguiram os dois em frente
Para a estrada percorrer.

28. Com dois dias, foram ter
À capital roraimense
Cidade de Boa Vista
Fundada por cearenses
Bem dividida, raiada,
Por avenidas cortada.
Que lugar bonito! Pense!

29. O astuto axixense
Não era tolo, nem nada
Não pensava em garimpar
Ficou de orelha ligada
Qualquer que fosse o emprego,
–Para ele era chamego
Topava qualquer parada.

30. Escutou logo a chamada
Feita em sua direção:
-Alguém quer ganhar dinheiro
Com carga de caminhão?
Apresentou-se ligeiro
Para o caminhoneiro
Garantindo o seu quinhão.

31. Nessa nova profissão
Própria para gente bruta,
Por ser jovem, agüentou,
Muitos dias de labuta
Tinha trabalho demais
Ganhou até cem reais
Por dia naquela luta.

32. A pessoa que é astuta
Se disposta pro trabalho
Não ojeriza serviço
Mete-se com ferro e malho
E MARIANO DA BANCA
Nunca foi de ‘botar banca’
Para lhe dar atrapalho

33. Não lhe botassem chocalho
Que não iria fugir
O estômago comandava
E na terra macuxi
Encontrou um Eldorado
Trabalho pra todo lado
Decidiu ficar ali.

34. Voltou, assim, a sorrir
Pra vida. E o seu amigo
Curou-se, afinal, do pé
Dispensou o seu abrigo
Cessado de todo o mal
Despediram-se, afinal
Cortou-se o cordão do umbigo.

35. E MARIANO, consigo
Pensava, já então só,
Serviço aqui não falta
É escolher o melhor
E trabalhou por dois anos
Com madeira e outros canos
Para o senhor JAÓ.

36. Sente na garganta um nó
Quando alguém se chega e diz
Que seu pai tinha morrido
Ligaram de Imperatriz
O choro logo rebenta
Nem pode vir. E lamenta
Esse momento infeliz.

37. -Foi assim porque Deus quis!’
Tentou logo consolar-se
Distante dois mil quilômetros
Era melhor conformar-se
Aos irmãos telefonou
E no trabalhou buscou
Do sofrimento a catarse.

38. E passou a concentrar-se
Com mais esforço e afã
No trabalho que fazia
Desde as sete da manhã
De noite, no seu terreiro
Ficava olhando o letreiro
Da construtora TERPLAN

39. Sonhava, de mente sã,
Em dirigir caminhões
Empregou-se na TERPLAN,
Sem aumentar os tostões.
Lavando carros,e de resto
Fazendo o que era honesto
Sonhando com seus botões.

40. Não conhecia senões
E sabia que o patrão,
José Barbosa da Silva,
Conhecido por BABÃO
Gostava do seu serviço
E lhe deu, sem compromisso,
Dirigir um caminhão.

41. Nessa mais nova função
Levando lubrificantes
Para lugares remotos
Em paragens bem distantes
Trabalhou por mais dois anos
Mas depois mudou os planos:
Garimpar áreas errantes.

42. Momentos interessantes
Vive todo garimpeiro
Pode bamburrar num dia
Ou passar um ano inteiro
Esquecido como pária
Só arranjando malária
Sem ter acesso a dinheiro.

43. Passado um semestre inteiro
MARIANO voltou liso,
Só quatro gramas de ouro
E malária, como aviso,
Que homem de mente aberta
Não se mete em coisa incerta
A não ser se for preciso.

44. Retomou de novo o siso
E abandonou a prosa,
Nunca mais foi ao garimpo
Chamado de Santa Rosa,
Nem nunca mais buscou ouro
Foi trabalhar como mouro
De novo pra seu Barbosa.

45. O bom trabalhador goza
Confiança do patrão,
MARIANO não falhara
Nem um dia na função
E por ser um bom sujeito
Foi novamente aceito
Por Zé Barbosa, o Babão.

46. Certo dia, seu irmão
Lhe telefona e lhe diz
Para vir rever a família
Não precisava, mas quis.
Afinal foi sempre afoito,
No ano noventa e oito
Voltou a Imperatriz.

47. Sempre sentiu-se feliz
Estar junto do irmão
E da irmã, igualmente,
Ainda mais neste chão
Que aprendeu a amar
Assim, deixou-se ficar
Buscou nova profissão.

48. Numa certa ocasião
A Imperatriz voltou
Viu EDNA MARIA RIOS,
Por ela se apaixonou
E num arrebatamento
Pediu-a em casamento
Pois não é que ela aceitou!?

49. Com EDNA, então, casou
Pela manhã - onze horas
E no início da tarde
Já partiu de rumo afora
Não teve lua nem mel 1
Perdeu o rumo do céu
Mais uma vez foi embora.

50. Seis meses ‘inda demora
Para a esposa rever
Mandou passagem pra ela
Ir pra Roraima viver
Junto a ele, pois já tinha
Para os dois uma casinha
Como era certo fazer.

51. Da união veio a ter
Uma filhinha somente
A pequena MARIANA
Ativa e inteligente
Já ajuda mãe e pai
E do seu pé nunca sai
Filha única, dependente.

52. MARIANO hoje se sente
Feliz e realizado
Com a família que tem
Esposa e filha a seu lado
Em meio a tanta conquista
Comprou banca de revista
Porém não ‘tá sossegado

J- Já tem imóvel quitado
O- O carro também é seu
A- Andou por tantos lugares
Q- Que afinal aprendeu
U- Uma esposa, filha, lar...
I- Imperatriz é o lugar
M- Mais lindo que Deus lhe deu.


* * * * *

NOTA
1 NEM LUA NEM MEL são palavras textuais de Edmilson Sanches, como aliás são também muitas das expressões e linhas, apenas aqui empilhadas em forma de estrofes.



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