Pelos púbicos, todos sabem, são aqueles pêlos privados que devem permanecer cobertos. Em uma palavra, pentelhos. Os demais poderíamos chamar de pelos públicos, por ser aceitável que fiquem à mostra. Mais ou menos. Ocorre que outro dia uma menina, uma moça, levantou o braço para acenar para um amigo e não pude deixar de ver. Toda uma cabeleira, ali onde o braço vira ombro, só que olhando por baixo. Numa palavra, o sovaco. A moça estava lá toda bonitinha com os braços baixos. Toda charmosinha, uma belezura. Para surpresa geral, quando ela deu o aceno para o amigo, foi-se todo o encanto.
Confesso que não pude deixar de estranhar. Preconceito ou não, a boa imagem que tive da moça foi-se com o aceno. Eu sei, preconceito puro. Se a cabeleira nos sovacos masculinos é aceita, porque não serve aos sovacos femininos? Por quê? Porque é horrível. Aliás, há alguns pêlos que não ficam bem em mulheres. Bigode. Se bigode não pode, cavanhaque e costeleta muito menos. Não fica bem.
Voltando à cabeleira subaxilar, é interessante notar que já não é raro encontrar-se mulheres que se recusem a eliminá-la. Não sei, mas continuo achando horrível. Embora reconheça justiça na pretensão, insisto em achar estranho. Se pelo menos ficassem ocultas sob as mangas, só para os mais íntimos, mas não. Elas fazem questão de acenar, mostrar sua rebeldia capilar.
Na realidade, não sei como isto começou, mas as convenções e o conceito de beleza prejudicaram as mulheres nesta questão dos pêlos. Começa nas pernas. As pernas femininas não podem ter pêlos, embora também nesta questão haja aquelas que resistam. Aí é um raspa, encera, depila do pé até em cima, na fronteira entre o púbico e o público, se bem que a fronteira está cada vez mais incerta.
Eu sei que isto de homem poder ter cabelo no sovaco e mulher não é mera convenção. Mas que eu saiba esta convenção tem pelo menos uns cinquenta anos. Não posso aderir aos novos tempos em nada menos do que uns dez anos de adaptação. Isto de olhar nas outras. Em casa, devo confessar que esta não cola. E nem Inajá iria aderir a uma mania destas.
Nos pêlos, como na vida, é importante distinguir entre o público e o privado.
Escrito em 09.08.2000
Publicado na Seção Comentários do Cidade Virtual Brasília em 09.09.2000 |
