Queria Tanto...
Lílian Maial
Queria tanto um amor, súbito, devastador,
sem sentido,
que me arrebatasse,
me desmaiasse,
me amassasse o vestido.
Queria que me encontrasse,
e me observasse à distância,
como alguém da mais remota infância.
Um alguém sorridente,
de covinha indecente,
que me dissesse nos lábios
o mesmo que meu peito.
Que me batesse nas veias
o mesmo fervilhar sem jeito.
Queria tanto amar ...
Sem culpa ou lugar, caminhar na calçada
- de mãos dadas -
ser feliz na orla,
na sorveteria,
no bar,
na drogaria.
Queria tanto saber que fiz alguém feliz,
que esse alguém sente minha falta,
que me procura nos desenhos das nuvens.
E toda essa falta, esse vazio,
me assusta e me derruba
nuns braços estranhos,
de calor fugaz,
de beijos sem gosto,
de pele sem cheiro,
de pescoço sem marcas, minhas marcas.
Queria tanto ser coisa,
não ter essa saudade imensa do que está por vir,
não sentir essa vontade do amor,
essa febre do gozo,,
essa sede de toque.
Queria não ter sentidos,
ser surda de tua voz,
cega de teus olhos,
muda de teus beijos,
anestesiada de tua pele.
Me bastasse uma vida contigo.
Me bastasse um minuto de ti.
Me bastasse...
Mas não chega.
Não são teus esses olhos,
essa boca,
esse cheiro.
Não é teu esse perfume de desejo,
que vejo nas flores,
que leio nas estrelas,
que exalo na lágrima.
Que não soubesse teu nome,
que não te visse os caminhos,
que não te entendesse os lamentos.
Mas sei tanto de ti,
que nem me sei mais nada.
Queria tanto, uma vez mais,
ser tua pra sempre,
mordida por teus dentes,
a égua que te aceita,
a cadela que te lambe,
a mulher que te acompanha.
Mas nem sou sua vadia...
Queria tanto o nosso canto,
ser tua amiga,
cuidar de tuas dores,
ser tua sábia,
mais que os doutores,
tua advogada (do Diabo),
tua soldada,
soldada em tua alma,
colada em tua boca,
até que nossas palavras fossem uníssonas.
Como eu queria,
apenas por um dia,
saber que me tiveste amor.
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