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Contos-->O faraó brasileiro -- 24/11/2000 - 00:54 (Mauro de Oliveira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

O Faraó brasileiro

Márcio Torresvedra nasceu em Salvador, filho de emigrantes espanhóis. De família católica, logo cedo foi enviado ao seminário para seguir a vida religiosa. Após 6 anos de estudos e com 15 anos de idade, veio passar as férias com os pais. Durante as férias, juntou-se com um "Capitão de Areias", e este o convenceu de abandonar as virtudes da vida eclesiástica pelos prazeres da vida mundana. Enturmado com o que existe de pior em matéria de ordinário, deixou o seminário e perambulou por dois anos nos piores colégios de Salvador.
Aos 17 anos, depois de gozar os prazeres da vida em toda a plenitude, carregando consigo o apelido de "Márcio Canônico", decidiu mudar o rumo de vida. Voltou a estudar seriamente, conseguindo colar grau em Economia aos 23 anos. Seu tempo de Seminário dera-lhe uma boa cultura e junto com a Faculdade aprendera a falar fluentemente o Inglês.
A sua seriedade nos estudos nåo o desviou das atividades "normais" de conquistador e mulherengo. Em compensação, antes mesmo de colar grau, já estava completamente calvo. Para compensar a perda do cabelo, resolveu usar barba e bigode, em moda na época. Por conta da vida desregrada e do novo visual, foi castigado por Deus de incurável alergia à poeira.
Graças à inteligência e influência da família, conseguira um alto cargo em Brasília, e volta e meia estava representando o Brasil no exterior. Como vivia em verdadeira ponte aérea entre os estados do sul, fizera muitas amizades, principalmente no Rio, paraíso dos tecnocratas brasileiros. Foi lá que conheceu o Camilo Magalhães, nativo de Copacabana, funcionário do Itamarati, também dedicado a aventuras amorosas, gozador e especialista em conhecer danças eróticas, inclusive a do Ventre. De quando em vez, se reuniam em noitadas no Leme, onde trocavam idéias acerca do assunto comum a ambos. Quando o Canônico comunicou ao amigo que iria participar de um "Simpósio" em Roma, logo se lembrou que o companheiro poderia dar uma esticadinha até o Cairo. Com as sobras das diárias em dólares pagas pelo Governo, Canônico poderia conhecer o Mercado do Cairo, local muito atrativo, já que ali, era praticada a "iniciação" da Dança do Ventre. Entusiasmado com a idéia, Torresvedra calculou que as "migalhas" que sobrariam das diárias de uma semana, cerca de 5.000 dólares, dariam, para um pequeno estágio no Cairo.
Um mês após, pelas 17 horas, Márcio Torresvedra descia no Aeroporto do Cairo. Hospedou-se regularmente num 5 estrelas, e, antes mesmo de mudar de roupa, já olhava atentamente o mapa turístico para localizar o Mercado do Cairo. Planejou para o dia seguinte, às 10 horas da manhã, começar seu curso intensivo de observador estratégico de Dança do Ventre. No hotel sua alergia começou a protestar contra a poeira com uma série de espirros.
Na hora marcada, pegou um taxi e foi para o Mercado. No caminho, para proteger sua alergia, enrolou um chale branco em volta da cabeça e do rosto, ficando assim muito parecido com os nativos.
No mercado a poeira assobiava, já que as ruelas nåo eram calçadas.
Torresvedra, entre espirros, saiu a procurar a "Casa de Iniciação" da dança, conforme Camilo havia descrito. Após uma hora, só havia visto mercadores com trajes típicos e as bugigangas próprias de mercado público. De repente, um sistema de som começou a emitir palavras em árabe e os circunstantes se jogavam de joelhos encostando as cabeças no chão. A cada "ALAMA, ALAMA" levantavam e baixavam a cabeça em direção a Meca. Torresvedra ao ouvir as palavras no sistema de som, notou que todos os presentes devidamente caracterizados estavam ajoelhados e roçando as fuças no chão. Em princípio nåo ligou. Até que um tipo, com um cajado na måo, aos gritos, o obrigou a imitar os demais. Cada vez que Torresvedra encostava o nariz no chão, a alergia rebatia com um espirro. O homem do cajado estava na sua retaguarda, e toda vez que ele espirrava e levantava a cabeça, o velho batia-lhe com o cajado na poupança. Depois de 15 minutos, o som cessou e todos se levantaram. O brasileiro intrigado, também levantou-se e continuou espirrando. Logo foi cercado por islâmicos e ao que tudo indicava nåo estavam gostando da brincadeira. Para tentar se comunicar melhor, Torresvedra retirou o chale. Ao verem o rosto de Canônico, começaram uma gritaria infernal, quase partindo para a agressão. Espantado, Canônico procurou abrigo na loja em frente. Ao entrar, a surpresa foi maior ainda. Na parede da loja, havia um quadro pintado com uma figura tal qual seu rosto. Tentou fugir mas foi cercado. Sabia que seu pai nunca estivera no Egito e que lá nåo tinha
parentes. No entanto, aquele rosto era tranqüilamente igual ao seu.
- Tentou o dialogo. NADA!
Os homens de cajados foram tomando os espaços na loja, e já nåo havia dúvidas, nåo estavam com ares de bons amigos. - Márcio Torresvedra sentia a sólida refeição matinal descer perna abaixo em forma de líquido mal cheiroso e quente. No seu pensamento, prometera a Deus nunca mais olhar uma dançarina, se escapasse daquela fria. - Fora da loja a aglomeração já era grande. -Entre gritos, Torresvedra viu dois policiais entrarem. Nessa altura do campeonato, Canônico já nåo sabia se o que escorria era a refeição ou se o corpo todo estava desintegrando em suor. - Em Inglês, os policiais deram voz de prisão. Na chefatura local, contou a história aos policiais, mostrou o passaporte e documentos que comprovavam ser funcionário do Governo Brasileiro.
Após as confirmações dos dados, os policiais explicaram que aquele retrato estava em todas as lojas do mercado e da cidade do Cairo. Tratava-se de um retrato falado, de um vigarista Sírio, que se passara como descendente do Faraó e dera um grande golpe na praça. Recomendaram que fosse embora do Egito, para nåo passar por outros vexames. Quanto a "iniciação das dançarinas", os policiais afirmaram que nunca existiu a tal academia na cidade do Cairo.
No hotel, arrumando as malas para o amargo retorno, Márcio Torresvedra concluiu que baiano nunca deveria confiar em carioca, mesmo que fosse seu mais dileto amigo.

Mauro de Oliveira
17/08/87



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