Sou meio bicho, meio planta.
Renasço a cada primavera.
Não só porque completo mais um ano nesta existência, mas porque me sinto parte da natureza.
Também me sinto meio pólen, porque fui responsável por colocar no planeta mais dois seres no mês de setembro.Uma nasceu em 1985 e outro em 1987, filhos queridos meus.
Adoro fazer novos planos.
Mudar o visual. Pintar a casa e plantar flores.
Senão der para pintar a casa, pintar um móvel velho com cor de novo.
Vestir a cama com lençóis coloridos.
Tomar café ao ar livre.
Fazer um piquenique com toalha xadrez e cesta de lanches.
Na primavera vêm habitar no meu peito esperanças novas.
Celebrações ao milagre da vida se fazem urgentes no meu cotidiano.
Ebulições que estão como luz para fotossíntese.
As azaléias pintadas de púrpura me atraem para um sonho colorido, mesmo que efêmero como efêmera é a sua floração.
As orquídeas abundantes em tantos jardins me enternecem. Delicada e imponente flor, a orquídea.
Nesta época sinto uma pontinha de inveja dos orquidófilos, porque tenho uma plácida idéia do que é viver no meio destas flores.
Cada broto de árvore, carregado de essência da vida vale à pena ser admirado.
E as árvores que ficam coloridas e parecem de repente brotar quase que com insolência no meio das nossas florestas de mata atlàntica?
A primavera está para mim como o por do sol está para os apaixonados.
Como uma clara noite de lua cheia para divagar e sonhar.
A primavera está para mim como a água para o ser vivo.
Não posso prescindir dela.
Amo os céus do outono com cheiro de frutas, mas o milagre de renovação da natureza na primavera me impregna o ser.
Tento vontade de sair para a rua.
Andar descalça com um vestido amplo e colorido.
Caminhar, cantar, encontrar pessoas, abraçar e sorrir.
Esquecer que todos os dias tenho reclames e proclames para dar conta.
Romàntica?
Ora, a primavera está no ar.
