Perdoem-me por sentar,
eu venho de longe, muito longe,
mais longe que possam imaginar.
Eu venho andando pelo tempo,
viajando do futuro para o passado.
Permitam-me que coma,
eu tenho muita fome,
por onde passei, não havia
onde nem o que comer.
Permitam-me que beba,
Pois lá de onde vim,
não existe mais água.
As fontes, os poços e os rios,
Estão secos, poluídos, turvos
Ou então envenenados.
Perdoem-me por parecer velho,
quando sou tão jovem.
Mais jovem do que possam imaginar.
Eu não cheguei a nascer.
Pois não tive um útero para me gerar.
Talvez alguém diga não existir
nada a minha frente,
nesta minha viajem
do futuro para o passado.
No entanto eu afirmo,
que nada existe a sua frente,
meu passado seu futuro.
As gerações de hoje tudo destruiriam
Até o meu direto de nascer
(publicado em VALORES LITERARIOS DO BRASIL, Volume IV, 1986, Selecionados pela revista Brasilia)
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